terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Como o cérebro antecipa o futuro

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 09 de dezembro de 2011

Estudo aponta novas possibilidades no tratamento de doenças neurológicas como Parkinson, esquizofrenia e Alzheimer
 
©Shutterstock

Sem que tenhamos consciência, todos os dias nosso cérebro elabora prognósticos sobre inúmeras questões cotidianas – se conseguiremos pegar o metrô a tempo ou quem pode estar batendo à porta, por exemplo –, o que ativa aspectos específicos do mecanismo cognitivo. Um estudo recente publicado no periódico científico Journal of Cognitive Neuroscience esclareceu como ocorre esse fascinante processo cerebral, de vital importância para determinar comportamento, capaz de influenciar a capacidade de percepção e a elaboração da linguagem e da aprendizagem.


Ao submeterem alguns voluntários a um exame de ressonância magnética funcional (fRMI), os pesquisadores puderam analisar como funciona o mesencéfalo, encarregado da produção de dopamina e da sinalização de eventos imprevistos. Foi mostrado aos participantes do estudo um filme com situações cotidianas e em seguida as cenas foram bruscamente interrompidas. A tarefa era tentar “prever” o que aconteceria logo depois, enquanto a atividade cerebral dos voluntários era acompanhada. O resultado foi extraordinário: 90% das pessoas imaginavam o desfecho das cenas sem dificuldade. Em contrapartida, os que não conseguiam pareciam sofrer uma espécie de curto-circuito no fluxo da consciência. A descoberta oferece novas esperanças para a melhor compreensão de doenças neurológicas como Parkinson, esquizofrenia e Alzheimer, o que pode levar os pesquisadores a desenvolver medicamentos mais eficazes.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Compulsão por compras pode estar associada à lesão cerebral



Do site: www.mentecerebro.com.br, em 08 de dezembro de 2011

Pessoas com dano no córtex pré-frontal têm mais dificuldade para controlar o orçamento

©Shutterstock

Com a aproximação do Natal é comum que lojistas aumentem seus estoques, prontos para o boom de compras que ocorre todos os anos nessa época. Em meio a tantas opções, muitas vezes fica difícil decidir o que comprar e não estourar o orçamento. E para pessoas com lesões no córtex pré-frontal ventromedial, segundo estudo publicado na Journal of Neuroscience, pode ser mais complicado ainda. Para chegar a essa conclusão, o neuroeconomista Joseph Kable, da Universidade da Pensilvânia, trabalhou com dois grupos: um composto por voluntários saudáveis, para controle, e outro com pessoas com possíveis danos no córtex pré-frontal ventromedial causados por infarto, aneurisma ou tumor. Em seguida, foi solicitado aos participantes que escolhessem entre diferentes kits que incluíam sucos de fruta e barras de chocolate, estando em cada um especificado o valor dos itens e o preço total da cesta pronta. As opções eram: dois chocolates e seis sucos, três barras e três bebidas ou quatro doces e nenhum suco. O somatório de cada conjunto, no entanto, nem sempre correspondia ao preço real: alguns valores eram maiores do que se os produtos fossem comprados separadamente. Como esperado, os participantes do grupo de controle foram capazes de analisar cada combinação e fizeram escolhas coerentes, percebendo quando a proposta não compensava. Já os voluntários com lesões corticais mostraram maior dificuldade em decidir, optando algumas vezes por artigos com preços abusivos, sem se darem conta disso.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Relações passageiras


 
Do site: www.mentecerebro.com.br, em 07 de dezembro de 2011

Montagem de ballet aborda a transitoriedade dos laços afetivos e do corpo, remetendo à fragilidade dos vínculos
 
©Shutterstock
ESPETÁCULO DA COMPANHIA DE DANÇA BORELLI, Produto perecível laico aborda a fragilidade das relações
Em cena, não há personagens, os bailarinos representam apenas sentimentos. Uma jovem mulher surge no palco, com o corpo contorcido, como se não pudesse suportar a dor. Dançarinos vestidos de negro tentam reanimá-la, até que ela volta à vida. A impressão é de que tenta captar os movimentos de seus companheiros de cena e, diante da impossibilidade de eternizá-los, o sofrimento transparece. Produto perecível laico, espetáculo da companhia de dança Borelli, em temporada com preços populares até dia 11 de dezembro, em São Paulo, aborda a transitoriedade das relações e do corpo.

