De acordo com Thomas Dewey, político e promotor norte-americano, as maiores necessidades da natureza humana são: sentir-se importante, ser reconhecido e ser valorizado. Em seu livro Como conquistar as pessoas, Allan e Barbara Pease dedicam o primeiro capítulo, de forma simples e direta, a abordar o assunto, ao qual eles se referem como “os três princípios da natureza humana’.
Segundo os autores, a necessidade humana de sentir-se importante é mais forte do que necessidades fisiológicas como a de alimentar-se, por exemplo, já que depois de comer deixamos de sentir fome. A necessidade de ser valorizado é mais forte do que a de receber amor, pois esta também pode ser satisfeita e é mais forte ainda do que a necessidade de segurança, pois estando a pessoa segura, isso deixa de ser um problema.
A necessidade de ser reconhecido está diretamente relacionada com o primeiro princípio, pois ainda que isso aconteça em algum período da vida, o fato se sustenta somente quando a pessoa continua se sentindo importante, o que nem sempre ocorre. Para o bem e crescimento interior do ser humano, a vida alterna entre períodos de tristeza e alegria, motivo pelo qual somos impelidos a levantar todos os dias com uma disposição inabalável para conquistar o mundo.
Sentir-se importante é uma necessidade que morre conosco e é, sem dúvida, uma das principais características que distinguem o ser humano dos demais seres existentes na face da Terra. Os animais não têm essa preocupação, pois o instinto de sobrevivência lhes basta. No passado, embora as preocupações do homem fossem parecidas com a dos animais, pelo fato de levarem em conta mais a sobrevivência e a perpetuação a espécie, sentir-se importante era uma conquista intuitiva obtida pela manifestação da força e outras formas de dominação.
Diferente dos animais, a necessidade de sentir-se importante é o que faz as pessoas comprarem artigos de luxo, roupas de grife, carros importados, jóias caras, celulares de último tipo e mansões com áreas e cômodos que talvez eles não consigam utilizar durante a vida inteira, mas que mantém vivo o eterno desejo de autoafirmação e de superioridade perante as demais classes ao seu redor. Por outro lado, ainda segundo Allan e Barbara Pease, sentir-se importante é o principal fator de motivação para a formação de gangues de rua e outras formas de violência comuns entre jovens e adultos.
Sentir-se importante, ser reconhecido e ser valorizado, de acordo com estudos sobre o relacionamento conjugal, é o que leva as mulheres a abandonarem uma relação duradoura e, em alguns casos, até mesmo os filhos, e não a violência, a opressão e a humilhação, presentes em diferentes formas no mundo moderno. A importância de sentir-se importante é o que move as pessoas, define os objetivos e altera os relacionamentos na sociedade.
Qual a razão para o ser humano dedicar tanto tempo e energia na esperança de se tornar importante? Existem inúmeras respostas para essa questão, porém reflita sobre o seguinte: não é necessário perder tempo e energia quando se tem consciência de que todas as pessoas nascem importantes, independentemente do julgamento alheio. O fato é que, para alguns seres humanos, o gene egoísta, segundo Richard Dawkins, não faz apenas com que eles se sintam importantes, mas lhes impõe uma condição própria de falsa superioridade que traz conseqüências danosas para a sociedade e, principalmente, para eles mesmos embora eles não admitam tal condição.
Sentir-se importante depende de uma série de fatores: da forma como você foi criado, da maneira como você leva a vida, do círculo de relacionamentos, dos livros que você lê, da posição que você ocupa na sociedade, do alimento que você come, do estado de espírito e, principalmente, da sua escala de valores, pois ela é quem define o grau de importância dos fatos e acontecimentos na sua vida e na vida das pessoas com as quais você convive.
A sua importância está diretamente relacionada com a importância que você atribui a cada item da sua escala de valores. Se o dinheiro ocupar o primeiro lugar da lista, é natural que você se sinta importante apenas quando ele for abundante em sua vida. Se a família está em primeiro lugar, o que interessa é o lugar que você ocupa no coração e na mente das pessoas que te querem bem. Se o que alimenta o ego são os bens materiais você nunca estará satisfeito e assim por diante. Faça esse exercício, componha a sua escala de valores e, certamente, vai se surpreender. Cada ser humano alimenta a sua própria escala, intuitivamente.
Quando a nossa escala de valores está em consonância com os nossos princípios, aqueles mesmos que os pais repetiam exaustivamente durante as fases mais estimulantes da nossa vida - infância e adolescência - e que, aqui entre nós, a gente achava uma babaquice sem tamanho, sentir-se importante é uma condição natural, própria da nossa autoestima, equilíbrio e serenidade.
A sociedade moderna nunca precisou tanto desses princípios como nos dias de hoje, onde a escala de valores varia de acordo com a influência da mídia e dos pensamentos alheios. Como dizia Emerson, pensador e filósofo americano, o homem moderno é tímido e apologético e pouco se atreve a dizer “eu penso”, “eu sou” e sempre cita um sábio ou um santo pelo fato de ter se tornado, ao longo da sua existência, altamente influenciável e descrente de si mesmo.
Pense nas coisas que você realizou até o momento. Você avançou um bom pedaço, mas tudo o que foi feito ainda não foi suficiente para que se sentisse tão importante quanto gostaria, tão reconhecido quanto deveria e tão valorizado quanto poderia. Infelizmente, ou felizmente, existem pessoas mais ambiciosas do que você e, sob diferentes aspectos, todas estão lutando por reconhecimento, valorização e importância na sociedade. A concorrência é dura.
De fato, as pessoas em geral só se importam com elas mesmas, as coisas delas, a família delas, os sentimentos delas, as opiniões delas, ou seja, com as próprias necessidades. Entretanto, você não deve se preocupar muito com isso, faz parte da natureza humana, algo que somente a própria pessoa pode mudar e, além do mais, você é diferente. Isso é o que distingue Zida Arns, Madre Teresa de Calcultá, Irmã Dulce, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Muhammad Yunus e outras personalidades dos demais mortais na face da Terra. A preocupação deles foi além do próprio ego.
De tudo isso, quero compartilhar com vocês algumas lições que foram e continuam sendo importantes na minha carreira pessoal e profissional pelo fato de ajudarem a amenizar minha ansiedade na vida e no trabalho. Trate-as como lições e não como conselhos, afinal, a vida é uma permanente troca de idéias e experiências onde a importância de cada ser humano resume-se àquilo que ele foi capaz de fazer e compartilhar.
Sentir-se importante é mais do que uma necessidade da natureza humana, é um estado de espírito. O que você faz é importante, principalmente quando os princípios universais são respeitados, dentre eles o respeito ao próximo e o não-julgamento;
Reconhecimento nem sempre vem com o trabalho duro, mas com o tempo, portanto, trabalhe duro sem depender do reconhecimento alheio para não se frustrar; o resto é conseqüência;
O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis, segundo Fernando Pessoa. Você é uma dessas pessoas incomparáveis capaz de realizar coisas inexplicáveis e proporcionar momentos inesquecíveis, principalmente para a sua família.
A importância de sentir-se importante é uma questão antropológica e não pode ser ignorada. Ela é necessária e inerente ao ser humano, porém no mundo atual, seu efeito é nulo se não for sustentada por princípios sólidos e duradouros. E como nos lembra Emerson, pensador americano, num de seus fantásticos ensaios, “nada te pode trazer paz senão o triunfo dos princípios”.
As pessoas são o reflexo dos seus próprios atos, portanto, toda curiosidade concernente à opinião alheia sobre si mesmo não faz muito sentido nem possui qualquer utilidade. O que vale mesmo é o caráter, a consciência do dever cumprido e o sentido de contribuição.
Como reflexão final, vale resgatar a sabedoria de São Bernardo, cujas palavras foram escritas há quase mil anos, mas continuam muito atuais: nada pode causar-me dano senão eu mesmo; o prejuízo que sustento levo-o comigo e nunca sofro realmente, a não ser por minha própria culpa.
Pense nisso e seja feliz!
Autor: Jerônimo Mendes
Publicado em: 06/05/2011, no site: www.qualidadebrasil.com.br
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