terça-feira, 31 de julho de 2012

O caminho partilhado

27 de julho de 2012, do site: www.mentecerebro.com.br

Para superar a dor causada pela perda do pai, morto no atentado de 11 de setembro de 2001, um menino autista empreende uma jornada pelas ruas de Nova York
por Gláucia Leal
© DIVULGAÇÃO

O processo de elaboração de uma perda muito dolorosa pode ser comparado ao desatar de vários pequenos laços. É difícil falar em tempo de elaboração nesses casos, mas é possível considerar o período de um ano para que a dor mais intensa seja experimentada, suportada e elaborada – ainda que não termine. Por que 12 meses? Na verdade, o prazo é mais simbólico que cronológico, pois nesse período são vividas todas as datas comemorativas, como Natal e aniversários. Para seguir adiante, é imprescindível o desligamento da libido, uma ideia que aparece no texto Luto e melancolia, de Freud, de 1915. “O objeto não morreu verdadeiramente, foi perdido como objeto amoroso (...). Em outros casos ainda achamos que é preciso manter a hipótese da perda, mas não podemos discernir claramente o que se perdeu, e é lícito supor que o doente pode ver conscientemente o que perdeu”, escreve o criador da psicanálise. O filme Tão forte e tão perto, dirigido por Stephen Daldry, fala desse desligamento necessário.

Sem passar por esse processo, torna-se impossível retomar (ou iniciar) outros investimentos libidinais e há o risco de que seja desencadeado um quadro melancólico. Para superar a saudade do pai, interpretado por Tom Hanks, morto no atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, em Nova York, o protagonista, Oskar Schell, de 11 anos, vivido por Thomas Horn, empreende uma sofisticada jornada quando encontra uma misteriosa chave.

No dia do ataque, o pai havia ido a uma reunião de negócios no restaurante no topo da Torre Norte, a primeira a ser atingida. Nenhuma das pessoas que estava no local sobreviveu, mas muitas conseguiram falar com pessoas queridas antes do desabamento. Ele chega a ligar para casa várias vezes antes de a torre cair e deixa mensagens na secretária eletrônica. Oskar as ouve, mas esconde esse fato da mãe. Atormentado, tenta encontrar algum sentido para o fenômeno atravessado pela intangível brutalidade.

Começa aí uma espécie de intricada caça ao tesouro, cujo prêmio por superar os medos, a solidão e a angústia é a possibilidade de reintegrar psiquicamente a figura paterna e livrar-se da culpa por não ter sido “melhor” do que foi possível ser.

Nessa busca, o garoto encontra-se com o “inquilino” idoso que se hospeda na casa de sua avó, a poucos metros de sua residência. Gradualmente, o homem que nunca diz nada, apenas escreve mensagens em um bloquinho, adquire papel importante na vida do menino ao engajar-se de forma silenciosa (e por vezes relutante) na expedição.

Oskar apresenta sintomas do espectro autista, mas essa característica é pouco explorada no filme e ganha maior ênfase no livro Extremamente alto e incrivelmente perto (Rocco, 2006), de Jonathan Safran, no qual o filme se baseia. Porém, independentemente de eventuais sintomas mais ou menos óbvios, Oskar é uma criança excepcional: extremamente inteligente, gosta de inventar coisas, admira a cultura francesa e é um inveterado defensor da paz mundial. O livro tem seu encanto, uma vez que recursos gráficos como imagens, anotações, números e espaços propositadamente mantidos em branco enriquecem a narrativa do protagonista.

Deixando de lado a tentação de estabelecer comparações, o filme tem muito a dizer. Algumas constatações permeiam a história. A primeira é óbvia, mas vale ser lembrada: nunca é possível reconhecer o último momento de felicidade que antecede uma tragédia. A segunda, atrelada à anterior, é que, por mais que tentemos negar, a impermanência se faz presente. E embora saibamos que tudo muda a todo o momento tendemos a nos agarrar ao que parece estável – o que inevitavelmente leva à frustração.

Procurando respostas que supram as lacunas do luto, Oskar encontra vários personagens, cada um com os próprios anseios, tragédias pessoais e alegrias – possivelmente essas pessoas e suas vicissitudes representem um aspecto subjetivo a ser encontrado, visitado e acolhido. A forma como o menino faz essas aproximações revela, a cada momento, a presença viva do pai em contraste com a da mãe – desenergizada e “morta” aos olhos do filho, aparentemente entregue à própria dor e incapaz de acolhê-lo. Mas só parece: ela oferece respaldo à aventura do menino.

Para quem se dedica ao atendimento e à escuta de pessoas, o filme reserva uma espécie de “plus”. A função do personagem da mãe pode ser comparada à do psicanalista que dá suporte ao paciente, muitas vezes de forma discreta, acompanhando seus movimentos de forma intensa e próxima. A revelação da força e da dedicação da mãe confere aspectos inesperados à trama. Enquanto o menino segue mapas, desafia-se, revive e reencena a morte do pai, criando chances de superar o trauma, a mãe vela por ele. Delicadamente, refaz os passos do menino. E ao partilhar o caminho percorrido ela encontra o próprio trajeto para superar a melancolia.
Gláucia Leal é jornalista, psicóloga, psicanalista e editora de Mente&Cérebro.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O poder da amizade




23 de julho de 2012, do site: www.mentecerebro.com.br

Se de um lado as relações humanas permanecem frágeis e tensas, de outro, abre possibilidades de criar e recriar experiências
por Maria Consuêlo Passos
© ATRIBUT/SHUTTERSTOCK

Compartilhar a vida. Eis um grande desafio em tempos de hipervalorização da individualidade e de enfraquecimento dos laços. Enfrentamos uma época de contradições em que, de um lado, vivemos cada vez mais solitários e, de outro, criamos permanentemente novas possibilidades de convivência. Hoje são inquestionáveis os desdobramentos da família e a abertura para diferentes modos de relações amorosas, parentais e filiais.

O individualismo e a solidão têm se tornado características muito fortes da vida nas sociedades ocidentais, obrigando os cidadãos a buscar novas experiências que pudessem sustentar o desconforto e o sofrimento advindos dessas imposições sociais. Analisando esse contexto, a amizade seria uma opção e representa uma saída para a fragilidade das relações surgidas com as exigências da modernização que produziram uma vida solitária e ameaçadora.

Embora a vida solitária e a vulnerabilidade dos laços de afeto venham revelando um efeito nefasto, levando pessoas a diferentes tipos de sofrimento psíquico, é necessário reconhecer que nas últimas décadas têm surgido várias formas de convívio: a família vem sendo reinventada, dando lugar a deslocamentos e transformações nas suas funções e papéis. Hoje é possível verificar, por exemplo, fortes laços e amizade em casais que procuram ajuda de outros para uma procriação assistida. É o caso, por exemplo, de dois homens que buscam uma amiga para receber o sêmen de um deles e conceber uma criança.

Algumas vezes forma-se aí uma relação consistente, um misto de amizade e de família, fruto de uma operação não só biológica mas também simbólica, já que um dos parceiros se mantém ausente da procriação de uma criança com a qual poderá, mais tarde, constituir uma relação parental. Há ainda duas outras manifestações interessantes de amizade: a trazida por casais que se separam e, ao constituir novas relações amorosas, mantêm os antigos parceiros no rol dos amigos; e as relações amistosas criadas pelos filhos dos diferentes casamentos de seus pais.

Enfim, se de um lado as relações humanas permanecem frágeis, tensas e em muitos sentidos desestimuladas pelo cotidiano massacrante do trabalho e pelas imposições do mundo fragmentado em que vivemos, de outro, elas têm atualmente maior amplitude de possibilidades de criar e recriar experiências, tanto na vida privada como na pública. Além disso, nos últimos anos as sociedades têm se tornado mais libertárias, e, em consequência, os sujeitos adquirem mais recursos para reconhecer e lutar por seus direitos civis. Gilles Lipovetsky talvez tenha razão ao escrever: “Quanto mais frustrante é a sociedade, mais ela promove as condições necessárias para uma reoxigenação da vida.
Maria Consuêlo Passos psicanalista de casal e família, doutora em psicologia social, pesquisadora de temas de família e desenvolvimento humano, docente do programa de pós-graduação em psicologia clínica da Universidade Católica de Pernambuco.

domingo, 29 de julho de 2012

Mente Ecológica

Em 22 de julho de 2012 - Do site: www.mentecerebro.com.br

As preocupações com a preservação do meio ambiente revelam valores ligados à coletividade e evidenciam que a liberdade é consequência da responsabilidade
 
© LUXORPHOTO/SHUTTERSTOCK

por Melissa Tavares

Nos últimos anos, o meio ambiente ganhou destaque. Aparece nas redes sociais e na mídia, nas conversas informais; é tema de aulas de muitas escolas de educação infantil, cursos de especialização e constitui um privilegiado fórum de debates sobre os valores que formam práticas compartilhadas por uma comunidade, conferindo visão particular da realidade e permitindo entender sua organização. Nesse sentido, ultrapassa a questão ambiental e reflete o universo subjetivo.