A montagem é inspirada no poema A morte, de Cruz e Souza, sobre a angústia diante dos “vagos momentos trêmulos que decorrem”, como descreve o poeta. A coreografia remete à fragilidade dos laços afetivos à qual se refere o sociólogo polonês Zygmunt Bauman em Amor líquido, lançado no Brasil em 2004 pela Zahar. Outros livros do autor, hoje com 86 anos, tratam do tema. Há alguns anos, em uma entrevista publicada no volume 16 do periódico Tempo Social, o sociólogo comentou: “Apesar de ser muito curta, abominavelmente curta, a vida humana é a única entidade da sociedade de agora que tem sua longevidade aumentada. Sim, somente a vida humana individual vê crescer sua durabilidade, enquanto a vida de todas as outras entidades sociais que a rodeiam – instituições, ideias, movimentos políticos – é cada vez mais curta. Assim, o único sentido duradouro, o único significado que tem chance de deixar traços, rastos no mundo, de acrescentar algo ao exterior, deve ser fruto de seu próprio esforço e trabalho. Os jovens podem contar unicamente com eles próprios e só haverá em sua vida o sentido e a relevância que forem capazes de lhe dar”.

No espetáculo, a troca de estímulos entre os bailarinos em dado momento parece se esgotar e a separação é inevitável. As relações aparentemente profundas, expressas em movimentos mais fluidos e tranqüilos, no entanto, emergem ocasionalmente em algumas passagens.


sábado, 28 de janeiro de 2012

Depressão em números



Do site: www.mentecerebro.com.br, em 06 de dezembro de 2011

Transtornos depressivos lideram as causas de internações psiquiátricas em São Paulo, à frente de dependência química e surtos psicóticos

©Shutterstock

Sintomas de depressão e de transtornos de ansiedade lideram o atendimento de emergências psiquiátricas no maior pronto-socorro psiquiátrico de São Paulo, o Polo de Atenção Intensiva em Saúde Mental (PAI), na zona norte da capital paulista. Segundo levantamento da Secretaria de Estado da Saúde, do total de pacientes atendidos no serviço, 25% têm diagnóstico primário de depressão ou de transtorno de ansiedade. Problemas decorrentes da dependência química correspondem a 13% dos casos, os surtos psicóticos representam 12% e transtornos bipolares correspondem a 7%.


Para a gerente médica do PAI, Célia Gallo, o alto nível de estímulos estressores recebidos em uma metrópole como São Paulo estão diretamente relacionados à alta incidência de quadros de depressão e ansiedade, mas não podem ser tratados como causa principal, pois índices semelhantes são encontrados também no meio rural. Ela também ressalta que os dados do levantamento são apenas preliminares e que o uso de drogas pode ter influência indireta sobre um número muito maior de emergências. “Os números referem-se apenas às causas que levaram os pacientes ao pronto-socorro. Mas é provável que haja comorbidade dos sintomas depressivos e de ansiedade com o uso de substâncias químicas”, diz Célia. Dos 20,7 mil pacientes atendidos pelo PAI em 2010, 51% estavam em idade produtiva e tinham entre 19 e 40 anos.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Personalidade

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 05 de dezembro de 2011

O idioma influencia o modo como agimos
 
©Shutterstock

A língua que falamos é capaz de ressaltar ou obscurecer nossos traços de personalidade. Pelo menos é o que afirmam psicólogos da Universidade Politécnica de Hong Kong, na China, em um trabalho publicado no Personality and Social Psychology Bulletin. Os pesquisadores descobriram que estudantes chineses bilíngues pareciam mais extrovertidos, seguros da própria opinião e abertos a novas experiências – traços geralmente associados a ocidentais – quando participavam de entrevistas feitas em inglês. Os mesmos traços não eram tão enfatizados quando os interlocutores falavam mandarim. Outro ponto curioso é que a etnia do entrevistador teve influência sobre o comportamento dos voluntários: todos eles se mostraram menos comunicativos e dispostos a ajudar ao conversar com um interlocutor oriental, independentemente da língua usada durante o diálogo. Apesar de ainda serem necessários mais trabalhos para comprovar as conclusões, na opinião dos pesquisadores os resultados sugerem que a personalidade não é fixa, ela pode se manifestar de maneiras diversas, dependendo da situação, das pessoas com quem interagimos e até da língua falada. O mais intrigante é que aspectos de determinado perfil associado a um idioma ou a uma pessoa também podem nos levar a pensar – e agir – de determinadas formas, o que em outras circunstâncias não faríamos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Efeitos da sedução

