domingo, 8 de julho de 2012

Aceite! Você é um manipulador



A grande maioria se ofende com essa palavra: manipulação. Usá-la num contexto qualquer gera um certo repúdio automático, como se seu uso fosse algo ruim, algo maléfico, algo desmerecedor em essência. Geralmente apontamos um mal líder como um manipulador ou aquele conhecido espertão de nosso trabalho como um.

O primeiro erro começa pelo seu entendimento. Etimologicamente falando, manipular significa preparar com as mãos, ou então, era como se chamavam os soldados romanos que faziam parte do manípulo (décima parte da corte romana). Como há tempos nem os próprios romanos possuem uma manípula, nem na sua origem nem no seu significado há nada de errado.

Então, se entendemos que para manipular algo se necessita de um objeto prévio a ser alvo, é o objetivo de quem manipula que imprime a impressão na manipulação. Se esse conceito for estendido para pessoas e para as organizações, a manipulação será caracterizada então pelo objetivo de quem pratica o ato. Líderes manipulando subordinados e organizações manipulando clientes ou mercados.

Ela pode suprimir toda e qualquer dimensão crítica por parte do manipulado, sem que esse, nem conhecimento tenha desse fato. Como pode passar despercebida até mesmo pelo manipulador. Quando recebemos um ordem e direcionamos nosso comportamento estamos sendo manipulados. Quando a organização torna obsoleto propositadamente um aparelho e lança um novo está manipulando o mercado.

A manipulação é uma das características humanas mais arraigadas que existem. Todos somos manipuladores natos. Que mal há nisso? Nenhum. Ser manipulador não é problema, mas o que fazemos disso sim. Somos manipuladores “bonzinhos” quando solicitamos algo, seja dando ordem ou pedindo um simples favor, seja quando dizemos, com aquela cara de carente, num tom de voz animado: “Colega, traz água pra mim”, “Chefe deixa eu sair mais cedo.”, “Passe aqui em casa que hoje estou sem carro”.

Isso tudo é manipulação, em maior ou menor grau, estamos sim, manipulando ou ao menos tentando manipular algo em nosso favor. No momento em que nossa ação manipuladora recebe a resposta positiva do manipulado, sim, estamos cerceando seu comportamento em benefício próprio, sim, estamos privando sua liberdade de ação, mesmo que o manipulado saiba disso e de forma consciente faça o que pedimos.

A todo momento somos o sujeito e o objeto, o manipulador e o manipulado. Na escala micro ou macro. Pessoal ou organizacional. Qual o problema nisso? Nenhum e todos.

O que faz com que a palavra adquira a conotação errada é a idéia equivocada de que o bom ser humano ou a boa empresa não age de forma egoísta, ou que fazê-lo é ruim. Sinal vermelho pra essa ideologia. Somos egoístas nas entranhas, quanto mais poder, maior a tendência de manipular. Essa escala é mais portentosa quando observamos os grandes conglomerados, mas esse aspecto não é objetivo agora.

Devemos aceitar que somos aproveitadores natos. E só não fazemos isso o tempo todo, porque no fundo sabemos disso. Por que se fossemos manipuladores a toda hora perderíamos a confiança no outro. Seríamos desconfiados e incrédulos. Já pensou no quanto isso seria maléfico numa empresa?

Tanto é fato, que o repúdio a palavra surge apenas quando o resultado é percebido como negativo, como oneroso, como violento. Como se todo o resto nem existisse. Não só existe como passa despercebido de tão normal que é.

Aceitarmos que somos sim manipuladores faz com que ponderemos melhor seu uso. Faz quem que percebamos melhor o impacto no alheio e identifiquemos mais facilmente aquele espertão que sempre quer tirar proveito de algo. No dia a dia essa percepção torna o líder mais apto, pois, ele adquire a expertise de saber como conseguir de sua equipe o melhor de cada um, faz com que ele saiba exatamente onde e como oferecer o que cada um necessita para que faça o que for orientado a fazer.

Pensou em influência ao invés de manipulação? São sinônimos. E a primeira somente um nome menos “feio” para a mesma coisa.

João Paulo de S. Silva  |  Publicado em: 29/06/2012, no site: www.qualidadebrasil.com.br

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