sexta-feira, 30 de julho de 2010

O enigma ALZHEIMER (1)


Descrita há mais de 100 anos, a doença neurodegenerativa constitui a causa mais comum de demência em idosos; cientistas se empenham para retardar sua evolução, conservar as funções intelectuais dos pacientes e testar novas vias terapêuticas

Por: Roland Brandt e Hartwig Hanser

Tübingen, Alemanha, 1906. O neuropatologista alemão Alois Alzheimer (1864-1915) apresenta em um congresso científico uma enfermidade psíquica que envolvia oscilações nos estados de ânimo e considerável perda de memória. Cinco anos antes, ele mesmo havia diagnosticado esse quadro mórbido em uma mulher de 51 anos, Auguste D.
No "estabelecimento para enfermos mentais e epiléticos" de Frankfurt, essa paciente, em momentos de lucidez, dizia sentir-se "perdida". Após sua morte, em 1906, em estado de alienação mental, Alzheimer examinou o cérebro dela e descobriu algumas formações compactas e outras filiformes. Intuiu que a causa das espetaculares alterações na personalidade residia naquelas formações. O médico entrou para a história da medicina, e a doença foi batizada com o seu nome.
Sabemos hoje que a doença de Alzheimer não é uma enfermidade exótica, mas a causa mais comum de demência entre adultos. Cerca de 35 milhões de pacientes em todo o mundo sofrem dessa doença que aflige quase 40% dos octogenários, e gera um enorme problema de saúde pública. Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, a doença continua incurável mais de um século após a sua descrição inicial.

Da revista Mente & Cérebro - Edição Especial da série "Doenças do Cérebro" n° 1, maio/2010




quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ética



Chamamos de Ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando.

O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando, chamamos de Caráter!

Oscar Wilde

"Copiado" do blog do Amauri.

Confira: http://amaurijp.blog.terra.com.br

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Em busca da causa das doenças mentais IV



[final]

por St
eve Ayan


M&C - Como isso supostamente ocorre?
S.B.
- O cérebro gasta de 20% a 30% da energia do corpo, apesar de representar cerca de 2% do nosso peso total. O metabolismo energético está sujeito a várias influências genéticas, e existem várias reservas escondidas que são acionadas só se a provisão de energia é interrompida. Nossa hipótese é de que o estresse oxidativo, que desencadeia falta de energia no cérebro, causa prejuízos que se transformam em sintomas psiquiatricamente relevantes.

M&C - Os procedimentos por imagem também podem ajudar a tornar visíveis os processos cerebrais patológicos?
S.B. - A sobreposição entre a atividade cerebral normal e patológica ainda é grande. Precisamos nos contentar com um baixo número de pessoas durante as séries de testes dentro dos tomógrafos. Em vista da vastidão dos sintomas, é difícil encontrar um denominador comum nos padrões de atividades de diversos pacientes.

M&C - Como os transtornos poderão ser mais bem classificados no futuro?
S.B. - Os sintomas psiquiátricos são pouco específicos para um ou outro transtorno. Com a ajuda de biomarcas talvez seja possível abrir o sistema diagnóstico que atualmente consiste em gavetas com etiquetas bastante difusas: esquizofrenia afetiva, transtorno psicótico e assim por diante.

M&C - Algumas pessoas acreditam que pesquisas como as suas falam a favor do determinismo biológico.
S.B. - Isso é bobagem. Como eu já disse: o ambiente, os genes e o comportamento se entrelaçam constantemente e de forma estreita. A indicação da base neurológica de transtornos psíquicos pode evitar preconceitos – pois não se trata de “devaneios cerebrais”. No entanto, não podemos compreendê-la como a única origem a que se podem atribuir os transtornos.


Do site: www.mentecerebro.com.br

Steve Ayan é psicólogo e redator da Gehirn&Geist
Do site: www.mentecerebro.com.br

terça-feira, 27 de julho de 2010

Em busca da causa das doenças mentais III


[continuação]

por Steve Ayan


M&C - Tudo isso soa como se a química cerebral, o ambiente e o comportamento estivessem entrelaçados demais para que pudéssemos separá-los. É isso mesmo?
S.B. - Bem, ninguém nunca afirmou que isso seria fácil. Mas hoje dispomos de métodos melhores para desvendar os caminhos dos sinais que podem determinar uma doença: da mutação e da leitura da informação genética, passando pelas proteínas resultantes desses processos até a atividade enzimática ou metabólica “patológica” que elas podem causar. Por isso acompanhamos no laboratório vários caminhos ao mesmo tempo. Começamos analisando o tecido cerebral de várias centenas de pacientes falecidos. Nesse caso, não se tratava de um gene ou proteína determinados, mas de perfis globais. Nos exames, registramos as diferenças entre os cérebros de pessoas doentes e saudáveis do grupo-controle. Assim, descobrimos que as mitocôndrias, as usinas produtoras de energia das células neurais, estavam claramente alteradas nos primeiros. Além disso, tanto nos esquizofrênicos quanto em doentes bipolares, a mielinização dos neurônios estava alterada. A mielina forma o isolamento dos axônios que transmitem os sinais nervosos. Essa foi a primeira prova de semelhanças entre os dois transtornos em nível celular.

M&C - Isso se refere à origem dos distúrbios ou apenas às suas consequências comuns?
S.B. - É difícil saber. Por isso é tão urgente esclarecer os mecanismos com exatidão. Se conseguirmos isso, poderemos um dia prevenir doenças possíveis em vez de simplesmente reagirmos terapeuticamente. Essa ideia me fascina.

M&C - E como a senhora age na prática?S.B. - Uma parte de nosso trabalho consiste em procurar relações estatísticas em quantidades gigantescas de dados, correlações entre sintomas de doenças e marcadores moleculares. Nós processamos aproximadamente 20 terabytes de dados por ano. As bases para tanto são amostras de pacientes de diversas idades, principalmente de sangue e líquido cerebrospinal, mas também tecido nervoso de mortos. Junto com Markus Leweke, no Hospital Universitário de Colônia, descobrimos que no líquido cerebrospinal de pacientes esquizofrênicos há baixa quantidade de glicose, lactato e outras substâncias que fazem parte do metabolismo.

