|
||||||
Pessoas que sofrem exclusão se tornam mais introspectivas para dar sentido à sua experiência e elaborar estratégias para enfrentar a situação | ||||||
por Sebastian Dieguez | ||||||
Com efeito, um estudo de neuroimagem revelou a presença de ativações cerebrais comuns a essas duas ameaças, em especial no nível de uma estrutura profunda intitulada córtex cingulado anterior. A região é conhecida por sua implicação na experiência do sofrimento associado à dor e não à percepção de sua intensidade, o que significa que ela tem o componente emocional da dor subjacente – mais do que o sensorial. O fato de sua ativação estar também subtendida pelo sofrimento associado à exclusão social permite ponderar uma hipótese interessante, sobre a evolução do ostracismo: em algumas espécies, a natureza teria favorecido a sociabilidade, explorando um velho sistema fisiológico de evitar a dor para implicá-la na regulação das relações interpessoais. Como se trata de um sofrimento quase fisiológico, não é em absoluto surpreendente que ele leve ao ressentimento, à cólera e à depressão. A vítima da marginalização recorre, em geral, à introspecção para dar sentido à sua experiência e elaborar estratégias para enfrentar a situação. A reação, porém, depende bastante de intensidade e do número de rejeições sofridas. Num primeiro momento, a pessoa pode tentar ser aceita oferecendo ajuda, ou por meio de atos de altruísmo e gentileza. É isso que faz seguidamente a criatura, infelizmente sem sucesso: “Eu tinha sentimentos de afeto; a resposta a eles foram o ódio e o desprezo”. Após repetidas frustrações, o indivíduo parece aceitar o estatuto de persona non grata. Nesse estágio, cada tentativa de aproximação social é vista antecipadamente como um fracasso, uma confirmação da sensação de perda de controle do ambiente, e instala-se então o círculo vicioso do ostracismo: prevalece a desistência de tentar aproximações por medo de não ser aceito mais uma vez. Estudos revelam que pessoas às quais é dada a possibilidade de punir os que as excluíram tendem a castigar aqueles que não têm nada a ver com seu sofrimento. Isso parece corroborar a noção de desconstrução cognitiva: o excluído não se mostra capaz de examinar detalhadamente o que lhe acontece e atribui a situação a qualquer um que pareça não excluído. Levado ao limite, esse estado pode deflagrar um furor assassino. Em muitos casos, a vítima desse estado pode até ter consciência do caráter irracional de seu comportamento, como o próprio monstro revela em suas palavras: “Eu era escravo e não o senhor de um impulso que me horrorizava, mas do qual eu não conseguia escapar”. Como hoje a ciência comprova, diante do ostracismo a vida toda perde sentido. Sem a presença e a resposta do outro, torna-se impossível se definir como pessoa. A violência aparece então como meio legítimo de interação, e o suicídio, como a única fuga possível. Como não consegue criar uma rede de significados que lhe forneça uma identidade pessoal, a criatura não consegue se ver de outra forma que não como o monstro que os demais enxergam nela. | ||||||
|
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Círculo de sofrimento
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário