domingo, 29 de janeiro de 2012

Relações passageiras


 
Do site: www.mentecerebro.com.br, em 07 de dezembro de 2011

Montagem de ballet aborda a transitoriedade dos laços afetivos e do corpo, remetendo à fragilidade dos vínculos
 
©Shutterstock
ESPETÁCULO DA COMPANHIA DE DANÇA BORELLI, Produto perecível laico aborda a fragilidade das relações
Em cena, não há personagens, os bailarinos representam apenas sentimentos. Uma jovem mulher surge no palco, com o corpo contorcido, como se não pudesse suportar a dor. Dançarinos vestidos de negro tentam reanimá-la, até que ela volta à vida. A impressão é de que tenta captar os movimentos de seus companheiros de cena e, diante da impossibilidade de eternizá-los, o sofrimento transparece. Produto perecível laico, espetáculo da companhia de dança Borelli, em temporada com preços populares até dia 11 de dezembro, em São Paulo, aborda a transitoriedade das relações e do corpo.

A montagem é inspirada no poema A morte, de Cruz e Souza, sobre a angústia diante dos “vagos momentos trêmulos que decorrem”, como descreve o poeta. A coreografia remete à fragilidade dos laços afetivos à qual se refere o sociólogo polonês Zygmunt Bauman em Amor líquido, lançado no Brasil em 2004 pela Zahar. Outros livros do autor, hoje com 86 anos, tratam do tema. Há alguns anos, em uma entrevista publicada no volume 16 do periódico Tempo Social, o sociólogo comentou: “Apesar de ser muito curta, abominavelmente curta, a vida humana é a única entidade da sociedade de agora que tem sua longevidade aumentada. Sim, somente a vida humana individual vê crescer sua durabilidade, enquanto a vida de todas as outras entidades sociais que a rodeiam – instituições, ideias, movimentos políticos – é cada vez mais curta. Assim, o único sentido duradouro, o único significado que tem chance de deixar traços, rastos no mundo, de acrescentar algo ao exterior, deve ser fruto de seu próprio esforço e trabalho. Os jovens podem contar unicamente com eles próprios e só haverá em sua vida o sentido e a relevância que forem capazes de lhe dar”.

No espetáculo, a troca de estímulos entre os bailarinos em dado momento parece se esgotar e a separação é inevitável. As relações aparentemente profundas, expressas em movimentos mais fluidos e tranqüilos, no entanto, emergem ocasionalmente em algumas passagens.


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