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Mudanças na forma de viver sempre trazem consigo novas maneiras de sofrer; algumas situações são especialmente férteis para novos arranjos psíquicos | ||||||
Um movimento desse tipo pede uma justificativa moral que explique o próprio sucesso de uns e o fracasso de outros tantos. Situações como essas são férteis para novos arranjos entre exigências superegoicas e disponibilidades de ideais. Transformações das formas de viver sempre trazem consigo novas maneiras de sofrer. Exemplos: a classe média americana dos anos 50 está ligada à aparição das patologias narcísicas, assim como a crença neoliberal dos anos 90 está em sintonia com a popularização da depressão e das patologias do consumo. A tese remonta à ideia, posta em circulação por Jacques Lacan, de que na primeira década do século passado, na sociedade europeia, as neuroses clássicas (histeria, neurose obsessiva, fobia) dependiam de um enfraquecimento da imagem do pai. O aprofundamento deste declínio redundou, já na psicopatologia dos anos 30, nas patologias de caráter. No caso dos batalhadores brasileiros a religião e os laços familiars parecem ter papel importante na formação deste espírito de resiliência, que aumenta a capacidade de absorver sucessivos fracassos, sacrifícios e riscos envolvidos na empreitada de ascensão social. Ao contrário do imigrante, que se separa de seus laços comunitários iniciando uma aventura individual de conquista, os batalhadores mantêm uma dívida simbólica com o passado e com a comunidade de origem. Se para o imigrante o passado renegado vem bater à porta, como sintoma de que algo de importante foi deixado para trás, para o batalhador é o futuro que assombra como indeterminação e incerteza: “será que trouxe tudo o que precisava na mala?” ou ainda “como posso ser feliz sem para de ser um sofredor”. Os batalhadores não querem mudar de bairro, mas permanecer junto de suas origens. Paradoxo: teria sido o infortúnio original a causa da felicidade posterior? Se essa for a pergunta teremos deentender muito melhor o sentido clínico do masoquismo. | ||||||
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quinta-feira, 19 de abril de 2012
O paradoxo moral do batalhador brasileiro
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