quarta-feira, 19 de maio de 2010

A ética do cachorro IV




© WOLF MOUNTAIN IMAGES/SHUTTERSTOCK
[continuação]
LOBOS ADULTOS RE FREIAM A FORÇA ao brincar com os filhotes, mantendo o jogo divertido e equilibrado para todos
3. Admita quando estiver errado.
Mesmo quando todos querem manter as coisas certas, a brincadeira às vezes desanda. Quando um animal se comporta mal, exagera na animação e acidentalmente machuca seu companheiro, ele se desculpa, exatamente da mesma forma como a maioria dos seres humanos faria em situação similar. Após uma mordida mais forte, um aceno de cabeça envia o “recado”, como se afirmasse: “Desculpe pela minha atitude, mas ainda é uma brincadeira, apesar do que fiz. Não vá embora; vou brincar de forma mais respeitosa”. Para a brincadeira continuar o indivíduo que sofre a ofensa deve aceitaras desculpas – e isso de fato ocorre na maioria das vezes. A compreensão e a tolerância surgem durante o “jogo”, assim como em outras situações da vida rotineira da matilha, como no momento da caça ou da divisão de alimentos.
4. Seja honesto.
Tanto um pedido de desculpa como um convite para brincar devem ser sinceros; os indivíduos que continuam a brincar de forma desleal ou a enviar sinais desonestos rapidamente serão excluídos pelo grupo. E isso traz consequências bem mais graves que a simples redução do tempo de diversão. A extensa pesquisa de campo de um dos autores (Bekoff) mostra, por exemplo, que os coiotes jovens que não brincam de forma adequada com frequência acabam deixando sua matilha e têm probabilidade quatro vezes maior de morrer que os indivíduos que permanecem com os outros.Do ponto de vista evolutivo, a violação de regras sociais estabelecidas durante as brincadeiras não faz bem para a perpetuação dos genes. O jogo honesto e divertido para todos pode ser entendido como uma adaptação evoluída que permite aos indivíduos formar e manter os vínculos sociais. Assim como acontece com os humanos, os canídeos formam intrincadas redes de relacionamentos, desenvolvem normas básicas da justiça que guiam o jogo social entre semelhantes e se apoiam em regras de conduta capazes de manter a sociedade estável. Em última instância, o objetivo é garantir a sobrevivência de cada indivíduo. Essa inteligência moral é evidente tanto em animais selvagens quanto em cães domesticados. É bem possível que tal noção de certo e errado tenha permitido às sociedades humanas florescer e se espalhar pelo mundo. Pena que o homem moderno às vezes se esqueça de procedimentos simples e eficazes, como ser claro, cuidadoso, humilde e sincero. Talvez seja hora de voltarmos a aprender algumas lições com nossos amigos de estimação.
Da revista Mente & Cérebro n° 208, de maio/2010

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