Essa relação foi bastante considerada na formulação da psicologia junguiana. Como exemplo, o professor americano Theodore Roszak tomou por base a teoria do inconsciente coletivo de Carl Jung para considerar que haveria uma camada psíquica profunda, denominada inconsciente ecológico, que seria constitutiva do sujeito e o manteria conectado com a natureza. Na década de 90, Roszak concluiu que a saúde ecológica do planeta está diretamente relacionada à saúde mental das pessoas, que se relacionam de forma sinergética.

No campo da psicossociologia, Eugèn Enriquez sugere que quanto mais autonomia o sujeito alcança em relação às normas vigentes e mais singular ele se torna, maior também será sua contribuição para as mudança sociais. Nesse mesmo sentido, podemos entender que o processo clínico de individuação modifica a postura ética da pessoa, que tende cada vez mais a se implicar com a vida como um todo, assumindo sua parcela de responsabilidade diante de fatos que dizem respeito a todos.

A prática clínica há muito ultrapassou os limites do consultório. A relação terapêutica alcança, além da subjetividade individual, a coletiva em seus variados aspectos. A proposta é destacar a ideia de uma nova civilização capaz de superar valores capitalistas vigentes. O resultado é a ampliação das discussões e a constatação de que a responsabilidade é a consequência necessária da liberdade.

 

sábado, 28 de julho de 2012

Elogio à Timidez 7/7)

Por Gláucia Leal, da Revista Mente & Cérebro

= continuação =

Vários Jeitos de Ser

Introvertidos não são necessariamente tímidos. Timidez é o medo da desaprovação social e da humilhação, enquanto a introversão é a preferência por ambientes que não sejam estimulantes demais. A timidez é inerentemente dolorosa; a introversão, não. Uma das razões pelas quais as pessoas confundem os dois conceitos é que muitas vezes eles se sobrepõem (apesar de psicólogos discutirem até que ponto). Algumas abordagens mapeiam essas duas tendências, definindo quatro quadrantes de tipos de personalidade: extrovertidos calmos, extrovertidos ansiosos (ou impulsivos), introvertidos calmos e introvertidos ansiosos. O que se vê na prática é que muitos tímidos se voltam para dentro, em parte como um refúgio da socialização que tanto os angustia. E muitos introvertidos são tímidos, em parte como resultado do recebimento da mensagem constante de que há algo errado com sua preferência pela reflexão.
Parece inegável que timidez e introversão têm algo profundo em comum. O estado mental de um extrovertido tímido sentado quieto em uma reunião de negócios pode ser muito diferente daquele de um introvertido calmo. A pessoa tímida tem medo de falar, enquanto o introvertido está simplesmente superestimulado, mas para quem os observa os dois parecem iguais. Mas por razões muito distintas tímidos e introvertidos podem escolher passar seus dias nos bastidores, inventando coisas, escrevendo, pesquisando, talvez até segurando a mão de doentes graves – ou assumindo posições de liderança com uma “competência quieta”.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Elogio à Timidez (6/7)

 Por Gláucia Leal, da Revista Mente & Cérebro

= continuação =

Vergonha, inibição e sintoma (por Christian Ingo Lenz Dunker)

Desde que o filósofo alemão Immanuel Kant, no século 18, definiu a autonomia como uso público da razão, estabelecendo esse critério para distinguir a maioridade moral, ficou claro que se tornar sujeito envolve a capacidade de expressar-se. Ocorre que o uso da linguagem é condicionado tanto por estruturas formais (cognitivas, sintáticas, discursivas) quanto pela tomada de posição com relação a valores estéticos, culturais e identificatórios. Assumir a língua (que se impõe a nós) por meio da fala já é visto como definição da competência humanizante e desejante conferida pela linguagem.
Hoje, muitas produções neológicas são admitidas, mas ao mesmo tempo o falar público tornou-se perigoso, pois denuncia algo especial e involuntariamente revelador sobre nós pela forma coo falamos. E o inibido verbal sabe disso. Na Inglaterra, por exemplo, é comum encontrar pessoas que forjam sotaques, pois sabem que isso pode ser decisivo para fechar negócios ou ser admitido em um emprego. O sotaque upper class é uma marca de origem e distinção social, eventualmente mais valiosa que a indumentária e as posses materiais.
Freud argumentava que sintomas são “exagerações” de processos úteis e relevantes em outros contextos. As dificuldades de fala pública não são propriamente um sintoma, mas se enquadram no que a psicanálise chama de inibição – s suspensão de um processo ou função. Esta evitação pode generalizar-se em uma atitude que empobrece as relações, obstruindo a capacidade de realização e oferecendo em troca apenas algum controle artificial da realidade. A inibição organiza-se como uma identificação, ou como um “sintoma envelhecido ou fora de contexto”. Isso quer dizer que o problema pode não ser notado, pois a pessoa evita, contorna ou cria barreiras para não se expor a determinada situação.
Se a culpa é o afeto central que marca os sintomas, a vergonha é típica da inibição, exigindo uma nítida separação entre o público e o privado. Em muitos casos, na dificuldade de colocar-se publicamente está em jogo uma espécie de defesa e lembrança veemente de nossa origem. Diante da impossibilidade, imaginária ou real, de fazer-se reconhecer por meio do lugar de onde veio, o sujeito escolhe retirar-se do jogo. Não é só um fracasso de desempenho discursivo; há também um sentido crítico contra a situação social em que a indeterminação da fronteira entre público e privado se torna cada vez mais nebulosa e precária.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Elogio à Timidez (5/7)

 Por Gláucia Leal - Revisa Mente & Cérebro

= continuação =

Até os bichos

“A coisa mais surpreendente e fascinante que aprendi ao desenvolver o projeto desse livro foi que há ‘introvertidos’ e ‘extrovertidos’ em todo o reino animal – chegando até ao nível das moscas-das-frutas”, diz Susan. O biólogo evolucionista David Sloan Wilson especula que os dois “tipos” evoluíram usando estratégias de autopreservação muito diferentes. Animais introvertidos se mantém à margem e sobrevivem quando os predadores surgem. Os “extrovertidos” vagueiam e exploram, por isso se saem melhor quando o alimento é escasso. Fazendo uma analogia, é possível dizer que o mesmo acontece com os seres humanos.
Talvez um dos maiores equívocos a respeito dos introvertidos seja imaginar que seu jeito tímido signifique rispidez ou falta de afeto pelas pessoas. “Nós não somos antissociais, apenas somos socialmente diferentes”, diz Susan, que considera fazer parte desse time. “Tenho diversas outras características de introvertida, como pensar antes de falar, não gosta de conflitos e facilidade de concentração , mas não consigo viver sem minha família e amigos íntimos, porém, em muitos momentos aprecio estar só”.
A introversão também abrange qualidades irritantes, é claro. Por exemplo, a maioria das pessoas que tem esse traço marcante – embora não todas – dificilmente farão um discurso ou uma apresentação para uma plateia desconhecida sem ficar aterrorizada, mesmo que já tenham passado por experiência similar várias vezes. Por outro lado, a introversão pode ser uma grande força, que garante uma vida interior rica, a ponto de essas pessoas raramente ficarem aborrecidas por estarem sozinhas. Surge aí um paradoxo; por conta disso, não costumam se sentir solitárias, como se soubessem que, não importa o caos que tom conta do ambiente, sempre é possível se voltar para a interior de si mesmas. “Curiosamente, em nossa cultura, os caracóis não são considerados animais valentes e ficamos constantemente exortando as pessoas a ”saírem da sua concha”, mas levar sua casa com você onde quer que vá revela muitas coisas boas,”, diz Susan.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Elogio à Timidez (4/7)

