quarta-feira, 17 de outubro de 2012

QUANDO O ESTRESSE PENETRA NA PELE (1/5)



Por Angelika Bauer-Delto, jornalista científica

A sobrecarga psíquica pode piorar significativamente algumas doenças. Pesquisadores investigam como preocupações e tensões constantes contribuem para que a neurodermite e outras inflamações não só apareçam, mas também se agravem

Às 5h45 do dia 17 de janeiro de 1995 a terra tremeu no sul do Japão. Em apenas 20 segundos, a catástrofe natural em Kobe eliminou ávida mais de 6 mil pessoas e aniquilou 300 mil casas. A violenta destruição não passou incólume pelo psiquismo dos afetados. Conforme comprovam inúmeros estudos, nas áreas destruídas repentinamente muito mais gente passou a sofrer de doenças vasculares associadas ao estresse, em comparação às estatísticas nas regiões não afetadas.
No entanto, a sobrecarga emocional não prejudica apenas o coração. O dermatologista Atsuko Kodama, do Centro Médico de câncer e doenças Cardiovasculares de Osaka, observou em 1999 que a catástrofe provocou um efeito surpreendente: piorou sensivelmente também a situação da pele de muitas pessoas com neurodermite . Mais de um terço da população passou a sofrer de eczemas, coceiras e inflamações cutâneas com mais frequência.  
Essa constatação não surpreende pessoas que sofrem com problemas de pele. Em geral, elas sabem que irritação, preocupações e tensão podem piorar os sintomas. Principalmente as doenças de pele inflamatórias como a neurodermite, a psoríase (uma manifestação autoimune que acusa uma forte escamação da pele) ou o vitiligo, pioram justamente quando estamos diante de uma situação na qual nos sentimos avaliados, enfrentamos uma grande frustração ou em casos de conflito.


Em várias ocasiões a origem do problema está na infância. É o que demonstraram em 2010 a psicóloga Edita Simoni – e seus colegas do Departamento de Dermatologia do Hospital das Clinicas da Universidade de Rijeka, na Croácia. Os pesquisadores entrevistaram pacientes com psoríase e pessoas saudáveis do grupo de controle, perguntando sobre experiências traumáticas que tinham vivido na infância. De fato, aqueles que sofreiam de psoríase relataram com muito mais frequência experiências dolorosas e estressantes. Vários, no entanto, começaram a sofrer com as descamações de pele somente na adolescência. Os pesquisadores supõem que, provavelmente, a instabilidade emocional tão presente nessa fase da vida reforça os efeitos negativos das vivências traumáticas.
Mas por qual caminho o estresse “penetra na pele”? Segundo médicos e psicólogos, a tensão e a sobrecarga emocional crônicas desequilibram as defesas do corpo – principalmente se faltam estratégias pessoais adequadas de superação (por exemplo, acompanhamento psicológico, hábito de praticar meditação e espaço entre os afazeres diários pra simplesmente se dedicar a atividades prazerosas).



Da Revista Mente & Cérebro n° 235, Setembro/2012

 

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