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 28 de novembro de 2011

Olhar fotos de mulheres atraentes aumenta agressividade masculina



Apesar de terem avançado em aspectos sociais e tecnológicos, os humanos ainda conservam alguns instintos como tentar garantir sucesso reprodutivo por meio de disputas físicas. Pelo menos é o que mostra um estudo publicado pelo periódico científico Personality and Social Psychology Bulletin. Uma das pesquisas citadas no trabalho foi coordenada pelo psicólogo Chang Lei: 41 mulheres e 60 homens chineses deviam analisar 20 fotografias de pessoas do sexo oposto, divididas em dois grupos, o dos mais atraentes e o dos menos interessantes. Em seguida, o pesquisador pedia aos voluntários que respondessem a 39 questões relacionadas à possibilidade de a China participar de guerras ou de conflitos comerciais com três países estrangeiros. Ao analisarem as respostas, os pesquisadores observaram que a maior parte dos homens apresentou tendências bélicas depois de ver imagens de moças que julgavam atraentes. O mesmo efeito não foi notado quando as perguntas eram sobre conflitos comerciais. Entre as mulheres as fotografias não exerceram influência em nenhum dos casos.


Em outro experimento, 23 voluntários do sexo masculino viram oito imagens com a bandeira da China e oito com pernas femininas antes de participarem de um teste de computador no qual deveriam identificar a palavra “guerra” o mais rápido que conseguissem. Se fossem motivados por patriotismo, era esperado que os participantes do estudo se saíssem melhor após verem a bandeira de seu país. Mas, na verdade, os mais ágeis foram os que observaram fotografias de pernas de mulheres. Uma possível explicação é que talvez os homens acreditem, mesmo que inconscientemente, que garotas preferem parceiros fortes, capazes de derrotar possíveis “concorrentes”, como acontece em outras espécies.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O poder da amizade

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 28 de novembro de 2011

Laços afetivos ajudam a superar o desconforto em uma sociedade cada vez mais individualista e solitária
por Maria Consuêlo Passos
®Shutterstock

Compartilhar a vida. Eis um grande desafio em tempos de hipervalorização da individualidade e de enfraquecimento dos laços. Enfrentamos uma época de contradições em que, de um lado, vivemos cada vez mais solitários e, de outro, criamos permanentemente novas possibilidades de convivência. Hoje são inquestionáveis os desdobramentos da família e a abertura para diferentes modos de relações amorosas, parentais e filiais. Isso significa que as sociedades mais libertárias acolhem as idiossincrasias das demandas amorosas e sexuais dos seus sujeitos e lhes oferecem oportunidades de procriação.



Além disso, verificamos uma crescente reabilitação das possibilidades de fazer amizades, incentivadas pela variedade de contextos que favorecem o encontro, com distintas finalidades, seja para o lazer, a prática de esportes e da religião ou mesmo na militância em diferentes associações de defesa dos direitos civis e da cidadania. Entretanto, mesmo com o incremento desses espaços de convivência, a vida continua cada vez mais solitária, e as relações, mais efêmeras nos grandes centros urbanos. Tais evidências são reveladas não só nas pesquisas, mas também na clínica, onde os sofrimentos psíquicos advindos da solidão, da violência relacional e das autodestruições continuam em escala ascendente. Por mais que as descobertas técnico-científicas favoreçam a manutenção da vida, continuamos vulneráveis aos perigos do contato humano.



O individualismo e a solidão têm se tornado características muito fortes da vida nas sociedades ocidentais, obrigando os cidadãos a buscar novas experiências que pudessem sustentar o desconforto e o sofrimento advindos dessas imposições sociais. Analisando esse contexto, a amizade seria uma opção às imposições da sociedade e representa uma saída para a fragilidade das relações surgidas com as exigências da modernização que produziram uma vida solitária e ameaçadora. Entretanto, esse aspecto compensatório da amizade não é o que mais interessa ao filósofo Michel Foucault, um estudioso do tema, e sim o seu caráter transgressivo e de resistência, na medida em que este impulsiona a invenção de formas de vida capazes de implementar uma existência libertadora. Afinal, ele via na amizade a possibilidade de transpor as amarras institucionais das relações, de romper com as formas preestabelecidas e criar novas maneiras de estar criativamente com o outro.