Por Gláucia Leal, da Revista Mente & Cérebro

= continuação =

Solidão produtiva

Um grande equívoco em relação aos introvertidos é a noção de que não podem ser bons líderes. Um estudo recente desenvolvido pelo pesquisador Adam Grant, professor de administração Wharton School of Business, da Universidade da Pensilvânia, revela que, às vezes, líderes introvertidos produzem melhor resultados que os extrovertidos por serem mais propensos a deixar funcionários talentosos discorrer sobre suas ideias, em vez de tentar colocar o seu próprio carimbo sobre elas. Além disso tendem a ser motivados não pelo ego ou por um desejo de ser o centro das atenções, mas sim pela dedicação ao seu objetivo maior. É o caso de Mahatma Gandhi, Douglas Conant, da Campbell Soup, e Larry Page, do Google.
Outra abordagem interessante de pesquisa estabelece relação entre introversão e criatividade. Uma pesquisa realizada pelos psicólogos Mihaly Csikszntmihalyi e Gregory Feist sugere que as pessoas mais criativas em muitos campos costumam se introvertidas. Csikszentmihalyi, fundador da Escola de Ciências do Comportamento Organizacional (SBOS, na sigla em inglês), da Universidade Claremont, e Feist, doutor em filosofia e psicologia, presidente-fundador da Sociedade Internacional de Psicologia da Ciência e Tecnologia e editor-chefe do Journal of Psychology of Science and Technology, levantam um a hipótese para isso: é possível que para pessoas que se sentem confortáveis sozinhas a solidão surja como ingrediente crucial -, e em geral subestimado – para a criatividade e a produção artística.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Elogio à Timidez (3/7)

 Por Gláucia Leal, da revista Mente & Cérebro

= continuação =

Talvez a maioria das pessoas até goste de pensar que valoriza a individualidade e as várias formas de ser, mas costumamos admirar principalmente aqueles que ficam à vontade quando recebem atenção nos grupos. Susan lembra que as escolas, os locais de trabalho e mesmo a maioria das instituições religiosas geralmente são projetados para pessoas que gostam de se expressar publicamente. E faz uma comparação: os introvertidos estão para os extrovertidos como as mulheres estavam para os homens na década de 50: são cidadãos com quantidade enorme de talento inexplorado. A autora também chama a atenção dos leitores para a existência do preconceito. “Durante as pesquisas para o livro um dos momentos mais comoventes que vivi foi quando conheci um pastor evangélico qae confidenciou que gostava de ficar sozinho, mas tinha vergonha disso e receava que ‘Deus não estivesse satisfeito’ com ele em razão dessa preferência, conta.
De fato, muitos introvertidos sentem que há algo errado com eles e tentam se mostrar mais sociáveis. No entanto, sempre que alguém tenta passar por algo que não é, inevitavelmente “perde uma parte de si mesmo”, ao longo do caminho. “Nesses casos, perde-se especialmente o senso de como gastar seu tempo: os introvertidos sempre vão a festas e eventos quando, na verdade, prefeririam ficar em casa, lendo, estudando, inventando, meditando, desenvolvendo projetos, pensando, cozinhando ou simplesmente se ocupando com atividades tranquilas”, observa Susan.
Ela acredita que de um terço à metade das pessoas em geral é introvertida – ou seja, se essa estimativa estiver correta, significa que a introversão é traço de um em cada dois ou três conhecidos seus. Mas, segundo a escritora, nem todos se mostram assim porque aprendem desde cedo a se esforçar para agir como extrovertidos.
“Nunca é uma boa ideia organizar a sociedade de modo a desvalorizar tantas pessoas em razão de uma característica, um modo de ser”, diz Susan Cain. Ela também salienta o fato de haver  uma série de noções equivocadas que afetam igualmente introvertidos e extrovertidos. E cita um exemplo: atualmente a maioria das escolas e empresas organiza trabalhadores e estudantes em grupos, acreditando que a criatividade e a produtividade surgem de um local sociável. Em sua opinião, isso é um absurdo. “Nossos maiores artistas e pensadores, de Charles Darwin a Pablo Picasso, na maior parte do tempo trabalharam sozinhos”. Para Susan, as equipes muitas vezes representam verdadeiras armadilhas, já que nesse sistema é difícil saber o que cada um realmente pensa. “Somos animais tão sociais que instintivamente imitamos as opiniões dos outros, muitas vezes sem perceber que isso acontece quando discordamos conscientemente, pagamos um preço psíquico,”, afirma.
O neurocientista Gregory Berns, da Universidade de Emory, por exemplo, descobriu que pessoas que discordam da “sabedoria” do grupo mostram ativação aumentada na amígdala, um órgão do cérebro associado à dor da rejeição social . Berns denominou esse processo “dor de independência”. Susan cita as sessões de brainstorming, muitos populares em empresas atualmente. As reuniões para promover a “tempestade de ideias” foram introduzidas nas corporações americanas nos anos 50, por um executivo carismático do meio publicitário chamado Alex Osbom. Hoje, pesquisadores como o psicólogo organizacional Adrian Fumham contestam a eficácia dessa prática para a produção de ideias criativas e, embora não considerem de forma alguma abolir o trabalho em grupo argumentam que é importante usá-lo de forma mais criteriosa.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Elogio à Timidez (2/7)

Por Gláucia Leal, da Revista Mente & Cérebro

= continuação =

Deus e Preconceito

Justamente por desenvolver uma relação com o ambiente em que o excesso é interpretado como desprazer, é muito mais provável que um introvertido desfrute uma taça de vinho tranquilamente com um bom amigo, mas encontre dificuldade de permanecer em um grupo de pessoas estranhas ou que falem alto. Susam faz uma distinção importante entre timidez e introversão: a primeira refere-se ao medo do julgamento negativo, enquanto a outra é meramente a preferência por menos estímulo.
Vivemos em um tempo no qual o indivíduo ideal é arrojado, sociável e fica – ou pelo menos deveria ficar – confortável como centro das atenções. Na “era do espetáculo”, nos consultórios de psicólogos e psicanalistas aparecem inúmeras queixas de pacientes que anseiam por ser mais falantes se sentir menos constrangidos ao falar em público ou mesmo se destacar.
No mercado de trabalho, por exemplo, são frequentes as solicitações para que sejam ministradas aulas, apresentadas intervenções comentários e seminários. “É compreensível que a queixa clínica de que no momento de falar em público sobrevenham dificuldades corporais, impedimentos e embaraços tenha se tornado mais rotineira”, ressalta o psicanalista Christian Ingo Lenz Dunker, professor livre-docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e articulista da Mente e Cérebro. “Uma cultura que se organiza sem estrutura de espetáculo cria dificuldades para aqueles a quem a privacidade é essencial. Por exemplo, no quadro clínico chamado mutismo seletivo, crianças e adolescentes – e mais raramente adultos - criam situações nas quais o falar se torna gradualmente prescindível, reduzindo a poucas pessoas próximas”. E a sofisticação tecnológica muitas vezes ajuda a sustentar tais quadros.

domingo, 22 de julho de 2012

Elogio à Timidez (1/7)


Por Gláucia Leal, jornalista, psicóloga e psicanalista, editora de Mente e Cérebro
Fonte: Revista Mente & Cérebro, n° 233, junho/2012


Em um mundo que privilegia a extroversão e onde o importante é aparecer e ter iniciativa, o modelo introvertido não costuma ser valorizado. Apesar disso, os quietos levam uma vantagem importante: sentem-se em boa companhia mesmo – ou principalmente – quando estão sozinhos.
Nem todo mundo gosta de trabalhar em grupo. Alguns realmente produzem mais sozinhos  - e de preferência em silêncio. Esse comportamento, porém, nem sempre é bem compreendido. Afinal, vivemos em uma sociedade que valoriza a extroversão – os falantes, os que adoram festa e multidão. E não os tipos tranquilos que mudam o mundo enquanto muita gente fala sem parar. Não raro, é desprezado o fato de que a solidão é necessária e a incapacidade de estar só causa prejuízos psíquicos. Autora do recém-lançado O poder dos quietos (Agir, 2012), a consultora de negócios americana Susan Cain aborda em seu livro a falácia do “trabalho em grupo” e argumenta que, em muitos casos, incentivar (ou até forçar) as pessoas a trabalhar juntas pode reduzir a capacidade de criação e produtividade.
“Os introvertidos preferem ambientes tranquilos e com o mínimo de estímulo enquanto aos extrovertidos precisam de níveis mais elevados de excitação para se sentir melhor. Os introvertidos até salivam mais que os extrovertidos se colocarem uma gota de suco de limão sobe a língua deles!”, afirma a escritora, formada em direito, pelas universidades de Princeton e Harvard.

sábado, 21 de julho de 2012

Nova droga pode ajudar a estabilizar mal de Alzheimer

Publicado na Folha de São Paulo, em 17/07/2012

DA ASSOCIATED PRESS
DA REUTERS

Pela primeira vez, pesquisadores afirmam que um tratamento pode ajudar a estabilizar o mal de Alzheimer por pelo menos três anos. Os resultados, porém, são baseados em apenas quatro pacientes que participaram da segunda fase de um estudo pequeno.

Os quatro pacientes que receberam a dose mais alta da droga em testes preliminares não mostraram declínio em testes de memória e cognição três anos após o início do tratamento. Um estudo maior e mais rigoroso terá resultados daqui um ano.

