sábado, 11 de agosto de 2012

Quietos sim. E daí? (1/4)


A introversão – assim como a sensibilidade, a seriedade e a timidez – é um traço de personalidade considerado indesejável; já a extroversão parece enquadrar-se em um estilo, muitas vezes transformado em um padrão opressivo que a maioria das pessoas acredita que deve seguir

Por Susan Cain
Da revista Mente & Cérebro n° 233, Junho/2012


Nossa vida é moldada tão profundamente pela personalidade quanto pelo gênero ou código genético. E o aspecto mais importante da personalidade – “o norte e o sul do temperamento”, como dizem alguns cientistas – é onde cada um se localiza no espectro introversão-extroversão. Nosso lugar nesse contínuo influencia como escolhemos amigos e colegas, como levamos uma conversa, resolvemos diferenças e demonstramos amor. Afeta a carreira que escolhemos – e se seremos ou não bem-sucedidos nela. Influi até mesmo na tendência a nos exercitar, a cometer adultério, a funcionar bem sem dormir, a aprender com nossos erros, a fazer grandes apostas no mercado de ações, a adiar gratificações, a ser um bom líder. Ou seja: isso se reflete nos caminhos do nosso cérebro, nos neurotransmissores e nos cantos mais remotos do nosso sistema nervoso. Não por acaso, atualmente, introversão e extroversão são dois dos aspectos mais pesquisados na psicologia da personalidade, despertando a curiosidade de centenas de cientistas.
Apesar de descobertas animadoras, esses pesquisadores, auxiliados pela tecnologia mais avançada, fazem parte de uma longa tradição. Poetas e filósofos têm pensado sobre retraídos e expansivos há séculos. Os dois tipos de personalidade aparecem na Bíblia e nos escritos de doutores gregos e romanos. Alguns psicólogos evolucionistas dizem que a história desses comportamentos vai muito além: também o reino animal apresenta “introvertidos”e “extrovertidos”: em linhas gerais, peixes estariam no primeiro grupo e macacos, no segundo. Sem os dois estilos de personalidade – ou sem outros pares complementares como masculinidade e feminilidade, Ocidente e Oriente, por exemplo -, a humanidade seria irreconhecível, e imensamente diminuída.
Veja a parceria de Rosa Parks e Martins Luther King. Um formidável orador recusando-se a ceder seu lugar em um ônibus não causaria o mesmo efeito de uma mulher modesta que claramente preferiria se manter em silencio. Mas Rosa não teria o necessário para eletrizar uma multidão se tivesse tentado se levantar e anunciar que tinha um sonho. Mas com a ajuda de Luther King, ela não precisou fazê-lo.
No entanto, hoje abrimos espaço para um número notavelmente limitado de estilos de personalidade. Dizem que para sermos bem-sucedidos temos de ser ousados, para nos mantermos felizes é preciso ser sociáveis. Costumamos nos ver como uma nação de extrovertidos – o que significa que perdemos de vista quem realmente somos. Dependendo de que estudo for considerado, de um terço a metade dos americanos, por exemplo, é introvertido – em outras palavras, uma em cada duas ou três pessoas que você conhece. (Considerando que os Estados Unidos estão entre as nações mais extrovertidas, o número deve ser pelo menos tão alto quanto em outras partes do mundo). Se você não for um introvertido, certamente está criando, gerenciando, namorando ou casado com um.

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