Ao tentar decifrar os sentidos da amizade, Foucault imprime à discussão uma dimensão ética por meio da qual os sujeitos são capazes de romper com os padrões de moralidade vigentes e redimensionar sua vida, criando um estilo próprio de existência. Esse estilo poderá ser recriado permanentemente na presença do outro, o que nos permite pensar em uma sociabilidade que foge ao caráter burocrático e institucionalizado, duas facetas execradas pelo pensamento foucaultiano, que pretendia, acima de qualquer coisa, evidenciar dois aspectos: reinventar a vida por meio de suas relações e barrar o poder inerente à dominação de um sujeito sobre o outro.



É preciso reconhecer que algumas dessas evidências trazidas por Foucault se tornaram realidade. Embora a vida solitária e a vulnerabilidade dos laços de afeto venham revelando um efeito nefasto, adoecendo pessoas e levando-as a diferentes tipos de sofrimento psíquico, é necessário reconhecer que nas últimas décadas têm surgido várias formas de convívio: a família vem sendo reinventada, dando lugar a deslocamentos e transformações nas suas funções e papéis. Hoje é possível verificar, por exemplo, fortes laços e amizade em casais que procuram ajuda de outros para uma procriação assistida. É o caso, por exemplo, de dois homens que buscam uma amiga para receber o sêmen de um deles e conceber uma criança. Algumas vezes forma-se aí uma relação consistente, um misto de amizade e de família, fruto de uma operação não só biológica mas também simbólica, já que um dos parceiros se mantém ausente da procriação de uma criança com a qual poderá, mais tarde, constituir uma relação parental. Há ainda duas outras manifestações interessantes de amizade: a trazida por casais que se separam e, ao constituir novas relações amorosas, mantêm os antigos parceiros no rol dos amigos; e as relações amistosas criadas pelos filhos dos diferentes casamentos de seus pais.



Enfim, se de um lado as relações humanas permanecem frágeis, tensas e em muitos sentidos desestimuladas pelo cotidiano massacrante do trabalho e pelas imposições do mundo fragmentado em que vivemos, de outro, elas têm atualmente maior amplitude de possibilidades de criar e recriar experiências, tanto na vida privada como na pública. Além disso, nos últimos anos as sociedades têm se tornado mais libertárias, e, em consequência, os sujeitos adquirem mais recursos para reconhecer e lutar por seus direitos civis. Gilles Lipovetsky talvez tenha razão ao escrever: “Quanto mais frustrante é a sociedade, mais ela promove as condições necessárias para uma reoxigenação da vida
Maria Consuêlo Passos psicanalista de casal e família, doutora em psicologia social, pesquisadora de temas de família e desenvolvimento humano, docente do programa de pós-graduação em psicologia clínica da Universidade Católica de Pernambuco.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Um mundo doente


"A educação é um processo social, é desenvolvimento.

Não é a preparação para a vida, é a própria vida."
(John Dewey)

Crise na Europa e nos Estados Unidos, queda de governos árabes, discussões
sobre o aquecimento global. As doenças que acometem o mundo não são de ordem
econômica, política ou ambiental. Nossas mazelas são de caráter social. A
sociedade está enferma.

As pessoas estão fisicamente doentes. Caminhe por uma praia e observe a
condição dos banhistas para constatar a falta de cuidados com o próprio
corpo, fruto de vida sedentária, alimentação desregrada, ausência de
atividade física. Não é à toa que obesidade, hipertensão arterial e doenças
coronarianas crescem vertiginosamente.

As pessoas estão mentalmente doentes. Ansiedade, angústia, transtornos de
humor. Como prova do que digo, observe a proliferação de drogarias por todo
o país. E mais do que o número de novos estabelecimentos, a frequência
maciça de consumidores. Não importam dia e horário, invariavelmente você
encontrará filas nos caixas. Gente comprando de medicamentos para as dores
do corpo, a ansiolíticos e antidepressivos.

