domingo, 17 de fevereiro de 2013

O que os ratos nos ensinam sobre amor e sexo


Camundongos podem ajudar a entender alguns dos mistérios das relações afetivas

Eric Isselee/Shutterstock

por Kelly Lambert

Ratos têm sido estudados intensamente – o que nos permite usá-los como modelo para conhecer a influência de hormônios, medicamentos, da idade e inúmeras outras variáveis, inclusive sobre atuação sexual. Depois de décadas de pesquisa, sabemos que esses animais têm comportamentos bastante previsíveis na “intimidade”. Ao longo de muitos anos, diversos estudos sobre o comportamento sexual de ratos têm lançado luz sobre os efeitos de diferentes hormônios em vários aspectos do processo de reprodução. Em todo o mundo, pacientes que utilizam técnicas de fertilidade têm se beneficiado do trabalho em endocrinologia reprodutiva, com pioneira contribuição de roedores. Também podemos aprender algo com os ratos a respeito das potenciais perturbações de certas drogas ou aprimorar condições ambientais em relação a respostas sexuais.

O cineasta Woody Allen é autor da famosa declaração de que o cérebro é seu segundo órgão favorito. Mas a verdade é que o cérebro é tão essencial para o comportamento sexual quanto os órgãos reprodutivos. Os hormônios envolvidos na reprodução, como estrogênio, progesterona, testosterona e prolactina, acionam os gatilhos neurais apropriados para eliciar respostas reprodutivas. Nos roedores, se os hormônios são removidos também o comportamento é anulado – suas respostas sexuais são consideradas hormonodependentes. Essas substâncias exercem efeitos ao entrar no cérebro através de um sistema de segurança, a barreira hematoencefálica, e ativam regiões responsáveis por comportamentos relacionados à reprodução.

Estudos com fêmeas têm focado na pequena estrutura chamada hipotálamo. Do tamanho da cabeça de um alfinete, a região está envolvida principalmente no controle das emoções e comportamentos, como comer, beber, copular, fugir e lutar. Dentro dessa estrutura há grupos semelhantes de células nervosas com funções específicas. O núcleo hipotalâmico ventromedial, por exemplo, está intimamente envolvido com a lordose exibida pela fêmea. Se essa área do cérebro é removida a rata já não terá a postura necessária para iniciar o ato sexual. Por outro lado, se o hormônio reprodutivo progesterona passa por essa região, provoca o comportamento de flerte na fêmea – pulos, movimentos rápidos e balanço das orelhas. Juntamente com outras áreas do cérebro, o hipotálamo ventromedial controla também a sensação de saciedade, nos informando quando estamos satisfeitos. Talvez o cérebro feminino perceba pouca diferença entre sexo e comida, o que pode explicar por que o chocolate é um dos produtos mais oferecidos quando o objetivo é agradar à mulher amada – ou, pelo menos, desejada.

A dopamina, envolvida na recompensa neuroquímica do cérebro, e o núcleo accumbens, ligado à sensação de prazer, estão envolvidos na resposta para a cópula. Se houver algum problema nessa área, as fêmeas rejeitam os machos mais frequentemente do que quando têm um circuito de recompensa intacto. Um interessante estudo realizado na década de 70 fornece uma forte evidência da intensidade da motivação da fêmea para encontros sexuais. Os pesquisadores descobriram que, para ter acesso a um macho, as ratas corriam até por uma cerca eletrificada – mais uma descoberta que contraria a crença de que elas desempenham papel passivo na cópula.

Outra parte do hipotálamo, a área pré-óptica medial, contribui para a resposta sexual em ratos machos, assim como a amígdala, que participa do processo de regulação emocional. Em um experimento, o neurocientista Barry Everitt e seus colegas, da Universidade de Cambridge, treinaram ratos machos para pressionar uma barra e ter acesso a uma fêmea sexualmente receptiva. Depois que os animais machos aprenderam a tarefa, os cientistas interferiram no funcionamento da área medial pré-óptica e devolveram os animais à “câmara de sexo”. Os ratos com lesão cerebral continuaram a pressionar a barra e ter acesso às fêmeas, sugerindo que ainda as queriam. Mas, quando uma fêmea se aproximava, eles não conseguiam copular. No entanto, após terem a amígdala danificada, ocorreu o contrário: os machos não mais pressionaram a barra para ter acesso às ratas – o desejo se foi –, mas, se uma fêmea era apresentada, eles tentavam copular novamente. Everitt e sua equipe concluíram que desejo sexual é dissociado do desempenho.

O circuito de recompensa cerebral também está envolvido no comportamento sexual de machos. Os pesquisadores administraram anfetamina – uma droga que aumenta a dopamina – no centro de prazer do cérebro de ratos machos com a amígdala lesionada e os roedores voltaram a pressionar a barra para ter acesso às fêmeas, o que indica que o incremento no centro de recompensa compensou a falta da função da amígdala. A dopamina no centro de prazer do cérebro dos ratos também aumenta naturalmente depois de eles visualizarem uma fêmea receptiva.

O grupo de Larry J. Young, da Escola de Medicina da Universidade Emory, também acompanhou o padrão de receptores de oxitocina em ratos silvestres do sexo feminino. A equipe identificou altos níveis desses receptores em torno do núcleo accumbens e do córtex pré-frontal, uma área responsável por funções cognitivas. Além disso, a dopamina facilita a ligação amorosa entre ratazanas da pradaria de ambos os sexos. A pesquisa sobre Romeus e Julietas roedores revela a receita para um coquetel romântico: oxitocina e vasopressina combinadas com uma pitada de dopamina. Naturalmente, o processo é delicado e complexo – e a poção do amor está muito longe de poder, um dia, ser comercializada.


Do site: www.mentecerebro.com.br

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