A droga, da Baxter, é um conjunto de anticorpos retirados de amostras de sangue de doares jovens e saudáveis e administrados de forma intravenosa a cada duas semanas. Conhecida como imunoglobina intravenosa, a terapia é geralmente usada contra infecções em pacientes com sistema imune debilitado. Segundo os pesquisadores, os anticorpos podem ajudar a retirar as placas amiloides que se acumulam nos neurônios dos pacientes.

No total, 11 participantes usaram o medicamento durante os três anos do estudo e todos mostraram melhora em capacidades mentais, comportamento e funções do dia a dia. Desses 11, os quatro que receberam as doses mais altas por 36 meses não tiveram piora em testes de cognição, memória, funções cotidianas e humor.

INESPERADO

A maioria dos pacientes com alzheimer mostram um declínio depois de três a seis meses. "Por isso, ver que uma droga pôde estabilizar a doença em quatro pacientes, tratados durante três anos com as mesmas doses da droga é algo inesperado e muito positivo", afirmou o médico Norman Relkin, do Weill Cornell Medical College em Nova York, que apresentou os resultados do estudo na Confereência Internacional da Associação de Alzheimer, em Vancouver.

Atualmente, não há drogas aprovadas para diminuir a progressão do alzheimer, mas sim para tratar os sintomas. A doença é a forma mais comum de demência e afeta 35 milhões de pessoas no mundo. Há, porém, estudos com drogas de outros laboratórios, como Johnson & Johnson, Pfizer e Eli Lilly, cujos resultados devem sair nos próximos meses.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O custo da vaidade e o direito à beleza


               Desde os primórdios da humanidade, o convívio social que iniciou em bandos, tribos, pequenas comunidades até chegar ao mundo globalizado contemporâneo, originou no ser humano uma necessidade de adaptação aos costumes da sua época, incluindo certos padrões de comportamento, de cultura, de hábitos e, consequentemente, de estética e de beleza. Em outras palavras, o conceito de beleza muda conforme o contexto social e a época em que vivemos, bastando observar, por exemplo, modelos nuas retratadas em quadros renascentistas que seriam consideradas quase obesas se comparadas às silhuetas bem mais esguias e musculosas das mulheres atuais, reconhecidas como belas.

O Prof. Dr. Ivo Pitanguy, na sua obra “Direito à beleza”, emite o conceito de que a beleza não é perfeição estética física, mas um equilíbrio entre corpo, mente e espírito, uma sensação de bem-estar e conformidade entre o indivíduo e sua autoimagem que lhe permite conviver bem consigo mesmo e, consequentemente, com os outros. A cirurgia plástica tem um papel fundamental nesse processo e, se conduzida adequadamente, é um ramo da Medicina que pode transformar significativamente a vida de uma pessoa, devolvendo-lhe a tão almejada autoestima.

A enorme competitividade do mundo de hoje, os grandes avanços na área da cirurgia plástica, bem como de procedimentos estéticos não cirúrgicos, como os preenchimentos faciais, aliados ao progresso vertiginoso do acesso à informação, têm proporcionado uma busca desenfreada de pessoas, cada vez mais jovens, que buscam a “aparência ideal”. As próteses de silicone utilizadas para aumento e/ou modelagem dos seios e glúteos têm sido cada vez mais solicitadas pelas pacientes e, com as técnicas atuais, trazem resultados realmente muito naturais e gratificantes. Os preenchimentos faciais com ácido hialurônico são alternativas boas e seguras para pacientes que desejam pequenas correções nos sulcos da face em pequenas rugas ou aumentar um pouco os lábios.

Os problemas aparecem quando esses procedimentos são realizados por profissionais sem a formação correta (membros da sociedade brasileira de cirurgia plástica), quando se banalizam os procedimentos, realizando-os em ambientes sem estrutura e utilizando próteses de qualidade duvidosa ou materiais inadequados como o PMMA (ver matéria do Fantástico a respeito),que podem ocasionar complicações graves e danos irreversíveis.

A beleza no seu sentido amplo deve e pode ser, ao invés de um privilégio de poucos um direito de todos, assim como a vaidade, na medida certa do equilíbrio, é altamente positiva na busca do bem-estar físico e psíquico, mas, se ignorados o bom senso e uma relação médico paciente sólida construída com base na confiança e transparência, esse custo pode ser bem caro e o resultado  frustrante.



Dr. Pedro Alexandre

Cirurgião Plástico     

drpedroalexandre@bol.com.br

www.drpedroalexandre.com.br

Publicado em 7-Jul-2012, por Terezinha Tarcitano,no site: www.gestopole.com.br

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Oimistas se protegem menos contra acidentes e doenças

Do site: www.mentecerebro.com.br - 17 de julho de 2012

Pessoas com perspectivas muito positivas sobre o futuro se consideram menos vulneráveis a experiências negativas
 
© ARMAN ZHENIKEYEV/SHUTTERSTOCK

Tendemos a imaginar que o futuro será melhor do que hoje e a subestimar as chances de passar por situações ruins. Alguns cientistas acreditam que esse funcionamento é um processo adaptativo que nos permite resistir a frustrações e mudanças negativas. Agora, um estudo publicado na Nature Neuroscience sugere que a linha entre o otimismo que nos prepara para enfrentar o futuro e o que oferece riscos é tênue – segundo pesquisadores da Universidade College de Londres, pessoas com perspectivas muito positivas sobre o dia de amanhã se consideram menos vulneráveis a sofrer acidentes e a contrair doenças. E justamente por isso se protegem menos.

A neurocientista Tali Sharot pediu a 19 universitários entre 19 e 27 anos que estimassem as chances de enfrentar 80 fatalidades ao longo da vida, como desenvolver doenças ou ser vítima de crime. Em seguida, Tali revelou a probabilidade média real de cada um, calculada com base em questionários que avaliavam seus hábitos, histórico familiar e comportamentos de risco. Depois, solicitou que repetissem o exercício.

Segundo Tali, os que previram riscos mais altos que o real prestaram mais atenção na exposição dos resultados e responderam de forma realista na segunda vez. Já os voluntários que subestimaram as probabilidades mantiveram as expectativas ao refazer o exercício ou fizeram correções menos expressivas. “Os mais otimistas continuaram a acreditar que ao menos eles podem escapar da má sorte”, diz.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Enquanto isso no manicômio

Do site: www.mentecerebro.com.br - 16 de julho de 2012

Mas quem é que não sulca nesta vida um caminho só seu? Cada qual com seu qual inculca, ninguém é dois igual na cuca”

 
por Sidarta Ribeiro
© GONÇALO VIANA

Não foi coisa à toa que disseram: que não tem doido. Que ninguém é. Imagine que todo mundo fosse e sesse, lesse, escrevesse e o pau não comesse? Não seria um rebu colosso? Creia não moço, sou antes de tudo um democrasso. Incluso renego da presunção de que louco tem dobra demenos, giros e parapeitos distintos dos comuns sobressalentes. Diferença, se tiver, é na textura da fibra, na liga do ruminado: no papel dobrado. Mas quem é que não sulca nesta vida um caminho só seu? Cada qual com seu qual inculca, ninguém é dois igual na cuca. A coisa é nome só, ideia à toa arrumando emprego no alheio por distração do meeiro. Hospede-se onde quiser, companheiro, mas cauto nesta terra feia. Vozerio de telha é muro alto...

Se não, nem era. Eu mesmo, podendo, desfazia. Descarcerava os doido e no ato o teatro enchia. Ô, se ia! Ave Maria! Uns cem anos de festa seu, põe mais cem de folia! O povo é alegre, compreende? Não que nem agora, não... futuro é mais! O demopátio é tolice, doidura moura da crua. Vou é tirar polvorosa da labuta e lhes prover a batuta. Hoje tem marmelada? Tem, sim senhor. Hoje tem goiabada? Tem sim senhor. Hoje tem derrubada? Tem sim senhor! Tem sim senhor!! TEM SIM SENHOR!!!

Tem tempo já que nós tamo aqui. O senhor também? Hahaha! Piada, chegou agorinha, não foi? Então... Prosa mesmo o senhor consegue é com aquele dentro da casinha dos mamulengo. Inventou uns pringolés de andar dentro, uma colcheia de retaio colorido, funilata mesmo. Eita velho pra despistar! E ele tá que vê, danado de enxergar dobrado, regolhado, gutigustando sozinho o vernizinho de Deus. Os demãos de tinta do artista, a prova do crime, o engenho do dianho, a senha do padre... o milagre! É verdade então, né? Digo, que existe o Cujo. Pois! Tisnado. É o que digo pra ele: homem, feliz esteja, que isto é o enredo! O Grande é bom e capataz. Espere mais...