As relações sociais estão doentes. Temos cada vez mais amigos virtuais, mas
continuamos sem conhecer o vizinho que reside há anos na porta ao lado.
Familiares não comungam de uma mesma refeição, pais e filhos pouco
conversam, casais de amigos em um encontro pessoal trocam a autenticidade de
um diálogo pela efemeridade de tuitadas em seus smartphones.

As empresas estão doentes. Mesmo quando lucrativas, sofrem com crises de
liderança, dificuldades para engajar seus funcionários e reter talentos,
dilemas morais para alinhar discursos institucionais às práticas
corporativas.

Valores e virtudes estão doentes. Intolerância, egoísmo e cupidez suplantam
condescendência, generosidade e gentileza. Prevalece a ética do interesse
pessoal em detrimento do coletivo.

No dia seguinte ao réveillon, na praia, no campo ou nas ruas das cidades, o
cenário era de guerra. Lixo por todos os lados. Garrafas despedaçadas,
deixando cacos de vidros infiltrados na mesma areia onde crianças
inocentemente iriam brincar ao raiar do dia.

Nossos problemas não são conjunturais, mas estruturais. E a solução passa
por reflexão, educação e cultura.



* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em
17 países. É autor de "Somos Maus Amantes - Reflexões sobre carreira,
liderança e comportamento" (Flor de Liz, 2011), "Sete Vidas - Lições para
construir seu equilíbrio pessoal e profissional" (Saraiva, 2008) e coautor
de outros cinco livros. Contatos através do e-mail
tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite:
www.tomcoelho.com.br.

Recebido do autor por e-mail

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Homossexualidade



Do site: www.mentecerebro.com.br, 23 de novembro de 2011

Do pecado à legalização da união civil. Veja como a orientação sexual foi abordada ao longo do tempo
 
© Melissa Patton/Shutterstock

A maneira de conviver com a homossexualidade modificou-se ao longo dos anos. Comportamentos vistos como absolutamente normais na Antiguidade foram rotulados de degenerados no século 19. E só recentemente essa expressão da sexualidade deixou de ser considerada uma doença mental. Na edição de 1968 do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), obra de referência para psiquiatras, a atração por pessoas do mesmo sexo aparecia no capítulo sobre desvios, classificada como um tipo de aberração.

Foram os próprios gays que, cansados de ser taxados de aberrações, começaram a defender a ideia de que sua orientação não era patológica. Um momento histórico na transformação dessa forma de pensar ocorreu após uma violenta ação policial no Stonewall Inn, bar gay no Greenwich Village, em Nova York, em 28 de junho de 1969. Nos cinco dias seguintes, uma multidão continuou a se reunir no local, protestando contra a discriminação e exigindo direitos iguais para homossexuais. Conhecido como rebelião de Stonewall, o evento é considerado a marca inicial para a maior aceitação cultural da homossexualidade no mundo todo.

Quatro anos mais tarde, a Associação Americana de Psiquiatria (AAP) começou a reavaliar essa questão. Uma comissão liderada pelo médico Robert L. Spitzer, da Universidade de Colúmbia, recomendou que o termo “homossexualidade” fosse retirado da edição seguinte do DSM, mas a sugestão não surtiu efeitos práticos. Pouco depois de os dirigentes da AAP votarem a favor da alteração, 37% dos psiquiatras consultados sobre o tema disseram ser contrários à mudança. Alguns chegaram a acusar a associação de “sacrificar princípios científicos em nome dos direitos civis”.

Nos anos 90, grande parte dos psicólogos ainda argumentava que a homossexualidade era um distúrbio psíquico. Para defender esse ponto de vista, muitos se apoiavam na penúltima edição da Classificação internacional de doenças (CID-9), de 1985, que considerava essa orientação formalmente patológica. Atualmente, porém, os conselhos regionais de psicologia (CRPs) são claros em orientar os profissionais da área para que não tratem a homossexualidade como distúrbio, a manifestação de preconceitos pode deflagrar processos e punições.

