[continuação]
11. Como acha que esse campo vai evoluir?
Creio que os dispositivos virtuais, como a internet e a comunicação global, vão trazer uma diversidade de experiências, mas também vão radicalizar problemas e posições extremas. Não estou me referindo à "terapia virtual" ou coisas assim, mas à imensa descentralização de consensos, dispositivos normativos "naturalizados" e sistemas de regulação que estão produzindo um conflito entre forças jamais antes postas em franca oposição. A segregação será uma questão central para a subjetividade vindoura. Ainda não há uma reflexão psicanalítica que permita pensá-la em toda sua extensão. A psicanálise é, em certa medida, um sintoma da sociedade de massa, de uma sociedade da mais terrível e benévola experiência do anonimato e da homogenização. O isolamento cultural, a pobreza experiencial, a cristalização de identidades e gêneros são sintomas que tendem a se tornar mais agudos com esta nova forma de homogeneização e diferenciação que é a vida digital. Uma época que caminha para o reconhecimento do antagonismo entre formas de vida terá de se haver com o antagonismo miúdo, cotidiano, este que nós enfrentamos em cada uma das vidas que acompanhamos.
12. Quais são seus projetos para o futuro?
Este livro é uma experiência nova para mim, tanto em sua versão inglesa quanto agora na versão brasileira. O trabalho que levou para ser traduzido e vê-lo publicado em um país distante reteve toda a minha atenção nos últimos três anos. Devo dizer que Karnac é uma espécie de "paraíso", em comparação com as dificuldades de publicar no Brasil, apesar de o mercado editorial estar em crescimento. Quero publicar um livro sobre as patologias do social e organizar minhas diferentes linhas de pesquisa: crítica social, corporeidade e psicossomática, cinema, projetos de intervenção clínica psicanalítica, filosofia da psicanálise, fonoaudiologia e ciências da linguagem. Acho que vou esperar um pouco para ver as reações ao que venho fazendo. Quero, sobretudo, ler meus colegas e seus desenvolvimentos atuais, coisa da qual tive de me afastar um pouco para terminar este livro. |
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