quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Medo de Dentista (2/9)

Do site: www.mentecerebro.com.br


Para alguns a consulta odontológica é um verdadeiro pesadelo, que vai além de um simples desconforto. O profissional também precisa controlar a ansiedade e o estresse despertados pela tensão do paciente
por Massimo Barberi
[continuação]

SENSAÇÃO DE IMPOTÊNCIA
É comum que crianças fiquem assustadas na primeira consulta, principalmente se adultos lhes disseram que os profissionais usam brocas e aplicam injeções. Mas é apenas na idade adulta que os medos se transformam em ansiedade e apresentam leve aumento na pressão sanguínea, suor frio – e só. Mas esse desconforto impede a maioria das pessoas de ser pontual nas consultas de rotina.


Há, no entanto, os que enfrentam sinais e os comportamentos típicos da odontofobia: a reação física não controlada, associada à figura do dentista e ao tratamento. Entre eles estão suores abundantes, taquicardia e aumento da pressão arterial. Ou o contrário: queda repentina de pressão, palidez e, às vezes, desmaio na cadeira. Nesse caso, em geral, a consulta é adiada. Mas, na maioria das situações, quem passou por uma desventura dessa natureza tende a adiar eternamente o novo atendimento. Para interpretar esses casos foram levantadas muitas hipóteses. Segundo a professora Ruth Freeman, pesquisadora da faculdade de odontologia da Queen’s University de Belfast, “a odontofobia pode ser o resultado de um duplo processo: uma falsa conexão e um deslocamento psíquico”. A primeira se instaura entre um objeto ou uma lembrança associada ao evento traumático sofrido geralmente na infância, no qual, na maioria das vezes, a pessoa se sente impotente. Já o deslocamento é a transferência da ansiedade provada naquela circunstância negativa para a sala do dentista. A sensação de impotência, com a boca aberta, nem sequer podendo falar, provavelmente contribui para o mal-estar.


Para explicar melhor sua teoria, Ruth -Freeman conta dois casos. Um homem de 25 anos, diabético desde a infância, enfrentou várias crises de hiperglicemia porque, segundo conta, a injeção de insulina “não funcionava bem”. O que lhe dá mais medo quando está na cadeira do dentista é a anestesia. Teme, na verdade, que o medicamento não funcione. Para a pesquisadora, a falsa conexão se instaura com a associação entre insulina e anestesia. Já o deslocamento consistiria, neste caso, na transferência da ansiedade causada pelo controle da glicemia para o medo de que o anestésico não funcione.


O segundo caso diz respeito à violência doméstica. Uma mulher de 23 anos, odontofóbica grave, assistiu, quando criança, a diversos episódios nos quais o pai alcoólatra batia na mãe, provocando-lhe sangramentos na boca. O evento desencadeador, porém, ocorreu quando ela tinha 4 anos: caiu de um balanço quebrando um dente incisivo superior e desmaiando em seguida. Quando voltou a si, estava com os lábios cobertos de sangue. A falsa conexão, segundo essa hipótese, é evidente: os ferimentos na boca de sua mãe e a lembrança traumática da violência doméstica conectam-se à lembrança do sangue na própria boca e à recordação da queda. “Há uma sobreposição do medo sentido quando assistia às agressões paternas e o experimentado no episódio da queda do balanço com a situação de impotência, fragilidade e dor na boca vivida no consultório odontológico”, observa Ruth.
  

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