sábado, 22 de outubro de 2011

A cura pela palavra (3/7)

Da revista Mente & Cérebro, edição 225 - Outubro 2011


O psicanalista Christian Dunker, colaborador de Mente e Cérebro, fala sobre seu novo livro, Estrutura e constituição da clínica psicanalítica, em entrevista à editora Karnac Books, que lançou a obra na Inglaterra
[continuação]

5. Você acha que seu livro poderia mudar alguns aspectos da psicanálise?

Sim, eu realmente acho que a psicanálise muitas vezes se esquece de suas origens na medicina, na política, na retórica, no hipnotismo, nos tratamentos morais e assim por diante. Diz-se que isso ficou para trás, atitude que acho bastante suspeita para uma teoria que considera que o que ficou para trás acaba sempre voltando pela frente, e levando-nos a tropeçar. Todas as táticas utilizadas para lidar com o sofrimento por meio das palavras tiveram de ser suprimidas a fim de estabelecer a psicanálise como um tratamento novo e um método autônomo. Como consequência, não podemos distinguir a psicanálise da psicoterapia e de outras técnicas sugestivas, já que ela passou a depender mais de estratégias conceituais, disciplinares e discursivas. Temos de confrontar essa tendência em considerar nossa prática como algo imune às relações de poder ou como uma simples extensão do tratamento médico.


6. Como acha que seu livro vai ajudar os profissionais e outras pessoas?

Há muito discurso psicoterapêutico na política, na religião, na educação e em outras atividades moralizantes. A ideia de que a autoridade para tratar e curar requer faculdades incompreensíveis e habilidades ocultas é muitas vezes empregada para silenciar a crítica e apoiar a atitude obediente em diferentes tratamentos de "saúde" (médicos, nutricionais, psicológicos, de reeducação etc.). Em contraste, a perspectiva psicanalítica de que a clínica é um tipo de risco que o paciente é convidado a assumir, para embarcar na aventura de descobrir coisas sobre si mesmo e sobre a sociedade em que vive, é realmente muito simples e poderosa. O princípio de que a psicanálise, em particular, envolve necessariamente uma espécie de relação de poder é importante: a análise não é a produção de um consenso harmonioso e integrativo sobre si mesmo.

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