quarta-feira, 19 de maio de 2010

A ética do cachorro III

© MARTIN VALIGURSKY/SHUTTERSTOCK
[continuação]

Comunicação diretae sem subterfúgios: princípio central da sociedade canídea

1. A comunicação deve ser clara.
Os animais anunciam que querem brincar e não lutar ou acasalar. Os canídeos abaixam a cabeça para indicar essa intenção, engatinham sobre as patas dianteiras, apoiando-se nelas, enquanto as pernas traseiras continuam eretas. Os acenos são usados quase que exclusivamente durante a brincadeira e são altamente estereotipados, ou seja, sempre parecem os mesmos (para que o recado “Venha brincar comigo” ou “Aindaquero brincar” fique bem claro). Mesmo quando um animal sinaliza a predisposição para brincar com uma inclinação da cabeça e prossegue com ações aparentemente agressivas, como mostrar os dentes, rosnar ou morder, seus companheiros demonstram submissão ou fuga apenas em 15% dos casos, sugerindo que eles confiam no recado deque qualquer coisa que se siga não será arriscada. A confiança na comunicaçãohonesta do outro é essencial para o bom funcionamento do grupo.
2. Cuidado com os modos.
Os animais tendem a considerar as aptidões lúdicas de seus companheiros e se engajam na tarefa de dar vantagens ao mais fraco e na troca de papéis para criar e manter igualdade de condições durante a interação. Por exemplo, um coiote talvez não morda seu companheiro de brincadeira tão forte quanto seria capaz, na tentativa de equilibrar a situação para manter o jogo justo. Um membro dominante da matilha pode desempenhar uma troca de lugar, deitando-se de costas (sinal de submissão que nuncaseria oferecida durante uma agressão efetiva) para deixar seu companheiro de status inferior ter a sua vez de “vencer”. As crianças também se comportam dessa forma ao brincar, por exemplo, intercalando os papéis de vencedores numa simulação de luta. Ao manterem as coisas justas dessa forma, todos os membros do grupo se aproximam uns dos outros, participam de atividades descontraídas e, ao mesmo tempo, constroem laços – o que faz com que o grupo permaneça coeso e forte.

Da revista Mente & Cérebro n° 208, de maio/2010

http://www.mentecerebro.com.br/


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