Hein? Fazendo o quê? Suviando, uai! Ora... Submarelo armarinho, funfarra de bezumzinho. Desculpe o jeito. Gosta? Ah bom, senão parava. Hein? Eu disse: se, não parava. Cê parava? Nem eu, ué. Imagine... Nem nós. Não é, cambada?! Tem regra não. Zumbe quem quer. Chegou, finou, suviou. Vou só bongozando em frente: Silva, gente! Suvia, vai! Silvano, foi! Suviano: Vai!

Vixidanou, não sabe nem suviá. Olha, coió, é tudo junto, faz beiço, vai! Emboca, venta, fola! Tá danado... Preste atenção porque eu só explico uma vez: lembra das trompas de Sacana e Gangorra? ... O homão dirribando a porra toda, o cinco minutos de Deus? Pois então: foi assim, ó: no sopro. A britadeira de Nosso Senhor Doidão tocando loucura até cair o picadeiro. Cair inteiro! COM O CIRCO CHEIO! ATÉ CAIR!!! Cair o quê? O muro, uai. Como? Assim, ó: fifirifi, fifirifi, na manha... Como assim, como? O jeito, tu quer saber? O compadre sente aí, vá soprando e suviando, espere que jajá saímos. Agora é questão de tempo. Não tem muro que resista!

À música? Não, criatura. Ao vento da suviatura.
Sidarta Ribeiro é neurobiólogo, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e professor titular da UFRN.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Drogas psicodélicas desligam mecanismos neurais de autocontrole

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 11 de julho de 2012

Substância encontrada em cogumelos usados para fabricar chás alucinógenos inibe mecanismos cognitivos

 
 
© ANDREA DANTI/SHUTTERSTOCK

Há muito cientistas suspeitam que as alterações sensoriais e as mudanças de humor induzidas por drogas psicodélicas seriam causadas pela aceleração da atividade de várias áreas cerebrais. Mas um estudo do Imperial College de Londres contradiz essa hipótese. Neurocientistas usaram a técnica de ressonância magnética funcional para observar imagens do cérebro de 30 participantes que experimentaram uma “viagem” desencadeada pela administração intravenosa de psilocibina, substância encontrada em cogumelos usados para fabricar chás alucinógenos.

Conforme os pesquisadores relataram no Proceedings of the National Academy of Sciences, houve quedas de sinais neurais em centros de controle, como o tálamo, o córtex cingulado anterior e posterior e o córtex pré frontal médio. A intensidade das experiências psicodélicas relatadas pelos voluntários foi proporcional à baixa ativação dessas regiões. Segundo os cientistas, os psicodélicos “desligam” temporariamente mecanismos que inibem a cognição, inclusive alguns identificados como hiperativos em pessoas com depressão.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A compra da infelicidade

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 13 de julho de 2012

Apesar de o dinheiro ser um canal para o acesso a experiências prazerosas, diminui a satisfação encontrada em prazeres simples da vida
 
© SATIN / SHUTTERSTOCK

Por que muitos religiosos, como freiras católicas e monges budistas fazem voto de pobreza? Deixando doutrinas e crenças de lado, tanto quanto possível, um estudo publicado no periódico Psychological Science oferece pistas que podem elucidar a essa questão e oferecer alguns esclarecimentos sobre essa opção: o dinheiro – até o simples pensamento sobre ele – diminui a satisfação encontrada em prazeres simples da vida.

Considerando que a capacidade de apreciar as experiências prediz o nível de felicidade, o psicólogo Jordi Quoidbach e seus colegas da Universidade de Liége, na Bélgica, dividiram aleatoriamente 374 adultos com perfil e atividade profissional variados em dois grupos. O primeiro recebeu a fotografia de uma pilha de dinheiro e o segundo, a mesma figura, porém desfocada e impossível de ser reconhecida. Depois os participantes fizeram testes psicológicos para medir sua capacidade de aproveitar as experiências agradáveis. Os que receberam a imagem do dinheiro pontuaram menos.

Em uma segunda etapa do teste, o primeiro grupo recebeu um pedaço de chocolate após ter visto a fotografia do dinheiro e o outro depois de ter observado a imagem borrada. Depois os pesquisadores cronometraram o tempo que cada um levou para saborear o doce.

As mulheres apreciaram a guloseima por mais tempo que os homens, porém, independentemente do sexo, os participantes que receberam a figura do dinheiro gastaram menos tempo saboreando o chocolate (em média 32 segundos contra 45 segundos). Esses resultados mostram que pensar em dinheiro pode tirar o prazer. Em outras palavras, apesar de o dinheiro ser um canal para o acesso a experiências prazerosas, ele “rouba” a capacidade de apreciar as coisas simples.

domingo, 15 de julho de 2012

Quando tudo dá errado

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 10 de julho de 2012

Após a primeira frustração, o sistema de recompensa passa a alimentar (e se adaptar a) expectativas negativas – a saída é tentar encontrar outras fontes de satisfação
 
© GONÇALO VIANA

Tem dias em que nada dá certo. O telefone celular, embora não surdo, fica mudo; o teleatendente da operadora lhe garante que o lugar onde o aparelho foi comprado será capaz de trocá-lo na garantia, mas, depois de atravessar a cidade para chegar à tal loja (que se recusa a divulgar um telefone para contato, então não há jeito senão ir até lá), você descobre que a informação era equivocada: você precisa ir a uma assistência técnica – e ao tentar telefonar para agendar uma visita você é deixado em espera na linha por looongos minutos. No mesmo dia descobre que as informações que recebeu para emplacar o carro novo não procedem. Assim, é preciso esperar ao menos uma semana para sair da cidade – ou seja, nada daquele passeio tão aguardado às montanhas no sábado.

Nesses momentos parece sair uma fumacinha do cérebro e ai de quem passar pela frente. Maldita hora (às vezes, literalmente) em que o cérebro vê suas expectativas positivas serem afundadas, uma a uma: o telefone não volta a funcionar, revela-se impossível reunir a papelada necessária para emplacar o carro e nada de passeio com a família no fim de semana.

É isto a frustração: a sensação negativa, física e mental, com que o cérebro registra o não cumprimento de uma expectativa positiva (ou mesmo várias, de uma só vez). Mas, por pior que seja o sentimento – na verdade, justamente por ser ruim –, ele tem sua função. Acusar com indignação que o esperado e aguardado não aconteceu é tão importante quanto registrar com prazer o cumprimento de uma expectativa positiva, função do sistema de recompensa.

É assim que aprendemos com os próprios erros, falta de preparação, expectativas infundadas, ou a dura realidade da vida, mesmo. A frustração é o sinal para que o sistema de recompensa atualize suas expectativas. Por sinal, vem daí nossa predisposição para achar que, após a primeira frustração, todo o resto também dará errado: de um estado otimista, animado por expectativas positivas, o sistema de recompensa passa ao pessimismo. Alimentada pela frustração, a nova expectativa é que tudo o que pode dar errado... dará errado.

Funciona como um sistema de autossabotagem. Frustrado e cheio de expectativas negativas, seu cérebro acaba poluindo suas emoções com mau humor e suas ações com agressividade, e colocando palavras grosseiras na sua boca, que não o ajudam em nada a ser bem atendido ou receber ajuda e solicitude dos outros. Assim como gentileza gera gentileza, frustração gera frustração, e expectativas negativas fomentam resultados negativos.

A não ser que... você consiga usar aquela outra capacidade extraordinária do cérebro, o insight; se flagrar em plena espiral descendente de autossabotagem; e virar o jogo a seu favor. Como? Encontrando, a jato, outras fontes de satisfação.

Por exemplo, um sorvete de chocolate na saída do banco. E puxa, sua loja favorita voltou a ter aquele casaquinho lindo, vermelho, que você deixou de comprar meses atrás. E por fim, você lembra que adora seu carro novo, as montanhas não sairão do lugar tão cedo, e aliás, seu carro agora toca música do seu iPod – por exemplo, aquela hilária, dos anos 80, que você volta para casa cantando às gargalhadas, berrando sozinha dentro do carro o refrão mais inusitado da história da MPB, imortalizado por Fausto Fawcett: “Calcinha!”. Não há frustração que um bom prazer alternativo não cure.

sábado, 14 de julho de 2012

Seja mais proativo se quiser ter sucesso


Como diz um antigo dito popular: “ O Universo recompensa a ação”.

Ás vezes, fico imaginando quantas pessoas são tristes e muitas até deprimidas, porque não realizaram seus sonhos. Penso que algumas até tentaram, mas desistiram com o decorrer do tempo.

