quinta-feira, 18 de março de 2010

Superstição


Não pode ser coincidência
Ver um gato preto desperta uma sensação desagradável em muita gente; estudos mostram por que a crença no sobrenatural é tão enraizada: supor associações, inclusive onde elas não existem, pode ter suas vantagens


por Thomas Grüter
foto por: crisserbug/istockphoto

Nós vivemos em tempos de busca de comprovações. No entanto, a astrologia, a vidência e a magia não perderam sua atratividade. Pelo contrário: no Brasil não há levantamentosespecíficos sobre o tema, mas muita gente ainda bate três vezes na madeira para espantar o azar e certamente vai repetir a roupa que acredita lhe trazer sorte. Que o digam os jogadores da Seleção Brasileira.
Entre os alemães, por exemplo, a crença em bons ou maus augúrios está hoje mais disseminada do que há um quarto de século, relatou o Instituto de Opinião Pública de Allensbach após uma enquete em 2005. 42% dos entrevistados consideravam, por exemplo, o trevo de quatro folhas um bom sinal.
Segundo dados da National Science Foundation de 2002, mais de 40% dos americanos estão convencidos: o diabo, espíritos ou fenômenos sobrenaturais, como curas milagrosas, realmente existem.
Nem mesmo cientistas estão livres de superstições: em 2008, Richard Coll e seus colegas da Universidade de Waikato, em Hamilton, Nova Zelândia, entrevistaram 40 representantes de diversas disciplinas – entre eles, físicos, químicos e biólogos – sobre sua opinião a respeito de fenômenos sobrenaturais. Vários acreditavam no efeito curativo de pedras preciosas, outros, na existência de espíritos ou extraterrestres, e quase sempre com base em experiências pessoais ou em relatos convincentes. Alguns disseram que amigos e parentes teriam sido curados de graves doenças por meio de um apelo a um poder maior.
Os céticos, por sua vez, justificavam quase sempre sua postura de rejeição com considerações teóricas.Conclusão: a crença no sobrenatural não deixou de existir de forma alguma em tempos de ciência moderna. As pessoas tendem a imaginar que eventos concomitantes têm uma relação causal entre si, apesar de, na verdade, serem independentes.
Quem experimenta o sucesso em diferentes situações e por fim percebe que esteve sempre usando a mesma jaqueta nesses momentos, provavelmente logo vai considerá-la o seu talismã pessoal – sem procurar as causas reais para o sucesso.
Animais apresentam um comportamento semelhante – isso foi demonstrado pelo psicólogo americano Burrhus Skinner em 1948, em seus experimentos sobre o condicionamento operante, nos quais um comportamento que surge espontaneamente é reforçado pela recompensa. Em seu experimento que se tornou famoso como a “superstição entre as pombas”, os pássaros em uma gaiola tinham acesso à comida regularmente por um curto período de tempo.Paulatinamente, eles começaram a repetir suas ações ocasionais imediatamente antes da liberação do alimento: saltitavam, bicavam ou se viravam. As pombas reforçaram o comportamento que haviam associado ao recebimento da ração – o que para Skinner era uma consequência inevitável do aprendizado pela recompensa.

Thomas Grüter É médico e coordena o projeto Prosopagnosia Congênita Durante a Infância, na Faculdade de Psicologia da Universidade de Viena.
Leia a reportagem completa na revista Mente & Cérebro n° 206, de março/2010

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