quarta-feira, 6 de julho de 2011

Essa tal felicidade

 

Este artigo está dividido em duas partes distintas: a primeira é dedicada àqueles que acreditam que, por várias razões, a felicidade não existe; a segunda é dedicada àqueles que conseguem extrair pequenos momentos de felicidade com frequência, a despeito de todas as adversidades que enfrentam.

A primeira parte é mais complexa. Diz respeito à maioria da população que se diz infeliz e desafortunada. Este grupo espelha-se na condição alheia e carrega uma tendência quase irreversível de imaginar que os outros sempre estão melhores, são mais favorecidos e nasceram com o traseiro virado para a lua, como se diz na gíria.

Em geral, nada do que lhe acontece é capaz de reverter a percepção de que alguns estão predestinados a passar por provações e privações enquanto outros são privilegiados pela natureza divina. Segundo minha mãe, tem a ver com o destino, ou seja, aquilo que Deus lhe reservou para que você resista e faça a vida valer a pena.

De minha parte, nunca acreditei muito nesse negócio de destino, mas não discuto. Embora a maioria da população seja desfavorecida pelas condições de vida em que foram criadas ou pela cultura onde estão inseridas, sempre é possível mudar. Não é tão simples, mas para tudo na vida existe uma ou mais saídas.

Lutar contra regimes de governo opressores, condições precárias de vida ou religiões e culturas que tentam impor o modo como você deve se vestir, pensar e comportar-se é de tirar o sono e a felicidade de qualquer um. E quanto mais você depende da opinião alheia, mais infeliz você se torna.

A infelicidade é um estado de espírito. Quanto mais nos comparamos e quanto mais buscamos nos outros aquilo que está dentro de nós mesmos, maior o descontentamento. Apesar de o ser humano saber que a infelicidade é prejudicial à saúde, ser vítima dá menos trabalho.

Essa tendência humana ao sofrimento, ora por meio do trabalho, ora por meio das escolhas mal realizadas, ora por meio da predestinação, como diz minha mãe, é responsável pela infelicidade geral das nações. Lamentavelmente, essa é a condição de vida escolhida pela maioria das pessoas.

A segunda parte também é complexa, entretanto, mais prazerosa, menos desgastante, mais excitante, menos entediante. Diz respeito à felicidade pura e simples, cujo direito é universal e não uma questão de escolha ou predestinação, como se pensava na Idade Média.

Por que razão algumas pessoas teriam o direito de ser feliz enquanto outras estariam condenadas à infelicidade? Seria uma questão de opção, aceitação ou mesmo de predestinação? Será que a questão escolhido ou condenado continua sendo fruto da ignorância coletiva? Não vejo sentido nisso. O único sentido é a busca da felicidade individual e coletiva.

De fato, para que eu e você sejamos felizes não é necessário que o restante da população se torne infeliz. Ao contrário, a felicidade coletiva deveria nortear a felicidade individual. Seria muito egoísmo de minha parte almejar a própria felicidade sem desejar a felicidade alheia. A minha e a sua felicidade estão intimamente ligadas.

O que lhe parece ser essa tal felicidade? Deixe-me explicar de um jeito que talvez você nunca tenha lido nem ouvido falar. Se fosse possível representar graficamente seria melhor, mas um dia teremos a oportunidade de nos encontrar e conversar a respeito. A felicidade é construída da seguinte forma:

    Você atinge a maioridade e consegue o primeiro emprego. Felicidade total. Em menos de um mês você leva a primeira babada do chefe na frente dos colegas. O mundo parece vai desabar.
    Seis meses depois você consegue a sua primeira promoção. Felicidade total. Um ano depois a empresa vai à falência e você se vê sem emprego, sem salário e sem direitos. O mundo desaba outra vez.
    Apesar do sofrimento, você dá a volta por cima e monta um negócio por conta própria em sociedade. Felicidade total. Tempos depois você leva um golpe do sócio que tanto confiava. A infelicidade bate à sua porta novamente.
    Você está começando a entender melhor o conceito de resiliência, volta mais forte, arranja um novo emprego e consegue uma namorada maravilhosa. Felicidade plena. O trabalho vai super bem, mas você dedica tanto tempo a ele que a namorada acaba trocando você por um amigo de faculdade. Ah, essa tal felicidade não é fácil!

Estou certo de que você entendeu o espírito da coisa. Essa tal felicidade é feita de pequenos momentos de alegria e de tristeza. O grande problema do ser humano é quando ele concentra energia somente nos momentos de infelicidade. É a opção incondicional pela tristeza.

O fato é que nunca viveremos a felicidade plena, pois a vida está sempre nos testando de alguma forma. Contudo, quando aprendemos a valorizar e tirar maior proveito muito mais dos momentos de alegria do que de tristeza, nosso nível de felicidade aumenta.

Por fim, lembre-se, coisas materiais não vão mudar o seu padrão de infelicidade. Elas provocam uma sensação temporária de prazer. A felicidade é construída através de pequenos momentos memoráveis. Na média, o que importa são os seguidos momentos de êxtase, de satisfação, de realização plena que você experimenta ao longo da vida.

Pense nisso e seja feliz!


Autor: Jerônimo Mendes


Publicado em: 27/06/2011, no site: www.qualidadebrasil.com.br

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