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Exemplos e Opiniões
O mundo está repleto de opiniões, umas mais assertivas do que as outras.Cada qual se preocupa em denotar a força de sua própria argumentação. Mas oque precisamos verdadeiramente é de exemplos.* por Tom Coelho"Depois de escrever, leio... Por que escrevi isto? Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu..."(Fernando Pessoa)À medida que um escritor vai criando intimidade com seus leitores, algumasquestões surgem com naturalidade. São perguntas que ora beiram o abismo dointeresse filosófico e conceitual, ora margeiam o precipício da meracuriosidade pessoal. Algumas chegam de mansinho, escondidas num longo e-mailcontendo elogios e considerações diversas. Outras são aladas, chegam rápidono rastro de Mercúrio e são diretas e objetivas.Não posso furtar-me a responder a qualquer uma delas por um motivo muitosimples: sou eu o primeiro inquisidor que, atrevidamente, invade lares eescritórios, ao alvorecer ou ao anoitecer, sem pedir licença, apresentandoideias, convidando ao debate e instigando à reflexão.Neste contexto, a pergunta mais recorrente tem sido: "Você é ou consegue serassim como escreve?".Perguntas e respostasEscrevo aquilo que penso sobre aquilo em que acredito. Fruto de muitaleitura, vivência e reflexão, escolho temas que me afligem a alma, pedindoespaço para se manifestar, gritando pela liberdade e clamando poralternativas e soluções. Manifesto meu ponto de vista e fico à espera decomentários capazes de auxiliar-me a encontrar respostas. Tenho aprendido afazer as perguntas, talvez mais acertadamente. Porém quanto mais estudo,quanto mais investigo, mais me sinto o próprio ponto de interrogação. Edesejo encontrar as respostas. Coletivamente.Mas o que escrevo não corresponde com exatidão a quem sou. É uma cópiamelhorada, a projeção de quem desejo ser. Ao escrever, assino contratos como mundo e comigo mesmo. Isso gera comprometimento. E comprometer-se com oque não se pode realizar gera angústia que, por sua vez, conduz à tristeza.Como não estou aqui para ser triste, não vou estreitar propositadamente meuscaminhos para a felicidade. Desejo, pois, assumir o que se possa cumprir.Melhor um resultado pequeno do que uma grande promessa.UtopiaFernando Pessoa disse que "o poeta é um fingidor". Rubem Alves diz que"escreve o que ele não é". E ambos asseguram que é melhor não conhecerpessoalmente o autor, sendo mais seguro ficar com o texto.Penso diferente. Comecei a escrever como articulista, ou aquele que escreveartículos. Transitei para a missão de cronista, versando sobre o cotidiano.Quem se dá a este trabalho tem sempre alguma poesia dentro de si. Aí haveráquem diga que poeta vive no mundo da lua, viajando pelo planeta dos sonhos,na imaginária galáxia da utopia.Pois digo que toda utopia é uma realidade potencial. E se escrevo sobre oque sonho é porque sonho com o que escrevo. E que pode se concretizar. E quefica mais concreto quando se põe no papel e se compartilha com o mundo, quepassa a sonhar junto.O que escrevo é melhor do que sou hoje. É o que vou buscar. E quando melhorpessoa eu for amanhã, novos escritos demandarão uma nova pessoa, aindamelhor, num processo que não tem fim. Não sei onde foi o ponto de partida, enão me interessa qual a estação de chegada. Bom mesmo é apreciar a paisagemdurante a caminhada. Observar os campos verdejantes e o orvalho na relva.Sentir o brilho cálido do sol e a brisa refrescante acariciando a face.Transpor as pedras, as valas e as pontes quebradas ou inacabadas que surgempelo trajeto.A vontade é muito grande de tentar varrer o assunto, esgotar o inesgotável.Sempre faltará um verso, uma frase ou uma assertiva qualquer, negligenciadosque são pela memória. Sou vários num só e aquele eu mais prático interpela omeu eu mais sonhador quando uma lauda acaba.Take home valueHá uma frase muito utilizada entre os economistas: take home value, ouliteralmente, "o valor que levamos para casa". Esta é uma tese que mereceatenção.Quando você sai de sua casa para uma reunião, uma palestra, um encontro ouqualquer outra atividade, o que você tira de proveito deste evento que lhepossibilita retornar ao lar melhor do que quando saiu? Quais lições vocêextraiu dos momentos que dedicou ao referido acontecimento? E o que vocêlegou às pessoas que estavam em sua companhia para também fazê-las melhores?Madre Teresa alertava que não podemos permitir que alguém se afaste de nossapresença sem sentir-se melhor e mais feliz. E não podemos admitir o mesmo emrelação a nós mesmos. Já Rimpoche dizia que "o melhor que podemos fazer poruma pessoa é dar a ela a oportunidade de nos oferecer o que tem de melhor".É o que procuro fazer a cada palavra. Elas não são escritas, mas desenhadas.Não são digitadas, mas dedilhadas. Porque contêm carinho. Porque desejocompartilhar até o que ainda não sou. Porque é como o pão que alimenta: omelhor é sua partilha, sua divisão.O mundo está repleto de opiniões, umas mais assertivas do que as outras.Cada qual se preocupa em denotar a força de sua própria argumentação. O queprecisamos verdadeiramente são de exemplos. Fazer, praticar, aplicar. Não sedeve mudar de opinião se não se pode mudar de conduta. Mas se mudar forpossível, faça-o por você, pelos que o cercam e pela utopia de um mundomelhor para se viver.* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em17 países. É autor de "Somos Maus Amantes - Reflexões sobre carreira,liderança e comportamento" (Flor de Liz, 2011), "Sete Vidas - Lições paraconstruir seu equilíbrio pessoal e profissional" (Saraiva, 2008) e coautorde outras cinco obras. Contatos através do e-mail<mailto:tomcoelho@tomcoelho.com.br> tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite:<http://www.tomcoelho.com.br/> www.tomcoelho.com.br e<http://www.setevidas.com.br> www.setevidas.com.br.
Recebido do autor, por e-mail
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