Do site:www.mentecerebro.com.br

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Em busca da causa das doenças mentais II


[continuação]


por Steve Ayan


Mente&CérebroA senhora procura moléculas cerebrais que indiquem distúrbios psiquiátricos. Por que acha que há necessidade de recuperar informações neste caso?
Sabine Bahn – No fundo, nós não sabemos em que consiste a origem de graves transtornos como a esquizofrenia ou o transtorno bipolar. Nesse terreno, a medicina ainda está tateando. A maioria das descobertas sobre isso nos últimos 20, 30 anos remontam à efetividade de determinados medicamentos que muitas vezes foi descoberta por acaso. Várias substâncias desenvolvidas originalmente para tratar outras doenças modificam também a vivência dos pacientes: elas eliminam a ansiedade, por exemplo, reduzindo as alucinações. Até hoje, na maioria dos casos ainda não se sabe por que isso ocorre. Estou tentando esclarecer as bases moleculares desses distúrbios para que eles possam ser mais bem tratados.

M&C - Trata-se também de melhores diagnósticos?
S.B. - Sim, esse é o outro lado da moeda: os métodos atuais de diagnóstico são insuficientes em muitos quesitos: não se faz, para tanto, muito mais que observar as pessoas, conversar com elas e entregar-lhes questionários. Assim, não ficamos sabendo o que ocorre no cérebro de cada uma delas.

M&C - Na verdade, vários fatores contribuem para o surgimento de transtornos psíquicos. Por que a senhora voltou seus estudos para a biologia molecular?
S.B. - Existe um forte componente genético. No caso de gêmeos univitelinos, geneticamente idênticos, a probabilidade de um deles adoecer quando o outro é esquizofrênico ou bipolar, é de até 50%. O inverso também é verdadeiro, nem todos os que têm a predisposição genética adoecem de fato. A herança genética e o ambiente trabalham juntos nesse caso, e a isso se acresce o fato de que por trás da maioria dos transtornos se escondem provavelmente

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domingo, 25 de julho de 2010

Em busca da causa das doenças mentais I


Em entrevista para a Mente&Cérebro, a pesquisadora Sabine Bahn, diretora do Centro de Pesquisas Neuropsiquiátricas em Cambridge, conta detalhes sobre sua linha de estudo que investiga as causas de doenças graves como a esquizofrenia ou o transtorno bipolar
por Steve Ayan
©JURGEN ZIEWE/SHUTTERSTOCK

Mesmo depois de muitos anos de pesquisas para descobrir a real causa de alguns distúrbios mentais, os cientistas ainda não têm certeza da origem de graves doenças como a esquizofrenia ou o transtorno bipolar. Em entrevista para a Mente&Cérebro, a pesquisadora Sabine Bahn, diretora do Centro de Pesquisas Neuropsiquiátricas em Cambridge, conta detalhes sobre sua linha de estudo que investiga as causas da patologia. Suas pesquisas se baseiam em análises de proteínas, entre outros métodos biomoleculares. Por meio deles ela espera descobrir alterações no cérebro de pessoas com doenças mentais graves.

À primeira vista, o ambiente de trabalho da neuropsiquiatra parece ser exatamente como se imagina um laboratório de biólogos moleculares: uma confusão de cabos e tubos espalhados por todos os lados; aparelhos com nomes impronunciáveis ligados e computadores de última geração zunindo constantemente. Somente em um segundo momento é possível enxergar um ponto de azul-celeste e outro cor-de-rosa brilhando entre os armários. “Quando nos mudamos para cá há cinco anos, mandamos colorir as paredes”, revela Sabine Bahn, diretora do Centro de Pesquisas Neuropsiquiátricas em Cambridge. Sabine nasceu em Freiburg, na Alemanha, mas durante o doutorado passou a trabalhar na “universidade da elite britânica”, como ela mesma diz. Hoje, aos 42 anos a cientista está entre os pesquisadores que trabalham para descobrir novas doenças psiquiátricas. Por meio da análise de proteínas e de outros métodos biomoleculares, Sabine procura biomarcas no cérebro que forneçam informações sobre o surgimento e o desenvolvimento dos transtornos psíquicos.

A dificuldade: nenhuma outra parte do corpo é tão complicada quanto o cérebro. A pesquisa de Sabine, portanto, se assemelha à busca de uma agulha no palheiro – sendo o palheiro, neste caso, composto por milhares de proteínas e metabólitos, mensageiros e cascatas de sinais que se influenciam mutuamente. Veja na entrevista exclusiva à Mente&Cérebro por que ela acredita que suas descobertas podem ser o futuro da neuropsiquiatria.

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sábado, 24 de julho de 2010

Usar vermelho ajuda a vencer


Cor favorece desempenho físico e aumenta as chances de competidor ganhar disputa esportiva
© Kochergin/Shutterstock

Mesmo sem base científica, muita gente acredita que usar peças vermelhas aumenta a energia e “acelera” o desempenho das pessoas em geral. Um estudo novo realizado por pesquisadores do Departamento de Psicologia do Esporte da Universidade de Münster, na Alemanha, reforçou cientificamente a hipótese. Segundo ele, vestir de roupas dessa cor aumenta as chances de vencer uma disputa esportiva. Os cientistas observaram 42 atletas de diversas modalidades durante torneiros usando uniforme vermelho e outros 42 usando azul. Resultado: esportistas de escarlate tiveram 13% mais vitórias do que os do outro grupo. Segundo os pesquisadores alemães, o resultado tem explicação: o cérebro humano faz uma leitura das cores, reunindo informações sobre a frequências de ondas recebidas esses dados são armazenados na memória. Quando nossos olhos vêem a cor vermelha, envia estes estímulos ao cérebro que reage intensificando nosso poder de percepção, contribuindo para que a pessoa fique mais alerta e focada em seu objetivo – no caso de uma competição, por exemplo, é obter o melhor desempenho possível.

Os cientistas também suspeitam que o uso do vermelho, de alguma forma, inibe a ação dos outros concorrentes, sem que eles mesmos tenham consciência clara desse processo. Eles reconhecem, porém, que essa possibilidade ainda precisa ser mais bem compreendida. Há alguns anos, antropólogos da Universidade de Durham, no Reino Unido, avaliaram os jogos das Olimpíadas de Atenas, em 2000, e também constataram o poder do vermelho no desempenho dos atletas. Observando aqueles que tinham características e preparo físico equivalentes, verificaram que os que usavam uniforme vermelho obtinham melhores resultados. Até que ponto usar esse tom favorece o desempenho de pessoas comuns, no dia a dia, em situações de trabalho, porém, ainda é um mistério, mas muitos psicólogos e consultores acreditam que comparecer de roupas vermelhas em entrevistas de empregos mais atrapalha que ajuda.

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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Convívio com animais favorece sistema imunológico

Convívio com animais favorece sistema imunológico e reduz estresse
Acariciar um cão pode elevar os níveis de anticorpos que evitam a proliferação de vírus e bactérias
© HannaMonika/Shutterstock

A convivência com animais de estimação pode contribuir não só para o bem-estar psicológico, mas também para a prevenção e tratamento de várias patologias. A conclusão tem como base a revisão de estudos nacionais e internacionais sobre o tema, realizado por pesquisadores do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo (USP), liderado pelo professor César Ades. Os cientistas destacam, por exemplo, a melhora da imunidade de crianças e adultos, a redução dos níveis de estresse e da incidência de doenças comuns, como dor de cabeça ou resfriado. O objetivo do mapeamento, encomendado pela Comissão de Animais de Companhia (Comac), integrante do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), era enfatizar informações relevantes e pouco conhecidas sobre os benefícios sociais, psicológicos e físicos na relação entre o homem e o animal.

De acordo com o levantamento, as vantagens independem da idade. Os pesquisadores da USP citam, por exemplo, um trabalho que identificou vários benefícios aos bebês que convivem com cães. Certas proteínas que desempenham um importante papel na regulação do sistema imunológico e das alergias aumentam significativamente em crianças de um ano quando expostas precocemente à presença de um cão. Segundo a pesquisadora Carine Savalli Redígolo, este trabalho mostra que o convívio possibilita aos bebês ficar menos suscetíveis às alergias e dermatites tópicas. “Também foi observada a redução de rinites alérgicas por volta dos 4 anos e dos 6 aos 7, devido à redução da imunoglubina E, um anticorpo que quando em altas concentrações sugere um processo alérgico”, afirma. De acordo com a pesquisa ainda há resistência de pessoas com filhos pequenos adquirirem um animal de estimação: 44% das residências que têm pelo menos um pet são de casais com filhos jovens ou adolescentes; este número cai para 16% quando se trata de famílias com crianças até 9 anos. Um gesto simples pode trazer importantes efeitos ao sistema imunológico de pessoas de qualquer idade. “Acariciar um cão pode elevar os níveis de imunoglobulina A, um anticorpo presente nas mucosas que evita a proliferação viral ou bacteriana, sendo importante na prevenção de várias patologias. Este resultado se deve, possivelmente, ao relaxamento que o contato com o animal proporciona”, explica Carine.
Outros estudos identificados pelos pesquisadores da USP também avaliaram as taxas de sobrevivência, no ano posterior a um infarto agudo do miocárdio, em donos de cães, gatos e outros animais de estimação e em pessoas que não possuíam bichos. Segundo os pesquisadores, depois de determinado período, verificou-se que a posse de um cão contribuiu significativamente para a sobrevivência dos pacientes, pelo menos no ano seguinte ao incidente. Já no controle de hipertensão arterial, os estudos também apontam benefícios. Profissionais que viviam em condições de estresse e faziam controle do problema com medicação foram divididos em dois grupos: os que tinham cachorro ou gato e os que não possuíam animais. A pesquisadora Maria Mascarenhas Brandão afirma que, seis meses depois do início do monitoramento, foi constatado que as taxas de pressão sanguínea diminuíram para ambos os grupos. Entretanto, nas situações geradoras de estresse a resposta foi melhor para os donos de cães. Além disso, este grupo aumentou significativamente suas taxas de acertos em contas matemáticas, em relação àqueles que não possuíam os animais.

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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Biblioteca em casa deixa crianças mais inteligentes


Estudo mostra que a quantidade de livros que os pais oferecem aos filhos desde que são pequenos pode influenciar diretamente o desenvolvimento da capacidade cognitiva
por Luciana Christante
© peter cadê/icônica/getty images
Estimular a leitura na infância contribui para melhorar o vocabulário, exercitar a imaginação e ampliar a noção temporale espacial
Um grupo de sociólogos das universidades de Nevada em Las Vegas e da Califórnia em Los Angeles realizou o maior estudo internacional sobre a influência dos livros na educação escolar. Os resultados mostram que, independentemente do nível educacional dos pais, do status socioeconômico e do regime político, quanto mais livros houver em uma casa, mais anos de escolaridade atingirá a criança que crescer nela. Participaram do estudo mais de 70 mil pessoas de 27 países, entre os quais Estados Unidos, China, Rússia, França, Portugal, Chile, África do Sul (o Brasil não foi incluído). A conclusão foi publicada na revista Research in Social Stratification and Mobility.
No artigo, os autores explicam que o nível cultural e educacional dos pais também influencia a escolaridade atingida pela prole, mas nesse caso a correlação é mais fraca do que com o tamanho físico do acervo familiar de livros. Os resultados mostram também como o gosto pela leitura tende a diminuir diferenças sociais. Nos lares mais modestos, o efeito de cada acréscimo ao acervo no futuro acadêmico da criança é mais acentuado do que a adição de um volume a uma biblioteca mais ampla. Apesar de a tendência ter sido observada em todos os países, houve diferenças importantes entre eles.
Nos Estados Unidos, na França e na Alemanha, uma biblioteca com cerca de 500 volumes representou acréscimo de dois a três anos na escolaridade das crianças, comparando com uma casa sem livros. Na Espanha e na Noruega, o número saltou para até cinco anos e na China atingiu o máximo, entre seis e sete anos.
Segundo os pesquisadores, o regime comunista poderia explicar o resultado chinês, pois em um país onde há mais restrições à liberdade individual os livros seriam bens culturais ainda mais valorizados pela família. O mesmo raciocínio poderia se aplicar aos números semelhantes verificados em países do Leste Europeu (que formavam o bloco comunista) e a África do Sul, que viveu décadas sob o apartheid. Os casos analisados foram de pessoas que cresceram em meio a esses regimes. “A leitura é uma ótima fonte para os oprimidos, seja qual for sua cor, seus opressores e as circunstâncias históricas”, escreveram.
O estudo é uma prova irrefutável de que “uma casa onde os livros são valorizados fornece à criança ferramentas que são diretamente úteis no aprendizado escolar, como vocabulário, imaginação, amplo horizonte em história e geografia, a compreensão da importância da evidência no argumento, e muitas outras”. E confirma os famosos versos de Castro Alves, do século 19: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros... livros a mão-cheia.../ E manda o povo pensar!/ O livro caindo n’alma/ É germe – que faz a palma./ É chuva - que faz o mar.

