terça-feira, 23 de agosto de 2011

Vida que segue


Há alguns anos perdi meu pai, vitimado que foi por um câncer nos pulmões.
Logo ele, não fumante e sem qualquer indício clínico de enfermidade. A
doença evoluiu silenciosa, sendo diagnosticada tardiamente, já em fase de
metástase. Lutamos bravamente por quatro longos e intensos meses, com uma
esperança incontestável. Ao final, restou-nos o consolo de que seu
sofrimento fora breve.

Não estamos habituados a perdas, sejam elas materiais ou não. Querer e não
poder é desagradável, mas ter e perder é doloroso. Isso vale para dinheiro
no bolso, um cargo executivo, uma partida jogada ou um amor que de despede.

Contudo, o fato é que no decorrer de nossas vidas, na medida em que
amadurecemos, acumulamos conquistas e desilusões. E a experiência nos ensina
a capitular de cabeça erguida, a aceitar algumas derrotas sem arquear os
ombros, a sofrer com sabedoria. Aprendemos que somos capazes de caminhar sem
pernas e voar sem asas.

Meu pai faleceu em um dia 21 de novembro. Foi sepultado no dia 22 e, na
manhã seguinte, minha filha Liz nasceu. Em menos de 48 horas convivi com a
tristeza e a alegria, a dor e o deleite, o choro e o riso.

Em seus últimos meses, meu saudoso pai fez questão de me presentear com mais
alguns ensinamentos. Assim, quando já debilitado fisicamente não mais
conseguia caminhar com suas próprias pernas, e eu tinha que ampará-lo, era
como se prenunciasse os dias futuros em que ensinaria minha filha a
caminhar. Também tive que ajudá-lo a tomar banho, assear-se, vestir-se e
alimentar-se, tal como faria dias depois com um recém-nascido.

Disse Vinícius de Moraes: "Para isso fomos feitos: para lembrar e ser
lembrados; para chorar e fazer chorar; para enterrar nossos mortos. Por isso
que temos braços longos para os adeuses, mãos para colher o que foi dado,
dedos para cavar a terra...".

Vida que parte, vida que chega, vida que segue.


* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em
15 países. É autor de "Sete Vidas - Lições para construir seu equilíbrio
pessoal e profissional", pela Editora Saraiva, e coautor de outros quatro
livros. Contatos através do e-mail 
tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: 
www.tomcoelho.com.br e  www.setevidas.com.br.



Recebido do autor por e-mail









Um comentário:

  1. Que mensagem...passei e estou passando por tudo isto também...meu pai também morreu nestas mesmas circustâncias, e a esperança que tinhamos de cura era enorme e hoje a dor é que é deste tamanho...só o que nos resta é saber que fizemos o que podiamos e que o amamos muito...o que hoje acreditamos que ele sabe...

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