Falta de mensageiros
A tensão interna causada por medos,
inibições sociais, dificuldades de expressão de emoções e estados
depressivos faz com que os sintomas sejam mantidos. E frequentemente
acrescenta-se a ele a força do hábito: arrancar cabelos torna-se um
ritual diário, por exemplo, ao dirigir, ler ou telefonar, que ocorre de
forma inconsciente e automática, sem um desencadeador concreto. Além
desses fatores psicossociais, causas biológicas, como o genótipo, por
exemplo, parecem desempenhar papel importante: estudos mostram que o
transtorno surge com frequência de 5% a 8% acima da média se outro
membro da família já sofre do mesmo problema. O quadro, no entanto, não
pode ser atribuído apenas à herança genética; também pode ser explicado
como comportamento aprendido.
Atualmente, há alguns modelos
animais que talvez possam ajudar a esclarecer as causas biológicas da
tricotilomania. Camundongos nos quais o gene hoxb8, envolvido no
desenvolvimento do sistema nervoso, sofreu mutação apresentam um
comportamento de cuidados corporais muito alterados. Entre outras
coisas, eles arrancam os próprios pelos. E o geneticista molecular
Stephan Züchner, da Universidade de Miami, na Flórida, descobriu em 2009
que o desligamento da proteína da sinapse SAPAP3 em roedores causa
sintomas que lembram tanto transtornos obsessivo-compulsivos quanto
tricotilomania. Porém, ainda não se sabe em que medida esses modelos
podem ser transferidos para seres humanos. Pesquisadores constataram,
por meio de procedimentos de imageamento cerebral, diversas alterações
estruturais em pessoas afetadas pela compulsão. Um grupo de
pesquisadores coordenado por Samuel Chamberlain, da Universidade de
Cambridge, na Grã-Bretanha, descobriu em 2008 que os corpos celulares
neurais (a chamada “substância cinzenta”) apresentam uma densidade muito
grande em várias regiões cerebrais nessas pessoas. Isso se aplica, além
de várias outras partes do córtex cerebral, também ao estriado (que
participa do surgimento de hábitos), à amígdala e ao hipocampo do
hemisfério cerebral esquerdo (responsáveis por aprendizados associados à
emoção). Esses dois aspectos contribuem bastante para o surgimento e a
continuidade da tricotilomania. Uma densidade aumentada das células
cerebrais ocorre também em outros distúrbios marcados pelo descontrole,
como a síndrome de Tourette e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Nos
últimos anos, neurobiólogos associaram a tricotilomania à escassez de
diversos neurotransmissores, principalmente da substância mensageira
serotonina, frequentemente vinculada a outros distúrbios
comportamentais, como controle reduzido dos impulsos e movimentos
repetitivos. Em vários estudos pacientes usaram os chamados inibidores
seletivos da recaptação da serotonina (SSRI). Esse tipo de
antidepressivo aumenta a concentração do transmissor nos pontos de
contato sinápticos entre os neurônios, combatendo assim uma possível
falta de serotonina. Os SSRIs já se mostraram eficazes para o tratamento
de transtornos obsessivo-compulsivos há muito tempo. Para a
tricotilomania, por outro lado, os resultados de estudos obtidos até
agora são contraditórios. Alguns estudos concluíram que houve uma
melhora dos sintomas, outros, não. Além disso, o efeito do medicamento
frequentemente retrocedia em um tratamento de maior duração, e após a
sua suspensão muitas vezes ocorriam recidivas. A administração de
antidepressivos, portanto, parece recomendável quando os pacientes
sofrem concomitantemente de graves depressões.
Do site: www.mentecerebro.com.br
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