Muito se fala sobre a inteligência no relacionamento, mas ainda não me senti á vontade para interligar inteligencia e relações humanas.
Afinal, inteligência: capacidade mental de...raciocinar, analisar, resolver, compreender ideias, aprender..... encaminha minha compreensão para uma atividade intelectual, cerebral.
Mas o cérebro, ora o cérebro, não cria nada!
O cérebro operacionaliza o composto de nossas crenças, aquelas que guiam as nossas escolhas (sempre que podemos).
E essa é a nossa formação. Uma frase antiga me remete a esse pensamento: “a criança é filha da mãe, do pai e do meio”.
Esse sim, o meio, tem importância superlativa na formação da visão da realidade e da nossa impressão sobre os outros. Isso forma o nosso Eu, evidentemente que com boa carga de influencia do nosso código genético.
A conceituação da inteligência, conforme Goleman, ou Gardner (das sete inteligências) são indispensáveis, mas precisam ser complementadas por outros enfoques como espelha a frase: “a teoria dos complexos é uma teoria de relacionamentos interpessoais, bem como de relacionamentos Intrapsíquicos” de Carl Gustav Jung.
Ou seja, a qualidade das nossas relações depende muito de nossa relação conosco.
Talvez seja necessário menos inteligência e mais vigilância e respeito.
Para reforçar esse ponto quero relembrar da passagem ocorrida há tempos atrás nas Olimpíadas de Seattle quando oito concorrentes, jovens deficientes mentais, largaram juntos para a corrida de 100 metros rasos. Um deles tropeçou e caiu, logo depois da largada.
Todos pararam e olharam para trás. Voltaram, levantaram o menino que havia caído e foram, juntos, até o final.
Houve inteligência nesse ato? Ou houve respeito e humanidade.
Ou talvez inteligência mesmo, mas um tipo muito especial de inteligência onde o outro é fundamental na nossa vida. Quando nos preocupamos com os outros tanto quanto nos preocupamos conosco.
Isso poderia explicar muitos fatores que, hoje, tornam determinantes fatores como a ecologia, a sustentabilidade, comunidade e o futuro de nossos descendentes. A negação do egoísmo e da solidão, mesmo acompanhada. A verdadeira visão de mundo. Do mundo de amanhã.
Os poetas cantam: "Tudo que existe existe talvez porque outra coisa existe. Nada é, tudo coexiste: talvez assim seja certo..." (Fernando Pessoa).
E os cientistas afirmam: “A autoidentidade é uma abstração. A autoidentidade depende do outro!” (Ronald Laing - psiquiatra)
E, para complementar dizem os filósofos “Para saber uma verdade qualquer a meu respeito, é preciso que eu passe pelo outro“ (: Jean-Paul Sartre)
Enfim, minha expectativa é a de que consiga me ver nos outros e, dessa forma, interagir, isto é, agir junto. Mas com a emoção, esse sentimento ainda tão banido das nossas relações profissionais.
E para finalizar, novamente Jung: “domine todas as técnicas, conheça tudo que puder, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas uma outra alma humana". Em suma, nas questões de relacionamento talvez a palavra não seja aprender ou mesmo desaprender, mas sim “desprender”. Soltar amarras e exercitar um desprendimento para pensar o coletivo, olhar o outro e buscar fazer juntos, para todos.
Autor: Bernardo Leite Moreira
Publicado em: 04/08/2011, no site: www.qualidadebrasil.com.br
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