Luciana Christante é farmacêutica e jornalista científica.

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Medo deflagra preconceitos


Pesquisa indica que racismo pode estar ligado a sentimentos negativos, já as opiniões sobre gênero estão apoiadas, principalmente,em conteúdos aprendidos
por Luciana Christante


Um estudo realizado com crianças com síndrome de Williams-Beuren (SWB), uma rara doença genética que retarda o desenvolvimento mental, mostra que nem todo preconceito se apresenta da mesma forma no cérebro. Além de não conhecerem o significado da desconfiança e de não sentirem receio de ser rejeitados socialmente, os participantes do estudo se mostraram indiferentes à classificação de cor de pele.

Com a ajuda de pequenas histórias sobre pessoas fictícias, o pesquisador Andreas Meyer Lindenberg, do Instituto para a Saúde Mental, em Mannheim, na Alemanha, analisou quais
características os voluntários, entre 5 e 15 anos, associavam a imagens de pessoas, levando em consideração a cor da pele. A cada apresentação, os pequenos recebiam duas figuras e deveriam mostrar – de acordo com seu julgamento – com qual pessoa a descrição combinava. A cor da pele praticamente não desempenhou nenhum papel no julgamento quando associada a descrições como: “mentiroso”, “violento” ou “simpático”. Porém, típicos clichês relacionados aos gêneros (masculino e feminino), como um interesse especial por futebol ou por cozinha, foram claramente identificados nas avaliações.

Estudos similares realizados com crianças saudáveis em idade pré escolar, em diversas partes do mundo, sugerem que pessoas com cor de pele mais escura sempre despertam reações mais negativas. Medições da atividade cerebral dos voluntários mostraram que eles apresentam fortes reações na amígdala (uma das áreas cerebrais responsáveis pela associação e elaboração de percepções e emoções) ao deparar com indivíduos negros. A síndrome de Williams-Beuren, porém, afeta conexões de algumas regiões do cérebro, incluindo a relacionada ao reconhecimento facial. Para Meyer- Lindenberg, os resultados encontrados indicam que o racismo têm, em geral, cunho sentimental negativo, enquanto opiniões sobre gêneros estão apoiadas, principalmente, em conteúdos aprendidos.

Da revista Mente & Cérebro n° 210, de julho/2010

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terça-feira, 20 de julho de 2010

Fez sucesso?

Fez sucesso? Agradeça aos seus pais!
Pesquisadores do Reino Unido descobriram que resiliência, capacidade que faz com que as pessoas vençam frustrações e buscar superação é – em grande parte – hereditária

© Morgan Lane Photography/Shutterstock

Grandes vencedores – como o ciclista Lance Armstrong, que se recuperou de um câncer de testículo e venceu o circuito da França sete vezes – são naturalmente resistentes do ponto de vista psíquico. A resiliência (ou habilidade para se recompor psicologicamente) tem chamado muito a atenção de neurocientistas e psicólogos nos últimos anos. A novidade agora é que essa capacidade necessária para lutar contra uma doença grave, se recuperar de uma desilusão amorosa, vencer nos esportes, ser aprovado no vestibular ou em uma entrevista de emprego pode, em grande parte, pode ser herdada. É o que sugere um estudo desenvolvido pelo pesquisador Tony Vernon, da Universidade de Western Ontário, no Canadá, que trabalhou com 219 pares de gêmeos. Ele pediu aos voluntários que preenchessem um questionário para que pudesse investigar as contribuições genéticas e ambientais de quatro fatores associados a resistência mental: controle sobre a própria vida, comprometimento; confiança; e disposição para encarar novos desafios. Os estudiosos descobriram que 52% da variável resistência mental é hereditária e também pode estar relacionada à extroversão. “Essas pessoas são mais resistentes, não se deixam abater diante de adversidades e frustrações”, diz o pesquisador Peter Clough, da Universidade de Hull, no Reino Unido, que desenvolveu o questionário. Especialistas ressaltam, porém, que não se trata de simplesmente negar o sofrimento e a decepção, emendando um relacionamento amoroso em outro, por exemplo, sem viver o luto da separação – pois isso pode trazer outros problemas como repetição de padrões destrutivos e aparecimento de sintomas físicos. Pessoas resilientes entram em contato com a frustração, mas não permanecem na bipolaridade do “tudo ou nada”, mas buscam reparações e caminhos, sem perder o contato com a experiência, embora às vezes ela seja desagradável. Ou seja: aceitam o aprendizado e a limitação, mas não se prendem à limitação, procuram possibilidades. Pesquisadores acreditam que compreender melhor essa característica mais presente em uns que em outros pode ajudar as pessoas de forma geral a lidar melhor com o sofrimento.

Da revista Mente & Cérebro n° 210, de julho/2010

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Para aprender outro idioma VII

por Jan Dönges
Divulgação
NO PALCO: Peça encenada na escola Cultura Inglesa, em São Paulo, com o objetivo de facilitar o aprendizado.


[continuação]


Experiência lúdica

Susanne Even dá um passo à frente ao mandar seus alunos da Universidade
de Indiana fazer teatro. O “gramaticodrama” se baseia na abordagem pedagógico-dramática desenvolvida por Manfred Schewe, da Universidade de Cork, na Irlanda. “Não apenas representamos, buscamos formas próprias e corretas de dizer ‘o que o outro disse’, trabalhamos com o discurso indireto e exercitamos as construções de frases em variadas situações.” A proposta privilegia também a experiência lúdica: os alunos se preocupam com vários aspectos como expressão corporal e a interação com os outros, deixando de lado a timidez. A pesquisadora ainda não tem dados comparativos sobre o método, mas tem esperança de que, de forma mais descontraída, os estudantes finalmente aprendam uma língua estrangeira de maneira prazerosa e efetiva.


