sábado, 28 de março de 2009

É tempo

TEMPO DE CONTINUAR, OU DE COMEÇAR

a. j. chiavegato

É comum dizer-se a uma criança :
feliz de você, tem a vida inteira pela frente.
Um dia, alguém disse isso sobre nós,
o que pode valer para sempre,
desde que se queira .

Daqui da janela de meu escritório vejo um chuva que cai, fina e triste e em mim, o ano que se vai ao fim. E antes de saudar o que chega, é conferir o que passa. Há uma tristeza no findar de todo ano, certo ante-gosto de culpada nostalgia, especialmente quando outra coisa não fez que passar, quer dizer, ano que vai sem deixar nada. Vale quando algo fica, seja mesmo um pouco de esperança.

Vivemos a brigar com o tempo. Crianças, sofremos que não passa, a contar os dias para ficar “mais grandes”. Gente grande, lamentamos que tão rápido corra, não nos ficando tempo para nada. Não contamos mais os dias que faltam, não porque de nada mais carecemos, mas por nada mais esperarmos. Sempre que se espera, contam-se os dias e as horas para a chegada e aí, é tão importante que depressa passe o tempo. Isso me lembra a sabedoria humana da raposa do Pequeno Príncipe: nunca chegues sem marcar hora. Queria viver devagarzinho a ansiosa alegria da espera. Então, ver o tempo passar é sentir em si o crescer da alegria. Toda a nossa vida só vale a pena se for o tempo que passa na alegria da espera.

Depois de certo tempo, já não sabemos mais quanto tempo faz que nascemos. Só que faz tempo. Por que? Por do tempo nada ter feito? Há tempo que foge sem nada deixar. Como o vento. E há o que passa como folhas que caem. Amanhã, serão mais vida.

Promessa de mais vida o tempo deixa em tudo o que conseguimos amar, folhas que fecundam o chão. Há uma certa melancolia no cair das folhas, como se morressem. Quem, porém, olha dentro, fundo, para além do que se vê, percebe, sob o chão de folhas, o pulsar da vida, garantindo a primavera.

Um ano que passa, um ano que cai, vale a pena se for o ninho quente do qual um ano novo surge. Verdadeiramente novo, hoje e até o fim, em que um dia, o último, possa ser o primeiro, para onde sempre nos levou o tempo.

Quando se tem uma certa idade, como disse, há quem não espere mais nada, mesmo quando só resta esperar pela morte, porque pela morte, amigos, não se espera. Viver é sempre saber encontrar restos de vida , mesmo bruxuleante, no fundo de todo desespero e saber que ainda se tem tempo. Não importa a idade, a vida é sempre criança para quem quer começar. E diante de quem quer começar, sempre podemos dizer: vai, amigo, você tem a vida toda pela frente!

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