sábado, 18 de julho de 2009

O Peso do Diploma

A Carreira de Jornalismo Sem Diploma



Curioso editorial recente de O Estado de São Paulo, "Jornalista sem Diploma".
Jornalistas precisam de diploma sim, mas são os diplomas dos assuntos que eles escrevem, economia, direito, política, medicina.
Quando, antes do decreto lei de 1965, os economistas escreviam em jornais, os sindicatos de jornalistas entravam na Justiça alegando "exercício ilegal da profissão de jornalista".
Os juízes do trabalho eram obrigados a aceitar. Não mais, com a decisão recente do Supremo.
A saída das empresas de jornalismo, foi oferecer "colunas" a economistas como Delfim Netto, Pedro Malan, Ilan Goldsjan, Luiz Mendonça de Barros, Gustavo Franco, Mailson da Noórega, eu, Paulo Nogueira Baptista, e mais uma dúzia que não preciso mencionar.
Mas mesmo esta prática, estava morrendo à medida que mais e mais jornalistas começaram a escrever "colunas", o que obviamente não era necessário, espaço cativo já tinham.
Agora o feitiço virou contra o feiticeiro. Agora é o sindicado dos economistas que poderá entrar na justiça contra jornalistas de economia por "exercício ilegal da profissão de economista".
Se isto ocorrer, não teremos mais jornalistas escrevendo que a caderneta de poupança rendia 3% ao mês, como assisti por 30 anos da minha vida, quando todo economista sabia que a caderneta rendia somente 0,5% ao mês, o juro real.
Não teremos mais jornalistas do caderno de empresas e negócios dizendo que o lucro da empresa X era meramente contábil. Todo lucro é contábil.
O que sobrará para aquele aluno que está no quarto ano de Jornalismo?
O jornalismo dos anos 1930, era o jornalismo investigativo, especialmente na área criminal. Era a procura do "bandido da luz vermelha", do "Jack, o Estripador". Jornalistas aprendiam técnicas de interrogatório, "onde você estava no momento do crime", e tentavam achar inconsistências e contradições.
Quantos filmes de Hollywood mostravam que o crime era desvendado pelos jornalistas e não pelo investigador da polícia?
Watergate foi a glória do jornalismo. Vide o filme, "Intrigas de Estado", onde Russel Crowe investiga o governo americano.
A arrogância que muitos atribuem à jornalista Miriam Leitão, não é arrogância, mas fruto desta técnica que todo jornalista formado aprende. Ela tem de "interrogar", "desconfiar", "apurar".
Miriam não tem diploma de Economia, ela não tem como avaliar cientificamente o que está sendo dito, o máximo que pode fazer é tentar se certificar se o entrevistado não está querendo enganá-la, bem como ao telespectador. O que, quando o entrevistado é o Ministro da Fazenda por exemplo, é sempre uma possibilidade concreta.
"Mas, na semana passada o Sr. disse", em vez de "Mas isto reduzirá as reservas internacionais brasileiras".
Portanto, nas áreas do jornalismo de investigação, do interrogatório, do dossiê, da denúncia, o diploma de jornalismo será ainda muito importante. Mas nas áreas técnicas, não.
A seção de Crimes, Sociedade, Social, o método de investigação e interrogatório continuam válidas. O mercado do jornalista sem dúvida cairá, e o do economista, advogado, contador, administrador que escreve bem e que entende do assunto que escreve deverá aumentar.
Jornalista precisa de diploma, sim, mas o diploma correto. Especialmente na era da internet, da notícia em cima da hora, onde não há como investigar, "apurar", e sim entender corretamente o que está acontecendo, e para isto requer conhecimento do assunto como ninguém.


This item is from "Stephen Kanitz"

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