[continuação]
7. Quer dizer que leigos podem ler o livro?
Há capítulos dedicados a modelos formais de tratamento na psicanálise. Estes devem ser evitados pelos leigos. Ao lado desses capítulos há narrativas acessíveis – na verdade, a maioria –, alinhadas a uma espécie de romance histórico. É um livro que pode ser lido por qualquer pessoa com interesse em filosofia ou em história da medicina e da psicanálise. Aliás, esta é uma das pretensões do trabalho: mostrar como nós compartilhamos nosso fazer com muitos outros que se ocuparam antes de nós, e o farão depois de nós, com o sofrimento humano. A clínica é uma experiência, no sentido mais forte da palavra. Temos ainda um respeito reverencial pela força disciplinar com relação ao diagnóstico, à semiologia, à etiologia e tudo o mais que se apossou do controle e intervenção legítima sobre o corpo e suas afecções. Esquecemos que mesmo na disciplina mais rígida da epidemiologia e no controle social de práticas higiênicas e profiláticas estão em jogo uma política e uma ética. Nossa atitude básica é de achar que isso tudo é um domínio técnico para especialistas e que o máximo que podemos fazer é nos colocar passivamente diante de tais autoridades constituídas.
8. Você recebeu algum apoio para concluir seu livro?
Sim, tenho tido certo apoio da Universidade de São Paulo, no Brasil, e especialmente "apoio intelectual maciço" de meus amigos da Manchester Metropolitan University, cujas ideias estamos estudando agora no Brasil. Na verdade sempre digo que este é um trabalho que exprime um esforço coletivo. Não teria sido possível sem as dezenas de colegas, amigos e alunos que, sabendo do emprendimento, me alertavam dos riscos e produziam material, dificilmente acessível de outra forma. Nossos alunos do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP, bem como Vladimir Safatle e Nelson da Silva Jr. participaram do projeto desde o início. Meus alunos de graduação e do seminário aberto que ofereço na USP há muitos anos, o pessoal do Fórum do Campo Lacaniano, escola de psicanálise à qual pertenço, alimentaram muito esta aventura. Mas o apoio decisivo foi o que recebi de José Roberto e Eva, na Editora Annablume, que apostaram nessa ideia amalucada de publicar um livro com 655 páginas. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário