quinta-feira, 5 de maio de 2011

O sentido do tempo (2/2)



   
edição 220 - Maio 2011 da Revista Mente & Cérebro

Nosso cérebro recebe e interpreta informações com um ritmo particular, com base em referências mais ou menos realistas
por Alberto Oliverio
[continuação]

Podemos descrever essa escala de tempo como uma espécie de régua de borracha que pode ser afrouxada ou esticada para abarcar cada intervalo de tempo, de segundos a dias. Os "números" da régua não fornecem uma medida objetiva, mas "elástica", relativa. O “erro” de medição é proporcional a cada ritmo particular. Por exemplo, uma aceleração ou um retardamento de 10% se aplica tanto a curtos intervalos de tempo (segundos) como a longos períodos (horas ou dias), o que sugere a presença do relógio interno e impreciso que regula nosso cérebro.


Estudos feitos com doentes de Parkinson têm ajudado a desvendar os mecanismos neurais subjacentes à forma de avaliar o tempo. O Parkinson é uma doença neurodegenerativa que, em estágio avançado, atinge os gânglios da base, estrutura neural que tem a dopamina como neutransmissor e está associada a funções como controle motor e cognição. Os principais sintomas do distúrbio são, portanto, problemas de motricidade (rigidez muscular, tremores, dificuldades para realizar movimentos) e de memória.


O Parkinson apresenta, no entanto, um aspecto que, apesar de conhecido, é considerado secundário pelos clínicos: a distorção do sentido de tempo. Pessoas com a doença tendem a subestimar espaços de tempo inferiores a meio segundo e a superestimar períodos um pouco mais longos, de 30 segundos até um minuto. Ou seja, experimentam perda de precisão na estimativa de tempo, o que leva a uma desaceleração da maior parte das ações. Isto não envolve apenas dificuldades em executar movimentos, mas também uma percepção deturpada do mundo ao redor. Essa distorção pode ser corrigida com a administração de precursores de dopamina, que regularizam o funcionamento dos neurônios dos gânglios da base. Quando os níveis desse neurotransmissor estão normalizados, os espaços de tempo curtos se tornam mais longos e vice-versa. Dessa forma, a percepção do tempo vai encaixar-se novamente na descrição de Weber.
« 1 2
Alberto Oliverio psicobiólogo, é diretor do Centro de Neurobiologia da Universidade La Sapienza, na Itália.

Nenhum comentário:

Postar um comentário