Da revista Mente & Cérebro n° 210, de julho/2010

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domingo, 18 de julho de 2010

Para aprender outro idioma VI


por Jan Dönges

[continuação]

Por isso, a didática de línguas estrangeiras tem se concentrado, nos últimos tempos, nos estilos pessoais de aprendizagem. E para não perder (tantos) alunos os cursos buscam, cada vez mais, atender a essa diversidade.
Os mais velhos, muitas vezes, já estão acostumados, desde crianças, a declinar e conjugar. “Após alguns anos de aulas na escola, a maioria tem pelo menos uma idéia bastante exata daquilo que constitui uma boa aula”, diz Riemer. Esses alunos não confiam apenas em exercícios de conversação e exercícios de grupo, preferem tentar sanar seus problemas orais com lições de gramática – e quase sempre acabam caindo em um círculo vicioso, diz Sylvia
Fischer, da Universidade de Modena, que estudou o tema em seu doutorado
e entrevistou estudantes italianos sobre a causa de sua inibição em aula. Ela percebeu que a fixação em regras linguísticas estimula uma postura mais
dura em relação aos próprios erros. Uma aula que, em grande parte, se compõe de exercícios de conversação em grupo, é proveitosa quase que exclusivamente para pessoas com pouca dificuldade em conversação.

Como saída para esse dilema, existe uma estratégia dupla que associa abordagens especificamente comunicativas às formas clássicas, que valorizam a gramática. Alega-se que essa estratégia deixa espaço suficiente para ensinar todo o conhecimento teórico necessário e também ajuda a “soltar a língua” dos
alunos e a eliminar o medo de se expor –e errar. A chamada aprendizagem
voltada para situações práticas (como se comunicar com o garçom, conversar
com funcionários do aeroporto, pedir informações sobre pontos turísticos
etc.) segue esse princípio na medida em que – em cada situação relevante do cotidiano – é possível aprender. O conceito central aqui é deixar claro que as formas gramaticais não têm um fim em si é fundamental que tenham aplicação prática.

Da revista Mente & Cérebro n° 210, de julho/2010

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sábado, 17 de julho de 2010

Para aprender outro idioma V


por Jan Dönges

[continuação]


A pesquisadora Claudia Riemer, que realiza estudos na Universidade de Bielefeld na área de didática de línguas estrangeiras, também reconhece o problema: “Aprender uma língua estrangeira é uma situação de enorme complexidade para o cérebro. Não é possível fazê-lo sem nenhuma atenção focada em determinadas regras”. Outros métodos não tiveram melhor destino. Assim, entre os pesquisadores foi se estabelecendo cada vez mais a idéia de que, infelizmente, praticamente todos os conceitos que deixavam explicações gramaticais de fora, em algum momento, se mostravam inadequados. Apenas sair falando funciona, no máximo, para os primeiros passos em uma nova língua.

Por enquanto, ninguém descobriu o método com o qual a aprendizagem de línguas finalmente se tornará uma agradável brincadeira de criança para qualquer pessoa. Mas sejamos sensatos: é bastante improvável que algum dia exista um truque assim, já que as pessoas têm formas diferentes de apreender informações e resolver problemas. As demandas também são diversas. Uns querem apenas falar e se comunicar sem grandes vexames, outros têm excelente memória para vocábulos, mas fracassam ao construir uma frase – e, por fim, há as pessoas que encontram prazer em folhear os livros de gramática, sentem-se mais seguras assim. Além disso, o aprendizado (e consideramos aqui que aprender é mudar formas de comportamento e compreensão de si e do outro) requer formação (ou ativação) de redes de neurônios. Adquirir conhecimento complexo, como um idioma, significa, portanto, alterações da anatomia cerebral.

Da revista Mente & Cérebro n° 210, de julho/2010

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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Para aprender outro idioma IV


por Jan Dönges

[continuação]

Nos anos 70, o “método natural” do professor de espanhol Tracy Terrell e do linguista Stephen Krashen, da Universidade do Sul da Califórnia, fez sucesso. Eles se concentraram completamente na comunicação e tomaram como modelo de reflexão a seguinte questão: línguas estrangeiras devem ser aprendidas como foi aprendida um dia a língua materna por meio da fala – e, principalmente, pela audição. Krashen e Terrell partiram do princípio de que um mecanismo cerebral específico lhes permitia aprender a própria língua materna. A fim de ativá-lo novamente, o planejamento do curso deve se orientar exatamente pela ordem em que as crianças também adquirem novos conceitos linguísticos. Ou seja: segundo os estudiosos, os alunos expandem suas capacidades principalmente quando ouvem construções de frases que sempre estão um pouco acima de sua capacidade momentânea (como uma criança pequena que aprende a falar).

Seria esse então o modelo de um curso de língua mais próximo do ideal, capaz de proporcionar aprendizado fácil e ao mesmo tempo efetivo? Por mais plausível que pareça à primeira vista, o “método natural” de Krashen e Terre mostrou-se ingênuo demais: muitos professores de línguas que o seguiam logo deixavam totalmente de lado o cansativo ensino de regras gramaticais. “Muitas escolas e até universidades optaram por descartar a gramática, mas mesmo depois de anos vários estudantes ainda estavam no nível do ‘eu vai’”, comenta Susanne Even.

Da revista Mente & Cérebro n° 210, de julho/2010

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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Para aprender outro idioma III


por Jan Dönges

[continuação]

Chovem críticas ao método de gramática e tradução – e elas não são recentes. Justamente por esse motivo,já em 1882 o professor Wilhelm Viëtor (1850-1918), em seu panfleto polêmico “A aula de línguas deve ser transformada!”, atacou a prática comum naquela época. Ele obteve grande apoio e, a partir de então, muitos educadores e linguistas passaram a dar mais valor ao domínio oral do idioma. A questão que os intrigava naquela época e de certa forma permanece até hoje é: como é possível ensinar as pessoas a falar outra língua corretamente sem que seja necessário dedicar anos a fio para isso?

A grande busca por alternativas que se iniciou desde então na didática se assemelha à tentativa de atirar em um objeto em movimento. Como quase não há pesquisas próprias e sistemáticas, qualquer mudança na tendência das “disciplinas de base” – psicologia, linguística e pedagogia – cedo ou tarde também culmina em um procedimento didático próprio, enquanto a subestrutura teórica acaba com os antigos conceitos de aprendizagem de línguas. O “método áudio-oral”, por exemplo, no qual frases e estruturas são treinadas à perfeição por meio de sua constante audição e repetição, foi celebrado como uma verdadeira revolução na metade do século XX, levando, entre outras coisas, à divulgação dos laboratórios de línguas. Como, no entanto, ele se apóia em uma psicologia do aprendizado hoje já ultrapassada, a maioria dos pesquisadores se distanciou dele.

