Iniciando o XIV Encontro
Há 8 anos
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divulgação |
NA FICÇÃO: Sansão e Dalila, de 1949, conta a história do personagem bíblico cuja força se concentra nas melenas |
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Acreditar em ideias como amor à primeira vista, por exemplo, pode aumentar o risco de desilusão afetiva | ||||||
Em seguida, Holmes pediu aos espectadores que respondessem a um questionário. Como era de esperar, eles revelaram mais afinidade com conceitos românticos do que outra centena de voluntários que assistiram, em uma sala paralela, a um drama do diretor David Lynch, repleto de personagens complexos e situações perturbadoras, como traição amorosa. A conclusão, afirma o psicólogo, é simples: filmes românticos reforçam expectativas irreais, o que aumenta as chances de insatisfação com os relacionamentos afetivos. | ||||||
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Práticas de contemplação favorecem a redução de sintomas de depressão e mal-estar causados pela quimioterapia | ||||||
Nesse sentido, técnicas que favoreçam o fortalecimento emocional e imunológico podem ser importantes não só para a melhoria da qualidade de vida do paciente, mas também para a eficácia da terapêutica. É o caso da ioga, antiga disciplina oriental e uma das mais utilizadas intervenções dentro das chamadas terapias mente-corpo (mind-body interventions) que tem por base a prática de posturas físicas específicas, respiração, relaxamento e meditação. Essas técnicas vêm sendo investigadas há anos devido à sua eficácia no tratamento dos transtornos mentais associados ao câncer (estresse, depressão, ansiedade etc.) e como determinantes no controle de sintomas da doença, uma vez que favorecem o fortalecimento do sistema imunológico dos pacientes. Recentemente, pesquisadores notaram que a meditação é capaz de reforçar o sistema imunológico tanto de pessoas saudáveis quanto de doentes. Quando trazemos à mente algo ruim, o pensamento gerado no córtex pré-frontal (área responsável pelo planejamento de ações e pela tomada de decisões, uma espécie de maestro do nosso cérebro) rapidamente se projeta para o sistema límbico, envolvido no processamento das emoções. O hipotálamo é então ativado pelo chamado eixo hipotalâmico--pituitário-adrenal (HPA) e o cortisol (hormônio do estresse) é sintetizado. Se essa situação for recorrente – como nas ocasiões em que enfrentamos situações difíceis –, o sistema imune acaba se enfraquecendo. Mas, se com a prática de técnicas contemplativas específicas esses estados mentais forem substituídos por bons pensamentos, o impacto positivo no sistema imune muitas vezes se torna evidente. Durante a contemplação, o cérebro parece desencadear uma cascata de reações benéficas que acabam produzindo um efeito ansiolítico poderoso, capaz de alterar o funcionamento do sistema imunológico e toda a dinâmica emocional do paciente. Entre as modificações neuroquímicas estão, por um lado, o aumento da atividade parassimpática, gabaérgica e serotonérgica, dos níveis de endorfina e a diminuição da síntese de norepinefrina; e, por outro, a diminuição dos níveis de cortisol. Essas mudanças experimentadas durante a ioga podem se transformar em traços, levando – a longo prazo – à consolidação da prática e aumentando as chances de prevenção de futuros episódios de ansiedade, depressão, estresse e doenças psicossomáticas – algo que parece determinante no tratamento de indivíduos com câncer. | ||||||
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Analisar os próprios erros com generosidade, mas sem poupar críticas, pode trazer benefícios terapêuticos | ||||||
“Não se trata de ter pena ou ser complacente. Compaixão é tentar entender a dor do outro e ajudá-lo a enxergar atitudes que contribuem para o sofrimento”, define a psicóloga Kristin Neff, professora da Universidade do Texas, especialista no tema, que acompanhou o trabalho do grupo. Estudos anteriores mostram que pessoas com autocompaixão evitam críticas duras e generalizações negativas sobre si e sobre os outros. “Elas têm maior tendência a encarar os erros como aprendizado”, diz a psicóloga, ressaltando que isso não significa serem condescendentes com o que desaprovam. Várias pesquisas revelam que pessoas excessivamente críticas e as que revelam autocompaixão têm, em média, desempenho acadêmico e profissional semelhante – com a diferença de que as últimas reagem melhor quando não conseguem atingir algum objetivo. Segundo Kristin, isso ocorre porque elas não associam o sentimento de valor pessoal ao sucesso. Em outro estudo da Universidade da Califórnia, voluntários disseram se sentir melhor depois de escrever cartas de apoio a pessoas que viveram experiências traumáticas, como machucar alguém em um acidente de trânsito. “Como muitos de nós descobrem intuitivamente, aproveitar oportunidades de ajudar os outros desvia o foco de problemas pessoais e, muitas vezes, revela que algo que antes considerávamos uma tragédia na verdade não é”, explica uma das autoras da pesquisa, Juliana Breines. E cultivar a autocompaixão, segundo Kristin, pode ser mais simples do que parece. Ela menciona um experimento que mostra que envolver os braços ao redor do próprio corpo, em um generoso “autoabraço”, nos deixa mais propensos a agir gentilmente. | ||||||
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Pessoas muito preocupadas com o salário podem se tornar mais insatisfeitas | ||||||||
“Ao entrevistá-los depois do teste, observamos que ficaram mais impacientes e insatisfeitos em passar tempo fazendo o que bem entendessem do que voluntários que não calcularam seus ganhos”, diz Sanford DeVoe, um dos autores do estudo. Segundo ele, a máxima “tempo é dinheiro”, eternizada pelo pensador Benjamin Franklin, pode até incentivar a produtividade, mas é aconselhável se esquecer dela pelo menos quando estivermos de folga. |
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Em Deuses da Carnificina, o cineasta analisa valores éticos das relações contemporâneas | ||||||||
É difícil não ver em Deus da carnificina, de Roman Polanski, certa crítica pessoal à moral americana, seus valores e seu cinismo. O cineasta, em prisão domiciliar por sete meses na Suíça, escreveu o roteiro adaptando a peça de teatro homônima, da francesa Yasmine Reza. Polanski foi detido por causa de uma pendência com a Justiça dos Estados Unidos. Condenado em 1977 por manter relações sexuais com uma menor, fugiu para a França onde vive até hoje. Em 2009 foi preso ao chegar ao aeroporto de Zurique, a pedido das autoridades americanas, que aguardaram, em vão, sua extradição. Meses depois foi liberado pelas autoridades suíças. A condenação impede que ele volte aos Estados Unidos, onde viveu por anos. Foi lá que sua mulher, a atriz Sharon Tate, foi assassinada. Poucas coisas são mais sufocantes do que estar confinado a algum ambiente, seja ele qual for. O espectador de Polanski, aprisionado como voyeur de uma cena interminável de carnificina, lembra o leitor do clássico Longa jornada noite adentro, escrito em 1941 pelo dramaturgo americano Eugene O´Neill e também adaptado para o cinema com a direção de Sidney Lumet. Em ambas as obras quatro personagens enclausurados revelam intimidades e a decomposição de sua consistência moral. A carnificina de Polanski se passa dentro de um apartamento em Nova York. Com exceção da primeira e da última cenas, tomadas de crianças vistas ao longe em um parque, somos impedidos, como espectadores, de deixar a sala na qual dois casais começam por trocar discursos envernizados e polidos, mas rapidamente deixam transparecer a complexidade das relações inter e intrassubjetivas, marcadas por aspectos da atualidade. Alan, personagem de Christoph Waltz, e Nancy, vivida por Kate Winslet, visitam Michael, interpretado por John Reilly, e Penélope, encarnada por Jodie Foster. O primeiro casal pretende se desculpar por uma briga em que seu filho agrediu o filho de Michael e Penélope. Alan e Nancy são de classe média alta. Ele, um importante e ocupado advogado que fala incansavelmente ao celular; ela, uma bem-sucedida corretora de investimentos. Michael e Penélope têm situação financeira menos confortável: ele é vendedor de material hidráulico e ela, escritora com um único livro publicado. Este encontro de casais, aparentemente tão diferentes entre si, que se inicia de forma correta e educada a partir de um gesto de desculpas (aliás, pode haver algo tão civilizado quanto um pedido pessoal de desculpas?), torna-se, com o passar do tempo, um encontro marcado por críticas e acusações, cobranças e agressões verbais – uma verdadeira batalha campal contemporânea. Entre a tentativa de ir embora, o oferecimento de um café com torta, nova tentativa de partida e, em seguida, o compartilhar de uma dose de uísque, os personagens circulam pela sala, quase que numa coreografia. Paralelamente, entre eles surgem temas como a maneira mais adequada de educar os filhos, a violência das gangues adolescentes, o lucro da indústria farmacêutica a qualquer custo, a falta de escrúpulos do capitalismo, o que é verdade ou mentira, o valor do trabalho. Afinal, qual o valor da vida? No desmanche de papéis tão rigidamente estabelecidos no início do filme, os valores e a ética de cada um se mostram de maneira fluida, vacilante, itinerante. Nesse processo, os personagens ancoram-se em posições diferentes a cada momento, seja na identidade de gênero, seja na identidade profissional ou, ainda, como parte de um casal. As mulheres se unem para atacar os homens, mas no fundo os amam... e os odeiam. O bemsucedido advogado defende a indústria farmacêutica que, infelizmente, produz remédios de resultados duvidosos. Mas, consciente do paradoxo, afirma: “Quem se preocupa com alguma coisa além de si mesmo?”. Na dinâmica grupal, o amor entre um casal justifica o enfrentamento da outra dupla, mas a desavença com o parceiro produz solidariedade entre opressores e oprimidos. Por vezes, a família é tudo. Em seguida, ela é posta como se fosse a pior coisa que Deus inventou. Enfim, a aparente maturidade se desfaz e revela um discurso individualista e narcísico, mais próximo ao das crianças... Como diz Alan: “Ninguém se importa com ninguém”. Valores e ética ou, justamente, a falta deles, se revelam por trás de falas e comportamentos calcados no “politicamente correto”. Carnificina moderna! DEUS DA CARNIFICINA. 80 min – França, Alemanha, Polônia e Espanha. Direção: Roman Polanski. Elenco: Kate Winslet, Jodie Foster, John C. Reilly, Christoph Waltz, Elvis Polanski, Eliot Berger, Joseph Rezwin, Nathan Rippy, Tanya Lopert, Julie Adams |