O preconceito em relação à homossexualidade muitas vezes é dissimulado e, apesar das transformações culturais, em certos meios persiste a ideia de que essa orientação é uma doença que precisa ser “curada”. Alguns defensores de terapias que se propõem a isso buscam respaldo na teoria de Sigmund Freud (1856-1939), cujas palavras foram tantas vezes descontextualizadas e interpretadas de maneira tendenciosa. As formulações do autor passaram por diferentes momentos e sofreram acréscimos significativos ao longo de sua obra, o que permite variadas interpretações, dependendo do texto que for tomado como referência. Em artigo de 1930 no qual discute o caso de uma moça que se apaixona por uma jovem senhora da sociedade, por exemplo, Freud considera que, quando uma mulher escolhe outra como objeto de amor, revela uma fixação infantil – não necessariamente decepção com o pai.

Fixações, entretanto, não são exclusividade dos homossexuais – nem podemos procurar “culpados” por elas. As diferentes preferências – e consequentes escolhas ou negações – revelam singularidades e fatores inconscientes de cada pessoa.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Nostalgia e depressão

Do site: www.mentecerebro.com.br, 22 de novembro de 2011

Evocar momentos felizes pode agravar o distúrbio
 
© mangostock/Shutterstock

A nostalgia revelou-se, em vários estudos recentes, um recurso para levantar o ânimo. Por isso, é natural que se suponha que pessoas deprimidas também possam tirar proveito desse efeito. Porém, estudo da psicóloga Jutta Joorman, da Universidade de Miami em Coral Gables, na Flórida, demonstrou em 2007 que pacientes com depressão grave, diferentemente das pessoas saudáveis, não ficaram mais alegres – e até mesmo se tornaram mais tristes – ao se lembrar de momentos felizes do tempo de escola.

Pesquisadores da Universidade Cardiff , no País de Gales, desenvolveram recentemente um sistema para explicar essa descoberta: o modelo de congruência de humor em comparação temporal. Segundo ele, as pessoas depressivas notam pouca identificação entre características pessoais positivas do “eu” de suas lembranças e a percepção de si mesmas no presente. Essa discrepância é acompanhada do sentimento de que o “eu positivo” está em um passado infinitamente longínquo. E concluem: “Em comparação com a pessoa que eu era naquele tempo, hoje sou um fracassado”. Assim, pensamentos nostálgicos poderiam agravar o estado de pessoas com distúrbios depressivos.

Na opinião dos psicólogos Constantine Sedikides e Jochen Gebauer, entretanto, a nostalgia também poderia melhorar o estado de espírito de pessoas que sofrem de depressão. Eles ressaltam que a “saudade de antigamente” se diferencia de memórias felizes em três pontos essenciais:

1. Lembranças nostálgicas são mais multifacetadas e complexas do que as recordações positivas. Além disso, frequentemente incluem uma sequência de superação, o que poderia animar as pessoas. E se uma vez algo já terminou bem, isso pode acontecer de novo;

2. Memórias que despertam saudade são percebidas de forma especialmente nítida, afetiva e rica em detalhes. Revividas com frequência, em comparação com outras memórias, são mais vívidas, fazendo com que o episódio seja sentido como temporalmente muito próximo, o que o torna mais “real”;

3. Como a nostalgia forma uma espécie de ponte entre o passado e o presente, gera sentimento de autocontinuidade. Assim, a maioria dos participantes dos estudos de nostalgia de 2008 concordou com avaliações como: “tenho a sensação de que o ontem e o hoje se misturam”, ou “mantenho várias das minhas antigas características positivas”. Uma identificação tão intensa superaria em nossa percepção a distância temporal entre a lembrança e o momento atual, abrindo perspectivas para tirar a pessoa depressiva da apatia e imobilidade emocional.

Para comprovar as impressões de Sedikides e Gebauer, entretanto, são necessárias mais pesquisas.

sábado, 21 de janeiro de 2012

História dos antidepressivos



Do site: www.mentecerebro.com.br, em 21 de novembro de 2011

No decorrer dos séculos, médicos já receitaram ópio, anfetaminas e cocaína para tratar transtornos do humor

Coleção particular

A lista das substâncias que deveriam vencer as depressões, mas sempre ajudavam apenas alguns afetados, é muito longa. No decorrer dos séculos, os médicos testaram quase tudo o que influenciava o cérebro de alguma forma. O ópio já era considerado na antiga China um meio eficaz contra doenças do ânimo. Nos tempos modernos, os médicos europeus sistematizaram o tratamento: o britânico Thomas Sydenham (1624-1689) o misturou com álcool, produzindo láudano (do latim laudare = louvar). O “tratamento com ópio” devia curar a angústia e a melancolia. Mais tarde, as pessoas desistiram da droga devido ao grande risco de vício.