Da revista Mente & Cérebro n° 210, de julho/2010

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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Para aprender outro idioma II


por Jan Dönges

[continuação]

É claro que há o caso de crianças que crescem em um país estrangeiro e aprendem a língua de seu ambiente sem grandes dificuldades. E avanços na psicologia e linguística poderiam ajudar a transferir mecanismos de aprendizagem semelhantes para o mundo adulto. Por trás disso não está apenas o argumento promocional de poupar os alunos do grande trabalho de aprender gramática. Pesquisadores, por sua vez, reconhecem a necessidade de adoção de modelos mais eficazes e menos penosos, já que prevalece o consenso de que nada se ganha apenas com o ensino de regras.

EM ZIGUE ZAGUE

O que precisa ser transformado é o chamado método de gramática e tradução – pelo qual, ainda hoje, boa parte dos livros didáticos se orienta –, que vem dos tempos primordiais do ensino metódico de línguas. Ele é o consenso fundamental, o protótipo da aula de língua estrangeira de qualquer conceito pedagógico. A bem da verdade, em sua forma pura hoje é encontrado apenas em casos de exceção, mais provavelmente nas aulas de latim: devem-se construir frases na língua estrangeira ou traduzir textos para a língua materna com caneta e papel, pois os alunos só vão falar (se isso acontecer) bem mais tarde.

Obviamente o que ainda é sustentável no caso das línguas mortas certamente fracassará com o inglês ou o francês. “Nesse processo, os alunos não absorvem muito mais do que um conjunto de regras abstratas. Isso, porém, não ajuda em nada o uso da língua: dessa forma, os estudantes não conseguem transformar seu conhecimento linguístico em uma forma útil para a comunicação”, diz a pedagoga Susanne Even, da Universidade de Indiana em Bloomington.

Da revista Mente & Cérebro n° 210, julho/2010

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terça-feira, 13 de julho de 2010

Para aprender outro idioma I


Apesar das promessas de métodos “fáceis” de ensino de línguas para adultos, pesquisadores garantem: maioria dos casos é preciso dedicação e coragem de se arriscar a errar, pois esse tipo de aprendizagem requer a formação de novas redes neurais – o que requer tempo e treino
por Jan Dönges
© reggie casagrande/getty images

O domínio de uma língua estrangeira, em especial o inglês, é uma exigência cada vez mais frequente nas empresas. A maior parte dos candidatos às vagas, por sua vez, atesta no currículo que fez cursos – o que em geral é verdade. Mas, na prática, são poucos os que sustentam uma entrevista mais detalhada em outro idioma ou mantêm uma conversação em inglês sem grande esforço. Para muitos prevalece a sensação de só cometer um erro após outro. E o pior é que a insegurança quanto à gramática e o medo de cometer equívocos terminam por comprometer as possibilidades de acerto. Em muitos casos, nem mesmo anos de aula mudam essa situação.

Talvez por isso pareça, para tanta gente, tão sedutora a proposta de eliminar as antigas tradições no ensino de línguas estrangeiras e investir em novos métodos, mais rápidos eficazes.

Os livros, CDs e DVDs para autodidatas ou prospectos de escolas particulares sempre voltam a afirmar veementemente que tudo o que precisamos é uma abordagem correta. E o melhor: podemos nos livrar com certeza das horas de estudo em casa, das listas de vocabulário, do jargão linguístico! Verdade? Especialistas acreditam que não. Principalmente quando se trata de adultos, nada substitui o trabalho duro.

Da revista Mente & Cérebro n° 210, de julho/2010

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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Agora é mirar 2014!!!

Atenção motoristas!!!

Última alteração no

Código Nacional de Trânsito:

Foi criada uma nova placa de ADVERTÊNCIA!!!




Preste muita atenção!!!

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Empatia do médico ajuda na recuperação do paciente


Pesquisas mostram que doentes que se sentiam mais amparados se recuperam com maior rapidez de resfriado. Estudo foi realizado pela Escola de Medicina e de Saúde Pública da Universidade de Wisconsin

© jacob wackerhausen/istockphoto

Quando alguém presta atenção em nossas preocupações e sentimentos, nós nos sentimos melhor – e essa empatia parece ser benéfica para tratamentos de saúde. Pesquisadores da Escola de Medicina e de Saúde Pública da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, relatam no periódico Family Medicine que pacientes tratados por médicos que demonstraram interesse por eles tiveram o período de resfriado reduzido em um dia se comparados com os demais pacientes. A empatia ajudou a melhorar também o sistema imune desse grupo. Houve uma relação direta entre o índice empático e o de interleucina 8 (IL-8), substância química que leva as células do sistema imune a lutar contra micróbios.

Luciana Christante é farmacêutica e jornalista científica

Da revista Mente @ Cérebro n° 209, de junho/2010

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domingo, 11 de julho de 2010

A re-evolução dos bichos


A tradição humana de usar e abusar da vida, seja animal ou vegetal, levou o planeta à degradação, mas novos hábitos e avanços científicos podem mudar este quadro

Arca de Noé, óleo sobre tela, Edward Hicks, 1846, Museu de arte da Filadélfia

A busca da característica capaz de nos distinguir de outros animais é tipicamente humana. Assim como outros bichos, namoramos, procriamos, evitamos predadores e matamos para comer. A novidade dos últimos 10 mil anos foi a domesticação de animais e plantas, cujos usos vão muito além da simples fonte de alimento. Utilização implícita no mito da arca de Noé, verdadeiro banco de genes salvo do dilúvio para o bem do homem. Mas, quando Moisés desceu da montanha, o mandamento “não matarás” foi aplicado apenas aos membros da própria tribo. Todos os demais seres continuaram a representar mero recurso para exploração.

Há base científica para definir quais animais podem ser usados pelo homem e quais devem ser resguardados? O cérebro do rato pesa dois gramas, o do homem alcança 1,4 kg. No entanto, todas as principais estruturas cerebrais humanas estão presentes no roedor. Por algum tempo acreditou-se que nossa singularidade fosse o dom de adquirir linguagem. Nas últimas décadas, contudo, verificou-se que seres tão distintos quanto canários, morcegos e elefantes possuíam capacidade de aprendizado da comunicação. Propôs-se então que somos os únicos com habilidade para utilizar símbolos. Entretanto, observações etológicas demonstraram que a simbolização ocorre em populações selvagens de primatas, bem como em aves e mamíferos treinados por seres humanos.