Estamos vivendo uma nova Era, e neste tempo de competição acirrada, em todos os sentidos, de forma especial, no mercado de trabalho, quem não for proativo perderá uma excelente chance de ser feliz com suas próprias realizações.

Hoje em dia, fala-se tanto em ser Proativo. Mas de fato o que é ser Proativo?

Em primeiro lugar é agir de imediato para a realização dos seus objetivos diários.

É não esperar o melhor momento e sim usar sua habilidade e trabalhar com o que tem em mão.

É acreditar no seu poder de ação e somar esforços para que um trabalho aconteça.

É fazer mais em menos tempo e com menos recursos.

Ser proativo, também, é não se acovardar quando algo não sair a contento. É aprender  lição e procurar novos meios para que um trabalho seja concluído.

Uma pessoa de ação, não é uma pessoa acomodada e que facilmente desiste. Ela, simplesmente, procura ajuda para melhorar naquilo que ainda não faz de forma eficiente.

Se você, nesse momento, está triste por ver seus projetos de vida parados, é chegado o momento de agir. Pare de se lamentar e acredite que em você existe uma força poderosa capaz de o impulsioná-lo para a realização dos seus sonhos mais profundos.

No seu interior existe poder. Existe algo gritando, pedindo que você se mexa, que faça diferente e que, no mínimo, tente ousa, novamente, pois o mundo é de quem não desiste.

De quem sonha de noite com seus projetos e trabalha arduamente diariamente para que os mesmos aconteça.

Pense nisso e comece a entusiasmar-se novamente com a sua própria vida.

Torço por você.

O momento é este. A hora é esta.

O que você está esperando para AGIR?.

Eugênio Sales Queiroz,  Publicado em: 21/06/2012, no site: www.qualidadebrasil.com.br

sexta-feira, 13 de julho de 2012

De costas para o mundo

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 06 de julho de 2012

Crianças com autismo evitam contato visual, não brincam e demoram, ou nunca aprendem, a falar – identificar os sinais do transtorno nos primeiros anos de vida aumenta as chances de tratamento
 
© GAYDUKOV SERGEY/SHUTTERSTOCK

Deitado na cama dos pais, o bebê Pedro parece indiferente às tentativas dos parentes de chamar sua atenção. Observa as almofadas e outros objetos do quarto e não fixa os olhos em nenhum dos rostos sorridentes ao seu redor. Aos poucos, as brincadeiras da mãe transformam-se em pedidos angustiados de atenção, mas ele continua aparentemente surdo aos apelos. A cena de poucos minutos é de um vídeo caseiro, parte do material de pesquisa do neuropsiquiatra Fillipo Muratori, da Universidade de Pisa. Ao analisarem o comportamento do menino, diagnosticado anos depois com autismo, e de outras crianças em gravações caseiras, Muratori e sua equipe mostraram que os sintomas do transtorno do desenvolvimento surgem desde cedo.

A estimativa é que uma em cada 88 crianças tem o transtorno do espectro autista (TEA), segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDCs, na sigla em inglês). O termo “espectro” significa que há vários graus do distúrbio, mas todos compreendem, em menor ou maior intensidade, os seguintes sintomas: profunda ausência de habilidades sociais, baixa capacidade de comunicação e comportamentos repetitivos, apatia, aparente surdez, ausência de expressões faciais de afeto. Independentemente da gravidade da manifestação, há problemas de interação social.

Humanos têm disposição inata para relacionamentos e comunicação: somos sensíveis às expressões faciais, reagimos a elas. Nas crianças autistas, no entanto, algo falha nesse contato inicial. Para a psicanálise, os sintomas podem se manifestar como um refúgio defensivo, desencadeado por experiências emocionais traumáticas. O psicanalista Alfredo Jerusalinsky, especialista em autismo, considera que o transtorno é uma interação entre causas neurobiológicas e experiências traumático-psicológicas nas relações primordiais entre mãe e bebê. Em outras palavras, a manifestação inicial de algum sintoma de origem orgânica afasta o bebê do ideal dos pais. Se desistem de estimular a criança, o quadro se agrava.

A boa notícia é que as chances de melhora dos sintomas são significativas quando o diagnóstico é feito até os primeiros dois anos de vida. Nesta fase, considerada por muitos especialistas em desenvolvimento infantil um divisor de águas, ocorre uma mudança considerável nas habilidades de intuição social e na aquisição de linguagem. Psicanalistas especializados em crianças e adolescentes têm estudado formas de estimular o autista de forma adequada. Estudos recentes têm mostrado que abordagens que utilizam o “manhês” – linguagem caracterizada por entonações de voz e ritmos específicos que adultos usam instintivamente ao se dirigir aos filhos pequenos – e expressões faciais exageradas podem ser eficazes para tentar inserir a criança no universo da expressão verbal.

Mesmo em casos em que os sintomas são mais intensos, possivelmente associados a causas neurobiológicas, o atendimento psicanalítico precoce e contínuo pode contribuir para o desenvolvimento psíquico – o profissional pode ajudar os pais a entender o transtorno, apontando caminhos para lidarem com as culpas, frustração das expectativas, angústias e dores. Enfim, mostrar-lhes a real possibilidade de se tornarem aliados no desenvolvimento da criança.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Por que gostamos de filmes tristes

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 04 de julho de 2012

Voluntários se consideraram mais satisfeitos com a própria vida depois de assistir cenas sobre a infelicidade alheia
 
© Divulgação

Na tela, um jovem soldado queima de febre segurando nas mãos o retrato de sua amada. Enquanto isso, em outro país, ela trabalha como enfermeira na esperança de reconhecê-lo entre os doentes. É difícil não se comover com o destino dos mocinhos do drama Desejo e reparação (2007) – da mesma maneira que é improvável não sentir uma pontinha de satisfação por não passar por situação semelhante. É o que revela um experimento feito por psicólogos da Universidade Estadual de Ohio.

Eles exibiram trechos do filme para 400 universitários, de ambos os sexos, que responderam a um questionário sobre realização pessoal. Em geral, os voluntários se consideraram mais felizes depois de assistirem às cenas. Segundo os pesquisadores, a infelicidade alheia os fez refletir sobre os próprios relacionamentos e a valorizá-los.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O princípio está em você



“Teve uma época em que achava que oferecendo o maximo para outros poderia de alguma forma estar contribuindo com algo positivo em suas vidas. O tempo e decepções fizeram redefinir a expectativa destes retornos. O que esperar daqueles que recebem e só pensam em receber? Quando ganham assumem os méritos da sua vitória e quando perdem o acusam pela responsabilidade de auxilia-los no desastre”. Esta frase, dita por uma grande profissional durante um evento, ficou no meu sub-consciente. Como poderia ter sido dita por alguém que havia sido pago para transferir conhecimentos?

É incrível perceber que a nossa evolução está diretamente ligada com a exposição e o desenvolvimento da capacidade de trocar e nos sentimos frustrados quando nossos esforços não são correspondidos e entendidos.

Durante décadas aprendemos que vencer estava intimamente ligado com poder e que seu resultado seria percebido quando estivéssemos dentro de uma sala enorme, com toda estrutura operacional direcionada e centralizada para o exercício do nosso comando. Quantos conhecidos seus subiram na vida e por este feito acabaram por esquecer da sua existência. E quantos, após longos anos, voltaram a lhe procurar, impulsionados por alguma grande perda ou mesmo por necessidades cíclicas de reinvenção.

E a vida vai passando, vamos ficando mais velhos, mais experientes e aprendendo a lidar com tudo isso, com nossos erros, com os dos outros. Vamos percebendo que o grande status da conquista não está na “lei do uso e desuso de Lamark” e também não somente na adaptabilidade proposta por Darwin.

No milênio da troca não está em jogo a sobrevivência de um individuo, mas a identidade, formação e responsabilidade participativa dos grupos frente a objetivos. Nossos resultados serão crescentes, pela quantidade e qualidade resultante de um processo de integração dos diversos povos formadores das nossas etnias.

Não devemos ser descendentes, mas uma força única e homogênea provinda das diversas culturas por aqui instaladas. Assim como Índia cresce criando valores únicos no processo de terceirização dos serviços informatizados. Afinal qual à parte que queremos na fatia do irreversível mundo globalizado. O que nossa criativa capacidade poderá oferecer de diferente para que possamos ter resultados agregados com perspectivas de futuro para nossos filhos.

Não imagine que um Pais seja sucesso, fazendo tudo, pois certamente continuará fazendo pela metade, deixando para os outros obtenção do bônus pelo resultado final. Nossos projetos devem ser continuados e integrados com potencial que dispomos internamente estando no sul ou no norte o ciclo deve completar um pacote fechado para entregar bolos prontos.

