* por Tom Coelho
“Nada é permanente, exceto a mudança.”
(Heráclito de Éfeso)
As
pessoas não resistem às mudanças, resistem a ser mudadas. É um
mecanismo legítimo e natural de defesa. Insistimos em tentar impor
mudanças, quando o que precisamos é cultivar mudanças. Porém, mudar e
mudar para melhor são coisas diferentes.
O
dinheiro, por exemplo, muda as pessoas com a mesma frequência com que
muda de mãos. Mas, na verdade, ele não muda o homem: apenas o
desmascara.
Esta é uma das mais importantes constatações já realizadas, pois
auxilia-nos a identificar quem nos cerca: se um amigo, um colega ou um
adversário. Esta observação costuma dar-se tardiamente, quando danos
foram causados, frustrações foram contabilizadas, amizades foram
combalidas. Mas antes tarde, do que mais tarde.
Os
homens são sempre sinceros. Mudam de sinceridade, nada mais. Somos o
que fazemos e o que fazemos para mudar o que somos. Nos dias em que
fazemos, existimos de fato; nos outros, apenas duramos.
Segundo
William James, a maior descoberta da humanidade é que qualquer pessoa
pode mudar de vida, mudando de atitude. Talvez por isso a famosa “Prece
da serenidade” seja tão dogmática: mudar as coisas que podem ser
mudadas, aceitar as que não podem, e ter a sabedoria para reconhecer a
diferença entre as duas.
Tolerância
Cada
vida são muitos dias, dias após dias. Caminhamos pela vida cruzando com
ladrões, fantasmas, gigantes, velhos e moços, mestres e aprendizes. Mas
sempre encontrando a nós mesmos. Na medida em que os anos passam tenho
aprendido a me tornar um pouco pluma: ofereço menos resistência aos
sacrifícios que a vida impõe e suporto melhor as dificuldades. Aprendi a
descansar em lugares tranquilos e a deixar para trás as coisas que não
preciso carregar, como ressentimentos, mágoas e decepções. Aprendi a
valorizar não o olhar, mas a coisa olhada; não o pensar, mas o sentir. Aprendi que as pessoas, em regra, não estão contra mim, mas a favor delas.
Por
isso, deixei de nutrir expectativas de qualquer ordem a respeito das
pessoas e me surpreender com atitudes insensatas. Seria desejável que
todos agissem com bom senso, vendo as coisas como são e fazendo-as como
deveriam ser feitas. Mas no mundo real, o bom senso é a única coisa bem
distribuída: todos garantem possuir o suficiente...
Somos
responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que
impedimos de fazer. Pouco aprendemos com nossa experiência; muito
aprendemos refletindo sobre nossa experiência. Temos nossas fraquezas e
necessidades, impostas ou autoimpostas. “Conheço muitos que não puderam
quando deviam, porque não quiseram quando podiam”, disse François
Rabelais.
Por
tudo isso, é preciso tolerância. É preciso também flexibilidade. Mas é
preciso policiar-se. Num mundo dinâmico, é plausível rever valores,
adequar comportamentos, ajustar atitudes. Mantendo-se a integridade.
PS:
O texto utiliza frases de Albert Camus, Descartes, James Joyce, Melody
Arnett, Padre Antônio Vieira, Peter Senge, Robert Sinclair e Tristan
Bernard.
* Tom Coelho
é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira,
liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições
para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e
coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.
Texto recebido do autor por e-mail