Embora a consciência persista inexplicada, já não é possível sustentar que somos os únicos a tê-la. Mesmo assim, amamos e matamos a torto e a direito. Ratos usados em larga escala para pesquisas, superlotação de frangos abatidos em série, vacas sagradas na Índia mutiladas em farras ibéricas. Nossos melhores amigos não escapam da contradição. Cães servem de almofada para madames de bairros nobres, mas na Coreia viram churrasco. Se os gatos foram deuses egípcios, na comunidade da Mangueira, no Rio de Janeiro, servem de tamborim. A vida livre não garante melhor sorte. Magníficos leões, elefantes portentosos, colossais baleias e chimpanzés inteligentes são objeto de admiração, mas isso não os protege de serem destroçados por carne, osso ou veneno antimonotonia. Nada que surpreenda, pois assim tratamos nosso semelhante. O cárcere revela o quanto podemos negligenciar o bem-estar alheio. A escravidão e a tortura ainda são comuns em quase todo o planeta. Linchamentos e chacinas acompanham a espécie desde seu início. Que o diga Jesus Cristo.

O hábito de usar e abusar da vida asfixia Gaia, a representação mitológica da Terra. Já não se trata dos direitos de uma ou outra espécie, mas de todas. Somos bilhões a consumir sem saber de onde vem o produto e para onde vai o lixo. A saída do impasse não está no esquecimento de nosso passado carnívoro. Não há soluções simples. O vegetarianismo radical omite o prejuízo ambiental da monocultura. Somos o problema, mas também a solução. É preciso diminuir nossa população pelo controle da natalidade. É preciso instituir o comércio justo, em que todos os elementos da cadeia de produção sejam tratados adequadamente. É preciso desenvolver a carne de laboratório, saborosa, saudável e não oriunda de um ser vivo com sistema nervoso capaz de sofrer. A libertação de nossa sina assassina não passa


Da revista Mente & Cérebro n° 209, de junho/2010

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sábado, 10 de julho de 2010

Encantos da Música VIII


por KAREN SCHROCK

[final]

Acredita-se que essa prontidão inata esteja ligada à forma melódica peculiar que adultos usam para falar com bebês. A adoção universal desse recurso levou alguns especialistas a especular que esse pode constituir um momento inicial original tanto para música quanto para linguagem. Especialistas como o arqueólogo cognitivo Steven Mithen, da Universidade de Reading, na Inglaterra, teorizam que a linguagem e a música evoluíram a partir de uma protolinguagem musical usada por nossos ancestrais. Estruturas de cordas vocais de neandertais e outros hominídeos extintos sugerem que eles poderiam cantar. E eles certamente tocavam instrumentos, pois pesquisadores recuperaram flautas pré-históricas feitas de ossos. Talvez nunca saibamos por que a música existe. Ainda assim podemos usá-la para nos animar ou acalmar, amenizar dores e ansiedade ou formar vínculos. Como escreveu Sacks, talvez a música seja o que temos mais próximo da telepatia.

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Revista Mente & Cérebro n° 209, de junho/2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Encantos da Música VII

por KAREN SCHROCK
©WEBPHOTOGRAPHER/STOCKPHOTO
Em ritmo de malhação: batidas fortes ativam sistemas cerebrais e preparam o corpo para executar movimentos que exigem grande desgaste de energia
[continuação]

Por outro lado, a música pode acalmar, reduzindo os níveis do hormônio do estresse, o cortisol, na corrente sanguínea, baixando as taxas cardíacas e respiratórias e aliviando a dor. Um exemplo clássico de redução de ansiedade: uma mãe acalentando seu bebê com uma canção. Estudos clínicos também revelam que a música é uma poderosa ferramenta para relaxar os pacientes que sofrerão uma cirurgia, ajuda a controlar a dores e a amenizar a agitação de crianças e pessoas com demência. Em 2000, a enfermeira Linda A. Gerdner, pesquisadora de temas ligados a gerontologia na Universidade do Arkansas para Ciências Médicas, apresentou a 39 pacientes severamente atingidos pelo Alzheimer a música de que gostavam, duas vezes por semana, durante um mês e meio. A canção favorita reduziu os níveis de agitação dos pacientes durante e após a sessão muito mais que as clássicas músicas de relaxamento. Neurocientistas também constataram que ouvir uma música muito apreciada pode reduzir a dor – e esse efeito analgésico persiste por algum tempo quando a música para. E, claro, intuitivamente, as pessoas se automedicam com música o tempo todo. É comum que as pessoas as usem com o propósito de melhorar ou alterar o estado emocional. Cientistas se perguntam se, dada a indiscutível atração humana pela música, seu processamento poderia ter uma raiz única no cérebro, além da “carona” que pega em outros sistemas. A literatura médica registra diversos danos que prejudicaram a capacidade de uma pessoa sentir emoções inspiradas pela música, mas não por outros estímulos. Lawrence Freedman, um amigo de Sacks, por exemplo, perdeu sua paixão por música clássica depois de uma concussão em um acidente de bicicleta. Freedman ainda podia reconhecer os clássicos que costumava adorar e ainda se sentia emocionado por artes visuais e outras experiências, mas a música já não lhe dava prazer algum. Possivelmente, o acidente danificou uma parte do cérebro dedicada especificamente ao entusiasmo por essas formas de expressão, embora ninguém saiba exatamente que área cerebral é essa.

Outros pesquisadores discutem que a música tem origens independentes porque a capacidade de apreciá-la parece já estar definida no nascimento. Vários estudos mostram que muitos bebês prestam rapidamente atenção a canções e parecem preferi-las à fala. Em trabalhos publicados em julho de 2008 na Nature Precedings, as neurocientistas Maria Cristina Saccuman e Daniela Perani, da Universidade Vita-Salute San Raffaele, na Itália, mostraram que a música ativa regiões no cérebro de recém-nascidos de forma semelhante ao que acontece com ouvintes de outras idades. Elas usaram ressonância magnética funcional (RMf) para ver como o cérebro de crianças com 3 dias de vida respondia a música clássica e encontraram um padrão que espelhava o processamento em adultos: o sistema auditivo do hemisfério direito dos pequenos respondia mais fortemente que o esquerdo. Os pesquisadores também alteraram a música, cortando uma parte da peça e pulando para outra nota ou tocando todo o segmento só com batidas. As passagens mais estridentes ativavam o córtex inferior frontal esquerdo dos recém-nascidos, uma área implicada no processamento da sintaxe musical em adultos, e o sistema límbico, responsável pelas respostas emocionais –assim como ocorre nas pessoas mais velhas, o que levou a uma conclusão: o cérebro parece nascer pronto para processar música.

