domingo, 11 de março de 2012

Desafios da autoestima (1/2)

Do site: www.mentecerebro.com.br, em 15 de fevereiro de 2012

Os sentimentos que nutrimos por nós mesmos estão apoiados nas vivências



por Maria Laurinda Ribeiro de Souza

Todos querem ter uma boa autoestima. E não é para menos, já que prevalece a ideia de que seus efeitos são decisivos para o bem-estar físico e psicológico. Mas não é simples lidar com esse conceito, afinal, trata-se de algo “móvel” e de caráter subjetivo: não basta ser belo, inteligente ou querido para se sentir bem – é fundamental que a pessoa se permitareconhecer em si as características positivas e possa se apropriar delas. Além disso, assim como acontece com outros estados afetivos, é difícil mensurar o quanto gostamos de nós mesmos, embora nos últimos anos a psicologia experimental tenha trabalhado no desenvolvimento de algumas ferramentas para avaliar o apreço que nos devotamos.

Infinitamente mais psicológico do que lógico, o que sentimos por nós está apoiado nas experiências acumuladas e, ao mesmo tempo, naquilo que vivemos no presente (o que, aliás, também é influenciado pelo passado). “Em linhas gerais, podemos dizer que autoestima é o conceito que cada indivíduo faz de seu próprio valor”, afirma o psiquiatra italiano Willy Pasini, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Milão e de Genebra, e autor do livro A autoestima: descubra o que afeta sua imagem e viva melhor (Rocco, 2011). Fundador da Federação Europeia de Sexologia, ele compara esse sentimento a um camaleão. Embora a metáfora seja muitas vezes empregada de forma negativa, numa alusão aos que mudam de opinião com frequência, nesse caso Pasini destaca o aspecto positivo. “Assim como o animal que altera sua cor, mas não a pele, a autoestima pode se modificar ao longo da vida, influenciada por sucessos e fracassos, pelo que decidimos e encontramos, mas principalmente pela forma como elaboramos cada experiência; entretanto, sua estrutura básica permanece imutável.

”Ele destaca que nos dias de hoje prevalecem, entre os psicólogos, basicamente duas teorias sobre o apreço por si mesmo: a da personalização, de William James, e a da socialização, de Charles Cooley. “A primeira acentua a articulação do ego atual com aspirações pessoais e se baseia no conceito estoico segundo o qual a pessoa tem a autonomia, ainda que não absoluta, de sua subjetividade. A segunda faz da percepção de si mesmo uma espécie de espelho social; assim, a importância que cada um se atribui é determinada pela importância que os outros lhe conferem.”

Independentemente da hipótese adotada, é importante ter em mente que a autoestima não é algo pronto e definitivo, e sim um aspecto reconstituído a cada dia. Na opinião de Pasini, a possibilidade de ter uma relação equilibrada conosco, sem valorização extrema (nem dos erros nem dos acertos), está diretamente relacionada à capacidade de sermos mais generosos conosco. E, em geral, também com os outros.

Em tempos de comunicação virtual, não é difícil pensar que as redes sociais funcionam como uma medida do quanto alguém é amado ou bem-sucedido. No fundo, porém, a maioria sabe (ou suspeita) que ser popular não significa necessariamente poder contar com as pessoas a qualquer momento e que os seguidores no Twitter ou no Facebook não correspondem ao número de “amigos de verdade”. Ainda assim, um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Cornell, em Nova York, publicado no periódico Cyberpsychology, Behavior and Social Networking em fevereiro de 2011, mostrou um dado curioso: jovens se sentem mais satisfeitos ao olhar seu perfil no Facebook do que a própria imagem no espelho.

Para realizar a pesquisa, a psicóloga Amy Gonzales reuniu 63 alunos da universidade no laboratório de mídia social da instituição. Alguns voluntários foram instruídos a acessar a própria página do Facebook, outros ficaram em frente a computadores desligados, com telas espelhadas, e um grupo de controle permaneceu diante de monitores não espelhados. Após três minutos, todos receberam um questionário sobre autoestima. Resultado: os que visualizaram sua página na rede social mostraram, em média, percepção muito mais positiva de si em comparação aos que olharam a própria imagem refletida – a pontuação foi ainda maior entre os que apagaram ou mudaram algo em seu perfil.

Amy constatou que as fotos do Facebook “editadas” pelos próprios jovens, com os comentários de amigos e conhecidos, estimularam a autoestima mais do que a visão da própria imagem no espelho, que muitas vezes não corresponde ao ideal que os adolescentes têm a respeito de si mesmos. “As redes sociais oferecem a possibilidade de apresentar ao mundo (e a si mesmo) uma versão pessoal 'melhorada', mais próxima da idealização do que seria adequado, tanto no que diz respeito à aparência quanto a relacionamentos”, afirma a pesquisadora.

Adolescentes sentem mais prazer ao receber elogios do que ao fazer sexo ou ganhar dinheiro. Será mesmo? Pelo menos foi o que mostrou um estudo conduzido pelo psicólogo Americano Brad Bushman e publicado há alguns meses no periódico científico Journal of Personality. O pesquisador da Universidade de Ohio questionou estudantes sobre as atividades que mais lhes davam prazer, como passear com o namorado ou namorada, receber o salário após um fim de semana de trabalho ou saborear seu prato preferido. Os jovens deveriam classificar as opções em uma escala de 1 (não me estimula nem um pouco) a 5 (sinto grande prazer). Os itens mais pontuados foram os relacionados à construção da autoestima – como receber elogios, perceber se admirado e ser reconhecido como bom aluno ou atleta pelos outros colegas.

Em uma segunda etapa da pesquisa, o psicólogo convidou os mesmos voluntários a participar de um teste de habilidades matemáticas. Ele divulgou as notas e informou que, se esperassem mais dez minutos, poderiam ter os testes reavaliados por outro sistema de cálculo da pontuação – conhecido entre os estudantes por aumentar um pouco as notas. Bushman percebeu que os adolescentes que se mostraram mais aptos a ficar e esperar – mesmo sabendo que na prática não importava a nota que tirassem – eram, na maioria, os mesmos que valorizavam atividades relacionadas ao fortalecimento da autoestima.

Em muitos casos, a busca pela autoafirmação pode apresentar algum grau de risco, já que, para se sentirem aceitas e reconhecidas por características que consideram positivas, as pessoas podem se expor a situações perigosas. Pensando nisso, em uma terceira etapa da pesquisa Brad Bushman traçou um paralelo com a dependência química. Os jovens participantes do estudo afirmaram “querer” mais do que “gostar” das situações em que se sentiam mais valorizados. “Trata-se de um padrão semelhante ao das respostas de dependents de drogas”, sugere o pesquisador.


 (continua em 12/03)

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