sexta-feira, 22 de julho de 2011

Mentes cegas (3/3)

Da revista: Mente & Cérebro, edição 222 - Julho 2011


Desde a infância somos capazes de perceber o que os outros sentem e pensam; autistas, porém, não dispõem desse recurso que permite a comunicação em nível mais sutil
por Bruce M. Hood
[continuação]

A incidência de autismo é mais alta em gêmeos idênticos, que compartilham a quase totalidade de seus genes, em comparação com gêmeos fraternos, que compartilham somente 50% dessa carga – o que indica que existe um componente genético para esse transtorno. Além disso, a maior incidência em homens que em mulheres revela fortes implicações biológicas. Já existem evidências, com base em estudos de imageamento do cérebro, de que regiões do córtex pré-frontal – principalmente o córtex frontoinsular e o córtex cingulado anterior, normalmente ativados por interações sociais – estão praticamente inativas em autistas. Dados de autópsias também indicam que as estruturas do córtex frontoinsular e do córtex cingulado anterior são alteradas nos casos de autismo.


O pesquisador John Allman, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, acredita que boa parte desse déficit social pode ser atribuído à falta de um tipo especial de neurônios fusiformes, também conhecidos como neurônios de Von Economo, em homenagem ao seu descobridor, que os observou em 1925. Neurônios fusiformes consistem em um neurônio bipolar bem desenvolvido encontrado somente no córtex frontoinsular e no córtex cingulado anterior, que, acredita-se, fornece a interconexão entre as áreas do cérebro ativadas pela aprendizagem e pelo contato social. Essa localização pode explicar por que neurônios fusiformes só foram encontrados em espécies particularmente sociais, como todos os grandes símios, elefantes, baleias e golfinhos.

Dentre todos os animais, os humanos são os que têm número maior de neurônios fusiformes localizados no córtex frontoinsular e no córtex cingulado anterior – as mesmas regiões que podem ser comprometidas no espectro de transtornos do autismo. Acreditase que os neurônios fusiformes funcionem como rastreadores das experiências sociais, levando a uma rápida avaliação de situações similares no futuro. Essas estruturas fornecem a base da aprendizagem social intuitiva quando observamos e copiamos os outros. Pode, portanto, não ser coincidência o fato de que a densidade de neurônios fusiformes nas regiões sociais aumenta desde a infância até atingir níveis de adulto já por volta do terceiro ou quarto ano de vida em crianças normais. Nesta idade, considerada por muitos especialistas em desenvolvimento infantil o divisor de águas, ocorre uma mudança considerável nas habilidades de intuição social. Já pessoas com autismo, que tiveram atividades de áreas do córtex frontoinsular e do córtex cingulado
anterior interrompidas, apresentam dificuldade de realizar o que o resto de nós sabe fazer sem ter de pensar muito: descobrir o que se passa com nosso semelhante – basta prestar atenção.

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