Com o álcool ocorreu algo semelhante. Em 1802, um médico londrino recomendava um pesado Borgonha, um bom vinho branco ou mesmo brandy contra a melancolia. A Cannabis e a cocaína também eram comumente utilizadas no século 19 como medicamento. A melancólica escritora britânica Virginia Woolf (1882-1941) usava o sonífero e calmante Veronal, um barbitúrico. Nos anos 50, entraram em voga as anfetaminas estimulantes. Em todas essas substâncias, o potencial viciante é extremamente alto.


Em 1953, causou sensação uma notícia que dizia que o medicamento utilizado para tuberculose, a iproniazida, também tinha efeito antidepressivo. Alguns anos mais tarde, porém, ele foi tirado do mercado, pois pode causar icterícia. Substâncias bastante semelhantes, denominadas inibidores MAO, até hoje fazem parte do arsenal terapêutico contra a depressão. Eles inibem uma oxidase (daí vem o “O”) – uma enzima que decompõe diversos mensageiros do cérebro do grupo da monoamina (daí o “MA”). Entre eles, encontram-se os transmissores serotonina, dopamina e noradrenalina.


Inibidores MAO fazem com que os neurotransmissores fiquem disponíveis por mais tempo nas sinapses das células nervosas. Infelizmente, eles também cruzam o caminho de outras oxidases, que, por exemplo, decompõem componentes nutricionais. As consequências podem ser dores de cabeça ou pressão sanguínea extremamente alta. Por isso, o consumo de queijo é tabu para pacientes tratados com inibidores MAO.


Ainda nos anos 50, a indústria farmacêutica suíça Geigy sintetizou uma série de substâncias semelhantes à clorpromazina, o primeiro medicamento contra esquizofrenia, e pediu a clínicos que as testassem. O médico Roland Kuhn experimentou a variante G22355 em 150 pacientes com diferentes doenças mentais. Por fim, ele obteve sucesso com depressivos em 1957.


A Geigy denominou a substância de imipramina e a ofereceu ainda no mesmo ano sob o nome comercial de trofanil. Esse foi o nascimento dos tricíclicos, que têm esse nome porque possuem três anéis de carbono. Eles representam, ao lado dos SSRIs, até hoje os antidepressivos mais importantes. Tricíclicos são eficazes, mas têm efeitos colaterais relevantes como obstipação e ressecamento das mucosas.


A mais nova geração de antidepressivos, os SSRIs, prometem principalmente menos efeitos colaterais. No entanto, segundo o farmacêutico Gerd Glaeske, ele apenas tem outros efeitos – por exemplo, problemas estomacais, falta de apetite ou perda da libido. Em 2008, um anúncio de que os SSRIs poderiam estimular o suicídio em crianças e jovens causou grande comoção. Desde então, há avisos a esse respeito nas embalagens dos remédios.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Alfabetização tardia

Do site: www.mentecerebro.com.br, 22 de novembro de 2011

Aprender a ler provoca mudanças neurais profundas, mesmo em adultos
 
Shutterstock

Alguns pesquisadores acreditam que a alfabetização, por ser evolutivamente muito recente, não ocorre em estruturas cerebrais exclusivamente dedicadas a ela. Ao contrário, utilizaria sistemas neurais que evoluíram em associação com funções cognitivas mais antigas, como o reconhecimento de faces, casas e objetos.

Em crianças em processo de alfabetização, o imageamento cerebral durante a exposição a estímulos ortográficos revela a ativação de uma região cortical específica denominada área de formas visuais de palavras (AFVP). Curiosamente, ela se encontra em uma região altamente responsiva a faces. Qual o papel dessa área na alfabetização de crianças e adultos? Ensinar a ler e escrever melhora o desempenho neural em geral, ou existe competição entre funções, por exemplo, entre leitura e reconhecimento de faces?