Erros e vícios como o demonstrado na frase do inicio deste artigo, devem fazer parte do aprendizado e seus resultados repatriados obrigatoriamente para que cada um reaprenda a sua parte para a parte de todos, nada pessoal, tudo coletivo.

Somos Brasileiros e não portugueses, africanos, italianos, alemães, judeus, japoneses, indigenas e tantos outros que fazem a parte do histórico orgulho de nossas origens descendentes. Estamos aqui pela missão de melhorar fazendo e não sonhando. Mantendo nossos vínculos com ele, lá de cima, mas com a certeza de que somos nos o próprio livro. Não espere que no curto prazo exista uma mágica governamental capaz de colocar de colocar lubrificante na sua estrutura, pois o ano ainda se inicia, e já tem muita gente se justificando que meio por cento de redução de taxa esta impedindo os avanços.

Está na hora de pararmos de olhar para o lado, buscando razões para sempre justificar que podia ser um pouco melhor. Comece conquistando o lado para somar com a sua frente. De Deus tenha certeza que terás uma pagina aberta todo dia, do governo a boa intenção de melhorar, mas a pagina aberta estará em branco para que você a preencha.

Sérgio Dal Sasso  |  Publicado em: 29/06/2012, no site: www.qualidadebrasil.com.br

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ajude na preservação do meio ambiente



Nunca, em toda a história da humanidade, falou-se tanto na necessidade de preservação do meio ambiente como na atualidade. Previsões de fenômenos da natureza que há dez anos eram consideradas merecedoras de obras de ficção científica, hoje se mostram duramente reais. Basta nos lembrarmos do Tsunami que atingiu o Japão em 2011. E quem poderia supor que haveria tremores de terra no Brasil, como os de 4,0 e 4,5 graus na escala Richter que atingiram Montes Claros(MG), em 2012?! E os exemplos não faltam...

Mas, será que estamos à mercê desses fenômenos? Do outro lado do mundo, onde são mais frequentes, já há uma rede de alertas que avisam os moradores quando a natureza resolve mostrar a que veio. Como, então, colaborar para que de alguma maneira estes fenômenos não sejam mais tão frequentes ou intensos? Não pense que vou propor alguma ideia mirabolante ou algo difícil de colocar em prática. O que você lerá nas próximas linhas são dicas simples e que colaboram para amenizar o nosso impacto no meio ambiente.

    Faça a coleta seletiva de seu lixo, separe o lixo orgânico do inorgânico e dê o destino correto para pilhas e baterias.
    Não desperdice água, feche a torneira ao lavar louças e o chuveiro ao se ensaboar. Além disso, não varre a calçada com a mangueira, para isso temos vassouras.
    Jogue lixo no lixo. Mesmo um simples papel de bala pode contribuir para entupir os bueiros da sua cidade, principalmente quando várias pessoas jogam lixo nas ruas.
    Prefira comprar bebidas e alimentos de embalagens reutilizáveis.
    Compre eletrodomésticos eficientes no consumo de energia.
    Prefira o uso de sacolas de pano ou reutilizáveis no lugar das sacolas de plástico.
    Reduza o uso do automóvel ou ofereça carona a colegas e vizinhos.
    Use o verso de documentos antigos como rascunho.
    Apague a luz quando sair de algum cômodo.
    Não desmate áreas verdes.
    Não jogue guimba (filtro) de cigarro nas rodovias.
    Se você mora em cidades litorâneas ou com rios, respeite o período de pesca.
    Doe objetos que você já não utiliza.
    Adote a prática da reciclagem.

Não pense que essas atitudes são fórmulas mágicas capazes de alterar, da noite para o dia, o curso em que estamos ou que ao realizá-las uma única vez conseguiremos salvar o meio ambiente de nossas atitudes impensadas. Ou, ainda, que são as únicas formas de colaborarmos para a preservação do meio ambiente. Não, querido leitor, não há fórmulas, tampouco mágicas. Saiba que para algo se tornar realidade é preciso atitude, ação.

Então, comece a repensar as suas atitudes e a colocar em prática as dicas acima. Colabore, você também, para a preservação do meio ambiente. Não espere o outro, faça sua parte. Pequenas atitudes podem causar grandes impactos.

Sonia Jordão  |  Publicado em: 25/06/2012, no site: www.qualidadebrasil.com.br

domingo, 8 de julho de 2012

Aceite! Você é um manipulador



A grande maioria se ofende com essa palavra: manipulação. Usá-la num contexto qualquer gera um certo repúdio automático, como se seu uso fosse algo ruim, algo maléfico, algo desmerecedor em essência. Geralmente apontamos um mal líder como um manipulador ou aquele conhecido espertão de nosso trabalho como um.

O primeiro erro começa pelo seu entendimento. Etimologicamente falando, manipular significa preparar com as mãos, ou então, era como se chamavam os soldados romanos que faziam parte do manípulo (décima parte da corte romana). Como há tempos nem os próprios romanos possuem uma manípula, nem na sua origem nem no seu significado há nada de errado.

Então, se entendemos que para manipular algo se necessita de um objeto prévio a ser alvo, é o objetivo de quem manipula que imprime a impressão na manipulação. Se esse conceito for estendido para pessoas e para as organizações, a manipulação será caracterizada então pelo objetivo de quem pratica o ato. Líderes manipulando subordinados e organizações manipulando clientes ou mercados.

Ela pode suprimir toda e qualquer dimensão crítica por parte do manipulado, sem que esse, nem conhecimento tenha desse fato. Como pode passar despercebida até mesmo pelo manipulador. Quando recebemos um ordem e direcionamos nosso comportamento estamos sendo manipulados. Quando a organização torna obsoleto propositadamente um aparelho e lança um novo está manipulando o mercado.

A manipulação é uma das características humanas mais arraigadas que existem. Todos somos manipuladores natos. Que mal há nisso? Nenhum. Ser manipulador não é problema, mas o que fazemos disso sim. Somos manipuladores “bonzinhos” quando solicitamos algo, seja dando ordem ou pedindo um simples favor, seja quando dizemos, com aquela cara de carente, num tom de voz animado: “Colega, traz água pra mim”, “Chefe deixa eu sair mais cedo.”, “Passe aqui em casa que hoje estou sem carro”.

Isso tudo é manipulação, em maior ou menor grau, estamos sim, manipulando ou ao menos tentando manipular algo em nosso favor. No momento em que nossa ação manipuladora recebe a resposta positiva do manipulado, sim, estamos cerceando seu comportamento em benefício próprio, sim, estamos privando sua liberdade de ação, mesmo que o manipulado saiba disso e de forma consciente faça o que pedimos.

A todo momento somos o sujeito e o objeto, o manipulador e o manipulado. Na escala micro ou macro. Pessoal ou organizacional. Qual o problema nisso? Nenhum e todos.

O que faz com que a palavra adquira a conotação errada é a idéia equivocada de que o bom ser humano ou a boa empresa não age de forma egoísta, ou que fazê-lo é ruim. Sinal vermelho pra essa ideologia. Somos egoístas nas entranhas, quanto mais poder, maior a tendência de manipular. Essa escala é mais portentosa quando observamos os grandes conglomerados, mas esse aspecto não é objetivo agora.

Devemos aceitar que somos aproveitadores natos. E só não fazemos isso o tempo todo, porque no fundo sabemos disso. Por que se fossemos manipuladores a toda hora perderíamos a confiança no outro. Seríamos desconfiados e incrédulos. Já pensou no quanto isso seria maléfico numa empresa?

Tanto é fato, que o repúdio a palavra surge apenas quando o resultado é percebido como negativo, como oneroso, como violento. Como se todo o resto nem existisse. Não só existe como passa despercebido de tão normal que é.

Aceitarmos que somos sim manipuladores faz com que ponderemos melhor seu uso. Faz quem que percebamos melhor o impacto no alheio e identifiquemos mais facilmente aquele espertão que sempre quer tirar proveito de algo. No dia a dia essa percepção torna o líder mais apto, pois, ele adquire a expertise de saber como conseguir de sua equipe o melhor de cada um, faz com que ele saiba exatamente onde e como oferecer o que cada um necessita para que faça o que for orientado a fazer.

Pensou em influência ao invés de manipulação? São sinônimos. E a primeira somente um nome menos “feio” para a mesma coisa.

