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Sigmund Freud se concentrou nesse desafiador conjunto de sintomas, que envolvia desde alucinações até paralisia de algumas partes do corpo | ||||||
Condenada à fogueira, a marquesa de Brinvilliers, se fosse examinada dois séculos depois pelo médico Jean-Martin Charcot (1825-1893), no hospital francês La Salpêtrière, teria seus sintomas exibidos em uma aula para médicos recém--formados, entre eles Sigmund Freud (1856-1939). No século 19, os casos de bruxaria e possessões demoníacas migraram dos domínios da religião e da lei para o da medicina. As visões de Satanás e os sintomas físicos de uma atuação maligna passaram a ser, aos poucos, cogitados como alucinações e sintomas de patologias que mal começavam a ser identificadas, como epilepsia e histeria. Charcot, aliás, analisava registros de antigos processos de bruxaria em suas aulas sobre doenças do sistema nervoso, apontando sinais de possíveis distúrbios nas acusadas. Freud se interessou especialmente pelos casos de histeria – um desafiador conjunto de sintomas, sem causa orgânica aparente, que envolvia desde alucinações até a paralisia de algumas partes do corpo, mais frequente em mulheres. Sob a influência de Charcot, o médico aus-tríaco usou a hipnose para tentar descobrir vivências dolorosas do passado de suas pacientes, muitas vezes esquecidas, o que ele chamava de “trauma”. Segundo Freud, ao se lembrarem do evento, elas reviveriam as emoções que não puderam expressar de forma adequada no passado. Surgiam assim a noção de recalque e o tratamento centrado na fala, fundamentais na psicanálise. Diante de desejos intensos e repressões igualmente fortes, a organização psíquica da histérica elabora fantasias e se manifesta em somatizações. Uma “teatralização” que, segundo sugerem documentos históricos sobre os grandes julgamentos de feitiçaria, encontrou um público sedento pelo bizarro e o espetacular. E, nesse sentido, nada mais sedutor que a bruxaria. “A histeria é uma forma específica de se relacionar com o outro. O sintoma explicitado no corpo pode ser considerado como instrumento a mais para tentar estabelecer vínculos”, define o psicólogo Fábio Riemenschneider, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), autor de Histeria, para além dos sonhos (Casa do Psicólogo, 2004). Segundo o psicólogo, essa complexa engrenagem tem uma peça fundamental: o intenso – e recalcado – desejo pela figura parental do sexo oposto durante a infância, o que Freud definiu como “complexo de Édipo”. Esse conflito psíquico se manifesta principalmente na sexualidade. É uma queixa pela falta do objeto amado e desejado, que se reflete na criação de fantasias, nos atos (falhos ou não) e na busca por formas alternativas de satisfação da fantasia edípica. “Certamente, muitas das 'bruxas' foram queimadas por seus sintomas e não por seus supostos poderes mágicos”, diz Riemenschneider. |
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
O que é histeria?
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