Do site: www.mentecerebro.com.br

Revista Mente & Cérebro n° 209, de junho/2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Encantos da Música VI


por KAREN SCHROCK

[continuação]

O SOM DA CURA

A ideia de que a música pode promover uma união não verbal ganhou apoio adicional de um estudo de 2008, feito pelos neurocientistas Nikolaus Steinbeis, do Instituto Max Planck para Cognição Humana e Ciências Cerebrais, e Stefan Koelsch, da Universidade de Sussex, na Inglaterra. Eles usaram ressonância magnética funcional para mostrar que determinada área do cérebro respondia a acordes, mas não a palavras, em um teste no qual os voluntários escutavam ambos. A região responsiva era o sulco temporal superior: uma parte da superfície cerebral, perto dos ouvidos, que responde a pistas sociais não verbais – como movimentos corporais e olhares. A ativação dessa região indica que a música pode ajudar a forjar laços sociais. Qualquer que seja sua origem, tal coesão é extremamente valiosa para animais comunitários, como nós, e por isso traços que aumentam tal unidade tendem a persistir ao longo das gerações.

A base de nossas impressões conscientes a respeito de um tom são os efeitos fisiológicos. Estudos mostram que a música alegre, tensa ou empolgante pode excitar fisicamente o ouvinte, desencadeando resposta de luta e fuga: as taxas cardíacas e respiratórias aumentam, a pessoa pode suar e a adrenalina penetra na corrente sanguínea. Esse efeito explica por que tantas pessoas gostam de ouvir rock ou hip-hop enquanto fazem ginástica – a música instiga respostas do sistema fisiológico para a execução de movimentos de alta energia. O efeito psicológico também é importante: a distração torna o exercício mais divertido. De forma geral, melodias energizantes tendem a melhorar o humor, nos deixando mais despertos quando estamos cansados e criando sensação de empolgação.

Do site: www.mentecerebro.com.br

Revista Mente & Cérebro n° 209, de junho/2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Encantos da Música V


por KAREN SCHROCK

[continuação]


A capacidade que a música tem de conduzir sentimentos pode ser a base de um dos seus maiores benefícios. Na maioria das culturas, cantar, tocar, dançar e acompanhar as apresentações é quase sempre um evento comunitário. Mesmo em sociedades ocidentais que, de maneira única, diferenciam os músicos dos ouvintes, as pessoas entoam hinos em rituais religiosos, dançam em festas e boates, embalam os filhos ao som de cantigas de ninar, participam de corais e desde cedo as crianças aprendem a cantarolar Parabéns a você nos aniversários. A popularidade de tais rituais sugere que a música confere coesão social, talvez por criar conexões empáticas entre os membros de um grupo.

Estudos mostram também que quando as pessoas ouvem música, as regiões motoras do cérebro se ativam – provavelmente com o propósito de processar o ritmo. Esse processo inclui regiões pré-motoras, que preparam uma pessoa para a ação, e o cerebelo, que coordena o movimento físico. Alguns pesquisadores acreditam que parte do poder musical é resultado de sua tendência a sincronizar e ecoar nossas ações. “Com os equipamentos disponíveis hoje já é possível enxergar como ritmo e ação ressoam no sistema nervoso; todo som é produzido por movimento, quando você ouve qualquer som algo está sendo movido”, diz o neuropsicólogo Robert Zatorre, da Universidade McGill. De fato, há um passo muito pequeno entre o andar, o respirar e as batidas do coração – sons ritmados naturais, não intrinsecamente musicais – e manter propositalmente um intervalo ou caminhar na mesma velocidade que outra pessoa. “Quando escutamos um padrão, inconscientemente organizamos os músculos para reproduzi-lo. Dessa maneira, o ritmo também pode funcionar como uma ‘cola social’ que favorece a ligação física”, afirma Zatorre.

Do site: www.mentecerebro.com.br

Revista Mente&Cérebro n° 209, de junho/2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Encantos da Música IV

por KAREN SCHROCK
© MORGAN LANE PHOTOGRAPHY/SHUTTERSTOCK

[continuação]

A língua musical também pode transcender barreiras de comunicação mais fundamentais. Em estudos conduzidos na última década, a psicóloga cognitiva Pam Heaton, da Universidade de Londres, no Reino Unido, tocou musicas para crianças autistas e não autistas, comparando aquelas com habilidades linguísticas semelhantes. Os pesquisadores que participavam da equipe coordenada por Heaton pediram às crianças para fazer associações entre música e emoções. Nos estudos iniciais, as crianças deveriam simplesmente escolher entre alegre e triste. Em estudos posteriores foi introduzida uma gama de emoções complexas, como triunfo, contentamento e raiva. Os cientistas descobriram então que a capacidade das crianças de identificar esses sentimentos independia de seu diagnóstico. Autistas ou não, com habilidades lingüísticas semelhantes, foram igualmente bem, indicando que a música pode conduzir consistentemente sentimentos, até mesmo em pessoas com a habilidade severamente comprometida para lidar com pistas socioemocionais, como expressões faciais, por exemplo.

Recentemente, em um experimento bastante interessante, o pesquisador Roberto Bresin e seus colegas, do Instituto Real de Tecnologia, em Estocolmo, na Suécia, confirmaram a ideia de que a música é uma linguagem universal. Em vez de pedir aos voluntários para fazer julgamentos subjetivos sobre uma canção, solicitaram que manipulassem a música – em particular seu tempo, volume e frases – para enfatizar uma dada emoção. Para as peças alegres, por exemplo, o participante deveria ajustar a escala, de forma que soasse o mais feliz possível; depois, o mais triste, assustadora, tranquilizadora e por fim, neutra. Os cientistas descobriram que todos os voluntários – especialistas em música e, em outro estudo similar, crianças de 7 anos – alteravam da mesma forma o tempo, para arrancar de cada música a emoção pretendida. Essa descoberta, que Bresin apresentou em 2008 na III Conferência de Neuromúsica em Montreal, no Canadá, dá a ideia de que a música contém informações que deflagram resposta emocional específica no cérebro, independentemente da personalidade, gosto ou treinamento. Ou seja: a música pode de fato constituir uma forma única de comunicação.

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Revista Mente & Cérebro n° 209, de junho/2010