= continuação =
Se essas estatísticas o surpreendem, provavelmente é porque muitas pessoas fingem ser extrovertidas. Introvertidos disfarçados passam despercebidos em parquinhos, nas salas de aula e nos corredores de empresas. Alguns enganam até a si mesmos, até que algum fato da vida – uma demissão, a saída dos filhos de casa, uma herança que permite que passem o tempo como quiserem – os leva a avaliar a sua própria natureza. Você só precisa abordar o tema deste livro com seus amigos e conhecidos para descobrir que mesmo as pessoas mais improváveis se consideram introvertidas.
Faz sentido que tantos introvertidos se escondam até de si mesmos. Vivemos em um sistema de valores que podemos chamar de “ideal de extroversão” e representa a crença onipresente de que o ser humano em sua melhor forma é gregário, “alfa” e se sente confortável sob a luz dos holofotes. O típico extrovertido prefere a ação à contemplação, os riscos à cautela, a certeza à dúvida. Ele escolhe as decisões rápidas, mesmo expondo-se mais à possibilidade de estar errado. Trabalha bem em equipes e socializa em grupos.
Gostamos de acreditar que prezamos a individualidade, mas muitas vezes admiramos um determinado tipo de indivíduo – o que fica confortável sendo o centro das atenções. É claro que toleramos solitários com talento – desde que fiquem incrivelmente ricos ou que prometam fazê-lo. Afinal, a introversão – com suas companheiras sensibilidade, seriedade e timidez = é hoje, um traço de personalidade considerado de “segunda classe”, quase uma patologia. Já a extroversão parece ser um estilo de personalidade bem mais atraente, muitas vezes transformado em um padrão opressivo que a maioria de nós acha de que deve seguir.
Esse ideal tem sido bem documentado em vários estudos, apesar de essa pesquisa nunca ter sigo agrupada. Pessoas loquazes, por exemplo, são avaliadas como mais esperas, mais bonitas, mais interessantes e mais desejáveis como amigas. A velocidade do discurso conta tanto quanto o volume: a maioria das pessoas tende a considerar mais competentes e simpáticos aqueles que falam rápido. Em pesquisas, aplica-se a mesma dinâmica: os que se mostram eloquentes são considerados mais inteligentes que os reticentes, apesar de não haver nenhuma correlação entre o falatório e boas ideias.
Até a palavra “introvertido” ficou estigmatizada. Um estudo não publicado, realizado pela psicóloga Laurie Helgoe, professora-assistente do departamento clínico da Escola de Medicina da Universidade West Virginia, mostrou que os retraídos (e muitas vezes tímidos) descrevem sua própria aparência física com linguagem vívida. Usam expressões como “olhos verde-azulados”, “exóticos”, “maçãs do rosto salientes”, mas quando solicitado que descrevam sua forma de ser, em geral apresentam uma imagem insossa e até desagradável.
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