Algumas respostas foram recentemente publicadas na revista Science por uma equipe de cientistas europeus de diversas instituições, bem como brasileiros do Instituto Internacional de Neurociências e Reabilitação da Rede Sarah. Por meio de comparação entre analfabetos, alfabetizados na infância e ex-analfabetos, os pesquisadores dissecaram os efeitos da escolaridade e da alfabetização no estudo da ativação da AFVP e de outras áreas corticais. Foram medidas as respostas cerebrais à linguagem falada e escrita, faces, casas, ferramentas e padronagens visuais em adultos com diferentes níveis de alfabetização.

Verificou-se que a alfabetização incrementou respostas visuais e fonológicas, aumentou a ativação pela escrita do giro fusiforme esquerdo e induziu uma competição com a representação de faces nessa região. O estudo trouxe ainda um achado inspirador: boa parte das mudanças neurais relacionadas à alfabetização ocorreu mesmo em adultos ensinados tardiamente.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Briga de criança



 
Do site: www.mentecerebro.com.br, em 18 de novembro de 2011

Durante um conflito meninos tendem a apoiar os fortes; meninas costumam socorrer os frágeis
 
© Yaviki/Shutterstock

Ao contrário dos adultos, as crianças têm uma capacidade natural de se reconciliar após uma disputa, contanto que façam parte do mesmo grupo. É o que afirma uma pesquisa realizada por um grupo de antropólogos da Academia Russa de Ciências, coordenada por Marina Butovskaya, em que foi estudado o comportamento das crianças de 6 anos, em média. Segundo o estudo, é raríssimo que antes da adolescência se formem inimizades estáveis se os pequenos compartilham o mesmo território – classe, time de futebol ou o pátio do prédio onde vivem. Elas costumam reatar a amizade espontaneamente, sem carregar consigo rancores ou ressentimentos. E se um adulto fizer uma intervenção as coisas podem piorar, porque os protagonistas da briga sentem que ela foi mais grave do que realmente é, já que despertou a atenção de alguém “grande”. Pesquisadores russos também descobriram uma diferença interessante entre meninos e meninas: os primeiros tendem a elevar o próprio status no grupo dando razão ao mais forte; já as meninas se preocupam mais em reconciliar os adversários e ajudam os mais fragilizados. Após os 6 anos as crianças começam a absorver os modelos culturais dos adultos, por isso não é estranho notar essas diferenças, principalmente em uma sociedade como a russa, na qual os homens são machistas e as mulheres, particularmente dispostas a prestar solidariedade.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A sedução das vitrines

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 17 de novembro de 2011

Curiosidade que nos leva a andar pelas lojas está ligada a instintos de caçadores e coletores
 
© Robbi /Shutterstock

Vitrines costumam despertar nossa curiosidade e, diante de uma liquidação, muitos de nós passam horas à procura do melhor produto, exibido posteriormente como presa abatida. “É justamente disso que se trata”, diz o psicólogo Roberto Pani. “A curiosidade que nos leva a andar pelas lojas está ligada a instintos atávicos de caçadores e coletores; agradam-nos a procura, a exploração e um pouco de desafio.” Por esse motivo, segundo o psicólogo, muitas pessoas empreendem verdadeiras expedições em busca de algo único; descobrem “territórios de caça”, como um outlet ou uma loja original, partilhados apenas com amigos íntimos.


Segundo Pani, as compras ajudam a construir uma imagem melhor de nós mesmos. “Gostamos de bens que nos auxiliam a projetar o perfil desejado.” Vanni Codeluppi acrescenta que as pessoas não compram apenas objetos, mas símbolos capazes de transmitir informações sobre sua identidade ou sobre o grupo ao qual desejam pertencer. “Quando escolhemos uma bolsa ou uma bebida, buscamos algo que represente a imagem com a qual nos identificamos.”


Entre mulheres, por exemplo, prevalece o consumo de roupas e produtos de beleza. Os homens, segundo Giovanni Siri, desejam carros e aparelhos tecnológicos, equipamentos que ampliam sua capacidade cognitiva e a possibilidade de exercer controle sobre as máquinas. Codeluppi vê nesse comportamento o risco de obsessão. Para ele, embora os homens pareçam mais racionais, muitas vezes compram por impulso, enquanto as mulheres avaliam e tendem a escolhas mais ponderadas. Segundo ele, estatísticas demonstram que as pessoas menos interessadas pelo consumo são aquelas que fundamentam a própria identidade em outros valores, como os ambientalistas ou os participantes de movimentos religiosos.