quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mentes cegas (2/3)

Da revista: Mente & Cérebro, edição 222 - Julho 2011


Desde a infância somos capazes de perceber o que os outros sentem e pensam; autistas, porém, não dispõem desse recurso que permite a comunicação em nível mais sutil
por Bruce M. Hood

nephron/creative commons
Neurônios fusiformes: encontrados apenas em espécies que se socializam, como grandes símios, elefantes e baleias
[continuação]

EXPERIÊNCIA ASSUSTADORA

As crianças aprendem aos poucos a ler mentes e também se tornam conselheiras. “Não chora, mamãe”, provavelmente dirá a garotinha ao ver a mãe emocionada por alguma razão. Os pequenos começam a entender a tristeza, alegria, desilusão e ciúmes dos outros como correlatos emocionais de seus comportamentos. Por volta dos 4 anos, as crianças tornaram-se especialistas em disputa social: copiam gestos, imitam palavras e posturas e, geralmente, desenvolvem simpatias. Dessa forma, sinalizam que fazem parte dos mesmos círculos sociais de que todos nós participamos para nos tornar “membros da tribo”, capazes de compartilhar comportamentos socialmente contagiantes como chorar, bocejar, sorrir, gargalhar e fazer caretas de nojo.


Não é de admirar que aqueles que sofrem de autismo sintam tanto medo das interações sociais diretas. Se você não consegue imaginar, nem de longe, o que se passa com a outra pessoa, essa interação deve ser intensamente frustrante, estressante – e assustadora. Em geral, os autistas não gostam de contato visual direto, preferem olhar para objetos e não para rostos; não imitam comportamentos, não bocejam, choram ou riem quando outros o fazem. Ou seja: não se envolvem com o rico tecido dos sinais que partilhamos com os demais membros da espécie. Essa incapacidade pode ser devida ao fato de que autistas geralmente se afastam psiquicamente de atividades que envolvam outras pessoas.

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