segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O lado bom da docência


Minha mãe foi professora do ensino fundamental durante vinte e cinco anos. A julgar pelo seu sofrimento diante dos percalços da docência, nunca tive a certeza de que ela foi feliz na profissão embora ela tenha suportado firme até a aposentadoria.
 
Com base nisso, relutei até o penúltimo instante para não cair na mesma armadilha de me tornar um professor distante da real vocação, pois, de maneira geral, manter o ânimo perante a triste realidade educacional do Brasil é coisa para gente evoluída, segura, desprovida de ambições materiais.
 
Como nada na vida acontece por acaso, em 2004 tive a feliz experiência de ser demitido de uma grande empresa nacional. Uma das formas que considerei para retornar ao mundo do trabalho foi ampliar a minha rede de relacionamentos aceitando o convite para ministrar a recém-criada disciplina de empreendedorismo numa grande universidade.

 Eu não tinha a mínima ideia de como me comportar em sala de aula, mas a boa experiência de público e o relacionamento adquirido nos meus dois últimos empregos, onde era necessário treinar pessoas e me relacionar o tempo todo com clientes e fornecedores, foi fundamental para manter a confiança.

 Quando você está perdido em relação ao futuro, as escolhas não fazem muita diferença. Como diria um amigo, “quem tá perdido não caça caminho”. Isso é a lei da sobrevivência. O importante é continuar caminhando.
 
Naquele momento de incerteza e poucas perspectivas, apesar do currículo abarrotado de realizações, as primeiras entrevistas foram pouco animadoras, mas o importante era voltar para o mercado de trabalho.
 
Na época, a docência não era o meu emprego dos sonhos, mas uma nova porta se abriu. Quando as opções aparecem - e aparecerão muitas vezes - haverá sempre uma escolha. Devo ou não devo ir por essa porta? Que caminho é esse?
 
Se fosse levar em conta o salário, comparado ao que ganhava no último emprego, e as perspectivas de crescimento, por certo teria desistido antes mesmo de conhecer o campus universitário.
 
Acontece que a vida é bem mais do que isso e o que importa no primeiro momento é vislumbrar uma possibilidade mínima de sucesso. Se existe, deve estar acompanhada de esperança e otimismo.

 Durante dois anos e meio eu aguentei firme e honrei meus compromissos na universidade ganhando apenas para o combustível, mas pensando sempre no futuro. Na universidade eu conheci pessoas de várias empresas, órgãos públicos e outras instituições e isso me abriu novas portas.

A docência é uma coisa tão excitante quanto o vinho, desde que você goste de vinho e esteja bem acompanhado, caso contrário, você vai viver de enxaquecas e curativos provocados pelas quedas consecutivas.
 
Decorridos quase oito anos da minha primeira experiência como docente, não carrego o mínimo senso de arrependimento. Apesar de não ser a mais rentável das profissões, é altamente estimulante, pois exige diferentes competências, além de proporcionar uma ampla base de conhecimento e relacionamentos.

Na condição de consultor, professor universitário e treinador de pessoas, posso dizer que melhorei um pouco embora tenha um longo caminho pela frente. O sucesso na caminhada depende de atualização constante, de relacionamento e, acima de tudo, do sorriso da plateia.
 
Como diria o meu instrutor de Coaching, a realidade é o que ela é e não o que você gostaria que fosse, portanto, se alguém deseja chegar a algum lugar, deve continuar caminhando com as armas que tem.
 
Isso é o que Steve Jobs chama de unir os pontos. Uma breve interrupção na caminhada é apenas um momento para reflexão e ajustes. Mais adiante, os pontos vão se unir outra vez e não há qualquer adversidade que não se transforme em vantagem no futuro.
 
A oportunidade na docência me deu também a oportunidade de conhecer centenas ou milhares de pessoas que, de alguma forma, contribuíram sobremaneira para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Quantos cursos, livros e outras indicações surgiram daí.
 
No fim da história, com grande parte dessas pessoas e profissionais, além de se tornarem clientes, ainda foi possível estabelecer um vínculo de amizade, o qual desejo manter nos próximos cinquenta anos. Novos vínculos sempre abrem novas portas e ajudam a estabelecer novos elos.
 
O lado bom da docência é que você poder ir além do conhecimento, do relacionamento e do salário. O dinheiro ajuda? Claro que ajuda, mas, na prática, o que vale mesmo é a chance de abrir uma porta após a outra através de milhares de pessoas que cruzam o nosso caminho. 
 
Por outro lado, para um professor medíocre, que se entrega à docência apenas para sobreviver, resta a única esperança: o maldito dia da aposentadoria. Ser professor, em qualquer nível de conhecimento, demanda uma competência não ensinada nas escolas: o encantamento.

E para encantar pessoas na docência, muito mais do que título, método, conhecimento específico e relacionamento, você precisa, acima de tudo, saber diagnosticar as emoções humanas para aplicar a dose certa de conhecimento de acordo com as necessidades de cada aprendiz.

Pense nisso e seja feliz!

Publicado em 9-Nov-2011, por Jerônimo Mendes,
no  site: www.gestopole.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário