quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Decidir cansa! (2/2)

Da revista Mente & Cérebro, edição 225 - Outubro 2011  


Após um dia estressante é muito mais difícil tomar iniciativas, desde as simples, como resistir ao desejo de comer uma caixa de doces, até as complicadas, como julgar a inocência de alguém
 
[continuação]

Outra pesquisa, conduzida pelo economista Dean Spears, da Princeton University, mostra o “cansaço” causado pela tomada de decisões. A equipe de Spears ofereceu a 20 pessoas de uma aldeia no noroeste da Índia a oportunidade de comprar duas barras de sabão, sendo uma delas de marca conhecida, custando cerca de 20 centavos a mais, quantia significativa considerando os índices de pobreza da região. Em seguida, pesquisadores pediram aos voluntários que os cumprimentassem com um aperto de mão. Observou-se que eles mantiveram as mãos unidas às dos estudiosos por menos tempo do que habitantes de outras aldeias mais abastadas. Para o economista, a obrigação de decidir qual sabão levar de certa forma esgotou a força de vontade dos participantes. A quantidade e a frequência com que pessoas em situação de pobreza têm de fazer renúncias, decidindo a todo o momento o que é mais importante para a sobrevivência, geram fadiga, o que impactaria a dedicação ao estudo, ao trabalho e a outros aspectos que melhorariam sua situação social.


Segundo Baumeister, “os melhores 'tomadores de decisão' são aqueles que sabem quando não confiar em si mesmos”. É possível que, no caso do experimento de Levav e Danziger, os magistrados tenham optado, mesmo inconscientemente, por não decidir no caso dos criminosos julgados ao fim do dia. Para Baumeister, escolher o que comer no café da manhã, para onde ir nas férias, quem contratar, quanto gastar, ou seja, as pequenas e grandes decisões do dia a dia mina a força de vontade. “Não é como ficar sem fôlego e desistir durante uma maratona – o cansaço se manifesta pela tendência a optar pelos ganhos a curto prazo, mesmo sabendo que teremos de arcar com os custos posteriormente”, diz. A análise irracional dessa relação custo-benefício pode ser a mesma que nos “autoriza” a comer a comida açucarada e gordurosa ao final de um dia estressante ou leva um juiz, esgotado, a tomar a decisão mais segura e fácil, mesmo que ela termine prejudicando alguém.

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