Aulas de dança de salão exercitam a cognição, a memória e as habilidades sociais
Suzana Herculano-Houzel
Gonçalo Viana |
Aprender é algo que o cérebro faz a vida toda, conforme nossas experiências vão deixando suas marcas em nossos neurônios e suas conexões. O que funciona, e é usado, fica; o que não serve vai sendo descartado, cedendo lugar para outras informações. Se você estiver precisando se convencer de que continua capaz de aprender, e ainda quiser se divertir, suar a camisa e fazer amigos tenho uma sugestão: experimente fazer aulas de... dança de salão.
Lições de dança são um ótimo exemplo de como o aprendizado, de modo geral, acontece, e dos fatores que o influenciam. Para começar: nada de aprender uma coreografia complexa de uma vez só. Os professores sabem há tempos que o cérebro assimila novos programas motores aos poucos, então ensinam os passos em etapas. O córtex motor elabora a nova sequência de movimentos, até então nunca usada, ordena sua execução e começa a ajustá-la, de acordo com erros e acertos, com a ajuda dos núcleos da base. Cada movimento fica mais fluido conforme o cerebelo, através de tentativa e erro, vai ajustando os movimentos adequados, antes mesmo que eles sejam executados.
Mas, para a dança de salão, não basta aprender os passos; é preciso aprender os sinais associados a cada um, os pequenos gestos com que o cavalheiro conduz sua dama, indicando-lhe, sem falar, qual será o passo seguinte. Tudo isso requer repetição, mas prestar atenção é fundamental. Por definição, já que nossa atenção é limitada a uma coisa de cada vez, tem sempre mais eventos ocorrendo do que nosso cérebro consegue dar conta – e a atenção é o filtro que serve como porta de entrada para a memória. Sem prestar atenção no professor ou no parceiro, nada feito. O que é ótimo: como é preciso concentrar esforços sobre as próprias pernas, os problemas do mundo ficam... lá fora.
Depois de aprender os sinais e polir cada sequência de movimentos, é hora de coordená-las em um programa motor completo, que cuida da execução fluida de combinações de sombreros, coca-colas, ochos e outros passos – no ritmo da música, de preferência, se seu cerebelo ajudar. E haja cerebelo para manter o prumo com tantos rodopios. Motivação também é fundamental. Afinal, para ter a prática que leva à perfeição, ou pelo menos ao bom desempenho, é preciso ter vontade: é preciso querer estar ali. Experimentar um pouco de tudo nos dá oportunidade para descobrir do que gostamos, mas poder escolher investir no que se realmente gosta é fundamental.
Com a prática, chega-se ao ponto tão desejado onde a execução dos programas motores aprendidos se torna automática, liberando o córtex cerebral para outros assuntos, como conversar com o parceiro ou até cantarolar a música. É aqui que dançar deixa de ser esforço e vira prazer puro: sequências de movimentos executados sem precisar de supervisão cortical, simplesmente em resposta aos movimentos do outro. Seu cérebro aprendeu a dançar!
Dança de salão é tudo de bom. Academias são lugares alegres, cheios de jovens e idosos, todos dispostos a aprender coisas novas – e ainda oferecem um exercício completo para corpo e cérebro. Dançando, é possível suar, dar um fim a toda tensão muscular acumulada durante o dia, e manter saudável a resposta do cérebro ao estresse. Dançar ainda treina a memória, com o aprendizado de passos e nomes novos; exercita suas habilidades sociais, necessárias para interagir de modo cortês com pessoas desconhecidas e fazer novos amigos, e ativa o sistema de recompensa, o que garante boas horas de prazer e diversão.
Do site: www.mentecerebro.com.br
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