João Paulo de S. Silva  |  Publicado em: 29/06/2012, no site: www.qualidadebrasil.com.br

sábado, 7 de julho de 2012

Uma taça de saúde


Ao bebermos vinho tinto lentamente, em pequenos goles, sentindo o sabor, nosso cérebro se beneficia do resveratrol, substância presente nas uvas que ajuda a prevenir a deterioração das células neurais
por Luiz Loccoman
©ISAK55/SHUTTERSTOCK
UVAS PRETAS e rosadas contêm altas concentrações de flavonoides, componentes com ação anti-inflamatória, principalmente na casca e nas sementes
Degustar uma taça de vinho pode proporcionar mais que prazer e bem-estar. A bebida milenar, associada ao deus grego Dioniso e ainda hoje usada em rituais religiosos, tem chamado a aten­ção de cientistas por seus benefícios à saúde. É comprovado que, em pequenas quantidades, previne doenças cardiovas­culares, diabetes e alguns tipos de câncer. Uma substância em especial tem revelado grande potencial terapêutico: o resveratrol, molécula presente na casca de uvas pretas e ro­sadas e um dos ativos não alcoólicos encontrados na bebida. Segundo o cientista Lindsay Brown, da Escola de Ciências Biomédicas da Universidade de Queensland, na Austrália, a molécula reduz os sintomas de doenças relacionadas à idade, como o diabetes 2. Segundo Brown, a substância per­tence ao grupo das sirtuínas, família de enzimas que agem na regulação energética e no envelhecimento das células.

Em um estudo da Universidade do Texas pesquisadores injetaram o resveratrol no cérebro de ratos e observaram aumento da secreção de insulina e redução dos níveis glicêmi­cos. Mesmo nos animais que receberam dieta hipercalórica, a molécula ajudou a reduzir os níveis de açúcar sem causar os efeitos colaterais dos medicamentos para diabetes mais utilizados. A descoberta pode ajudar a criar remédios que atuem sobre as sirtuínas. Entretanto, os pesquisadores res­saltam que esse mecanismo não esclarece o efeito protetor do vinho contra o diabetes 2, pois o resveratrol não parece atravessar facilmente a barreira hematoencefálica. Isso ocorre porque a substância é praticamente inativada quando chega ao intestino e ao fígado. Assim, ela atinge a circulação apenas em pequenas quantidades. Porém, se o vinho for bebido de forma lenta, em pequenos goles, as chances de absorção pelo sangue aumentam, através das membranas mucosas da boca, até 100 vezes. A equipe coordenada pelo químico André Souto, da Pontifícia Univer­sidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), trabalha no desenvolvimento de um fármaco contra diabetes com base no resveratrol, que além de encontrado na uva, está presente em quantidade 100 vezes maior também na hortaliça popularmente conhecida como azedinha (Rumex acetosa). No entanto, ainda são necessários mais estudos para saber se é possível produzir remédios a partir da planta.

À FRANCESA

O resveratrol tem mostrado efeito sobre várias patologias. Cientistas da Escola de Medicina Johns Hopkins, em Maryland, administraram a substância em ratos e duas horas depois indu­ziram um derrame isquêmico nos animais, cor­tando o suprimento de sangue do cérebro. Eles observaram que os camundongos que haviam ingerido preventivamente um composto com resveratrol sofreram significativamente menos danos cerebrais do que os que não receberam a substância. O estudo foi publicado on-line na Neurology Experimental.

O neurocientista Sylvain Doré, coordenador da pesquisa, aponta que o resveratrol pode aumentar os níveis da enzima hemeoxigenase (HEOX), conhecida por proteger as células neurais contra perda progressiva de função neurológica causada pelo entupimento (isque­mia) ou rompimento (hemorragia) de vasos sanguíneos cerebrais. Durante um acidente cardiovascular, a HEOX aumenta a resistência dos neurônios contra a asfixia. A novidade é que o resveratrol pode potencializar a ação da enzima e tornar o cérebro mais resistente contra o AVC isquêmico. Por outro lado, os efeitos do resveratrol dependem da quantidade de heme oxigenase presente no organismo. Ratos com deficiência da enzima não se beneficiaram da ação protetora do resveratrol – neles um maior número de células cerebrais morreu após a indução do derrame isquêmico. Doré associa suas conclusões ao que chama de “paradoxo francês”: apesar da dieta rica em queijos, man­teiga e outras gorduras saturadas, a incidência de doenças cardiovasculares é relativamente baixa entre os franceses. O fato é atribuído ao consumo regular de vinho tinto.

Além disso, o consumo da bebida tem sido associado também à diminuição de doenças inflamatórias agudas como a septicemia (infec­ção grave do organismo por germes patogêni­cos). Em estudo feito na Escócia, o imunofar­macologista Alirio Melendez, do Centro de Pes­quisa Biomédica da Universidade de Glasgow, utilizou o resveratrol para tratar camundongos com doenças inflamatórias agudas. Ele aponta que processos de infecções graves são difíceis de ser controlados e, ainda hoje, são causa frequente de morte. Pacientes que sobrevivem à infecção mantêm qualidade de vida muito baixa por causa dos danos provocados pela inflamação de vários órgãos internos. Melendez induziu um agente inflamatório em dois grupos de ratos, mas antes disso um deles havia recebi­do doses de resveratrol. Os camundongos que não receberam a substância mostraram forte resposta inflamatória, parecida com a doença em humanos, enquanto o grupo que recebeu tratamento não demonstrou sinais de infecção. Os cientistas examinaram os tecidos dos ratos para determinar exatamente como o resveratrol foi capaz de proteger os animais e descobriram que a substância impediu o corpo de criar duas moléculas envolvidas no desencadeamento de inflamações: a esfingosina quinase e a fosfoli­pase. O pesquisador acredita que o resveratrol pode ser usado para tratar doenças inflamató­rias e desenvolver drogas ainda mais eficazes.

Doré aponta, porém, que tomar suplemen­tos de resveratrol, comercializados em alguns países como os Estados Unidos, não garante os mesmos efeitos do consumo moderado de vinho. Apesar de a substância ser encontrada em uvas pretas, ele acredita que a interação com o álcool presente na bebida garante o potencial terapêutico da substância.

NA MEDIDA CERTA

É importante ressaltar que as quantidades de resveratrol na bebida variam com o tipo de vinho. Ainda são necessárias mais pesquisas para escla­recer qual tipo é mais adequado para consumo e quais as quantidades indicadas. “Talvez o resve­ratrol não seja o responsável direto por proteger as células cerebrais contra os danos provocados pelos radicais livres. O mais provável é que a subs­tância e os seus metabolitos estimulem as células a se defender”, sugere Doré. O neurocientista se concentra em estudar os efeitos preventivos da substância, mas pretende investigar os benefícios terapêuticos depois do acidente vascular cerebral (AVC) e se é possível reverter perdas neurais que surgem com o passar do tempo.

Outro benefício associado ao consumo de vinho tinto foi publicado no Journal of Neuroscience. Em um experimento com roedores, o neurocientista Giulio Pasinetti e seus colegas do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York, mostraram que substâncias presentes na bebida podem combater os primeiros sinais de Alzheimer. Eles aplicaram extrato retirado da semente de uva em camundongos na fase pré-sintomática da doença degenerativa, durante cinco meses. A dose aplicada era equivalente à quantidade média de alimentos consumida pelos animais, com referência em valores diários de uma dieta saudável. A exposição à substância reduziu a acumulação de placas amiloides no cérebro e o declínio cognitivo em comparação com o grupo de controle. Observaram também que os roedores tinham melhor memória espacial. Segundo Pasinetti, o vinho pode ajudar a retardar a formação de placas e fazer com que os sintomas, como a perda cognitiva, demorem mais para aparecer.

Em um estudo anterior, o neurocientista relatou que o consumo moderado da bebida e de outros produtos feitos da uva traz benefícios à saúde, particularmente para a função cardio­vascular. O objetivo agora é tentar descobrir qual a principal molécula, entre os milhares conti­das no vinho tinto, envolvida na prevenção de patologias neurodegenerativas. Outros grupos desenvolvem pesquisas semelhantes com o café. “Esse pode ser o primeiro passo para desenvolver um tratamento natural e sem contraindicações para demência”, diz.

Apesar dos ganhos trazidos pela bebida, o consumo de álcool tem riscos, principalmente para pessoas com problemas hepáticos. “Se uma taça diária funciona para os franceses, que mantêm o hábito ao longo de gerações, isso não significa que pessoas que nunca ingeriram a bebida vão se beneficiar se incor­porarem o vinho à sua dieta”, diz Pasinetti. Uma alternativa inofensiva é o consumo de uvas pretas e rosadas. Elas contêm altas concentrações de antioxidantes, resveratrol e flavonoides, principalmente na casca e nas sementes. Para alguns pesquisadores, comer a fruta fresca ou tomar seu suco garante a mesma quantidade de antioxidantes, com a vantagem – para tristeza dos apreciadores de vinho – de não ter álcool.
Luiz Loccoman é redator da Mente e Cérebro.