terça-feira, 14 de setembro de 2010
Tênues Fronteiras (6)
Injetamos em seu Vitório uma pequena dose de glicose marcada por um isótopo radioativo. Como o cérebro usa o açúcar como fonte de energia, a substância se acumula preferencialmente nas áreas de atividade metabólica mais intensa. Como a glicose está marcada pelo isótopo, há uma clara distinção de áreas muito ou pouco ativas nas imagens da PET, que complementa os resultados da ressonância magnética. Hoje sabemos que o cérebro pode apresentar problemas de função mesmo na ausência de lesões em sua estrutura. Inversamente, é possível que uma região pouco degenerada cumpra suas tarefas perfeitamente porque os demais neurônios compensam o prejuízo - fenômeno conhecido por plasticidade neural.
Com a ajuda das imagens obtidas por PET, descobrimos que, mesmo em pacientes com a doença de Alzheimer, áreas visivelmente atrofiadas nem sempre são responsáveis pelo déficit cognitivo. Em alguns casos, o hipocampo afetado apresenta atividade normal, ao passo que o metabolismo de outras regiões etá extremamente reduzido, como no córtex cingular posterior e na região inermediária entre os lobos parietal e temporal. O mais importante, porém, é que podemos visualizar essa perda de atividade antes mesmo que sintomas agudos de Alzheimeer venham à tona. Por outro lado, pacientes com distúrbios cognitivos leves, como seu Vitório, não apresentaram redução metabólica no lobo temporoparietal.
Não há dúvida, portanto, que a PET é uma ferramenta importante no diagnóstico precoce da doença de Alzheimer, mais do que exames neuropsicológicos. O problema é quese tata de um procedimento extremamente caro, muito mais usado em pesquisas que na rotina médica. Esperamos que seus custos diminuam no futuro, como ocorre com a maioria das tecnologias, já que o ganho para os pacientes é muito grande: quanto antes a doença for diagnosticada, mais poderemos prolongar o período de vida saudável dos pacientes.
Seu Vitório e sua família estão mais tranquilos. Os exames dele não apontaram nada além dos distúrbios cognitivos leves. É muito improvável, portanto, que ele perca suas lembranças de uma hora para outra. Deverá levar uma vida independente, pelo menos do ponto de vista mental, por muitos anos ainda.
Da revista Mente & Cérebro, edição especial n° 1, maio/2010
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