domingo, 3 de julho de 2011

Nossas dúvidas são traidoras


Perdi a conta de quantas vezes já li essa frase inserida no texto atribuído a William Shakespeare, poeta e dramaturgo inglês, embora sua autoria nunca tenha sido comprovada: “nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar”.

Imagine em quantas áreas da vida isso pode ser aplicado: nos negócios, nos relacionamentos conjugais, nas mudanças de emprego, cidade, país ou estado, na forma como absorvemos e interpretamos as informações, na maneira como nos relacionamos com as pessoas que nos querem muito bem, abertamente, ou mal, às escondidas.

A dúvida é um órgão do corpo humano não catalogado pela ciência. Por ser resistente e frágil ao mesmo tempo, e dependendo do impacto, poderia ser considerada tão crucial para o corpo quanto o coração e o cérebro. Quando se mistura com a emoção, o efeito é devastador para ambos.

A dúvida é o termômetro dos seus desejos mais profundos, o limite entre o certo o errado, o sim e o não, a dor e a alegria, a prisão e a liberdade, o início e o fim, o sufoco e a glória, as coisas boas e as coisas ruins. Ela é o mais puro reflexo do seu nível de coragem, razão pela qual “existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”, segundo Fernando Pessoa.

Viver ou morrer? Mudar ou ficar? Fugir ou suportar? Explodir ou sufocar? Mandar tudo para o inferno ou deixar a vida te levar? Discutir ou ser feliz? Nossas dúvidas são traidoras. Elas impõem regras ou limites com os quais nem sempre concordamos, mas aceitamos para o nosso próprio bem ou nosso próprio mal.

O fato é que as circunstâncias e os ambientes têm muita influência sobre nós embora sejamos os principais responsáveis pelo que acontece conosco. Assim sendo, qualquer comparação é infrutífera. Cada um é o que é e, apesar do espaço curto de vida, é possível realizar muito. Leva tempo para descobrir o quanto somos ricos em todos os sentidos, por isso as dúvidas nos consomem.

Como lembra o texto atribuído a Shakespeare, “heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer enfrentando as consequências.” Por vezes, as consequências precisam atropelar suas dúvidas, afinal, tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Existem coisas pelas quais você vai se arrepender para o resto da vida, quer tenha feito, quer não.

Se alguém me disser que já passou dessa fase, eu diria: bobagem! Não importa a idade, as dúvidas estão sempre nos atormentando. Elas querem nos ver de joelhos, rastejando, humilhando-nos até criarmos coragem para tomar uma atitude que beire a mais pura sensatez. Contudo, uma decisão aparentemente sensata pode ser a mais insensata aos olhos de quem não faz a mínima ideia do que se passa na sua cabeça.

Por isso, meu caro amigo, paciência e sabedoria andam juntas. Não se pode obter a primeira sem a segunda nem vice-versa. As coisas mal realizadas são frutos da afobação, do desespero, da ansiedade, da estratégia mal conduzida. Isso vale para todas as áreas da vida, mas não desanime. Os grandes nomes da história mundial foram reféns, por algum momento, da dúvida.

Se ainda lhe resta alguma dúvida, lembre-se: a vida é feita de escolhas e, na maioria das vezes, temos pouco controle sobre elas. Quase sempre, as dúvidas nos escolhem e nos empurram contra a parede. Elas são invariavelmente cruéis. Tentar se esquivar, procrastinar, deixar o tempo resolver por si só apenas retarda as decisões que, mais dia menos dia, precisam ser tomadas.

As dúvidas nos ajudam a tomar decisões que dependem, exclusivamente, do nosso próprio juízo e este, por sua vez, é tão traidor quanto elas. O importante é que você decida, arrisque de vez em quando e carregue a feliz sensação de ter feito algo na vida sem ter que recorrer aos outros.

Apesar de traidoras, nossas dúvidas são o combustível da luta diária pela sobrevivência. Precisamos delas para crescer, evoluir e nos manter vivos. São as dúvidas que nos ensinam a tirar do fundo da alma a força que nem imaginamos existir lá dentro.

Pense nisso e seja feliz!

Creative Commons Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Citando nome do autor, data, local e link de onde tirou o texto). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.


Autor: Jerônimo Mendes

Publicado em: 21/06/2011, no site: www.qualidadebrasil.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário