Durante a semana dois assuntos foram destaques na mídia e chamaram a atenção do mundo. Embora não seja novidade alguma, o fato é que quando algo dessa natureza ganha destaque na imprensa todo mundo faz cara de espanto.
No primeiro caso, mãe e filha, diagnosticadas por um funcionário da Sothwest Arlines como literalmente “gordas” - de maneira simpática se poderia dizer “com sobrepeso” - foram impedidas de embarcar no avião. Para arrematar o constrangimento, ele ainda sugeriu que comprassem mais uma passagem e assim viajaram com folga.
No segundo caso, um funcionário de uma empresa brasileira sofreu constrangimento pelo fato de não ter atingido as metas e, por conta de uma formação diferente do nariz, foi literalmente chamado de “bruxa”, afinal, era esse o papel que o gerente da área queria que os funcionários assumissem como castigo por sua suposta “incompetência”.
Neste caso específico, segundo o chefe, nariz de bruxa ele já tinha, bastava assumir o papel. O agravante é que os companheiros, em vez de se solidarizar com o amigo, riram descaradamente da brincadeira, a meu ver, de muito mau gosto. Penso que o medo deve ter provocado esse tipo de reação.
Com relação ao comportamento do ser humano em geral, talvez isso não cause espanto, entretanto, em relação ao que as empresas ainda continuam permitindo que os funcionários façam é motivo para indignação, muito mais do que espanto.
Embora eu não goste muito de me remeter ao passado para lembrar-se de coisas básicas da educação moral, o fato é que no passado, não muito distante, além de aprender valores e princípios no berço, a gente aprendia na escola.
Será que os responsáveis pela educação de hoje imaginam que as crianças já nascem prontas e que isso não é papel da escola? Será que os pais, por sua vez, transferem a responsabilidade para as escolas com a vaga esperança de que estas cumpram esse papel? Vivemos então um paradoxo:
As escolas em geral não conseguem – ou não querem - mais ensinar as crianças o que é educação de verdade porque esse papel é dos pais;
Os pais alegam não ter mais tempo para educar os filhos e, em geral, imaginam que as escolas podem cumprir esse papel.
O que isso tem a ver com os dois episódios mencionados? Se um amigo seu, um filho ou mesmo um parente mais próximo sofresse do mesmo tipo de constrangimento, o que você faria? Cara de espanto? Defenderia quem quer que fosse até o último minuto? Se isso acontecesse com você, apesar da sua formação sólida e conhecimento, o que você faria?
Tomando-se por base a reação das pessoas que testemunharam esses dois casos, é possível dizer que uma boa parte faz de conta que isso não lhe diz o menor respeito. Nesse caso, entra aqui o instinto de sobrevivência, portanto, a maioria acredita que é melhor não se meter.
A questão intrigante de tudo isso é o seguinte: em pleno século 21 ainda é necessário pedir pelo amor de Deus para ser respeitado e receber o mínimo de consideração das pessoas e das empresas.
O que leva a sociedade a tolerar comportamentos dessa natureza? Por que será que as pessoas ainda se comportam como se estivessem na Idade Média onde todo tipo de bizarrice era admissível em nome do papa, do rei ou da rainha?
Isso ocorre porque, no íntimo, o ser humano ainda conserva sua natureza extremamente competitiva, egoísta e, por vezes, intolerante. Considerando que ao longo de milhares de anos fomos moldados a “ferro e marteladas”, ao menor sinal de cuidados cometemos uma gafe digna de reflexão e reprovação, mas no fundo da alma o ser humano recorre ao seu instinto primitivo.
Quem não se lembra de Bóris Casoy, renomado jornalista, no último dia de 2009 fazendo chacota com os garis do Rio de Janeiro? Ele tentou se desculpar no dia seguinte, depois de uma reprimenda, mas o que ela pensa de fato talvez não tenha mudado.
Adultos em geral aprendem somente com a dor, mas não se pode perder a esperança nas crianças. Apesar da evolução, a educação ainda é mais sólida quando vem do berço. Se isso não for cultivado desde pequeno, em casa e na escola, não há a menor esperança para elas. Diferente dos adultos, as crianças ainda são capazes de aprender com amor e limites.
Se você acredita que o mundo tem jeito, indigne-se e levante a bandeira da intolerância a todo tipo de discriminação. O fato de algumas pessoas não gostarem de gordos, pobres, negros, favelados, narigudos e outros predicados injustos não lhes dá o direito de fazer e dizer o que vem à cabeça. Um velho ditado jurídico ainda vale: o seu direito termina onde começa o meu.
Respeito, igualdade, dignidade humana, liberdade e outros valores são princípios universais que valem para todas as pessoas em qualquer lugar do planeta. E cada vez que você presenciar um fato semelhante lembre-se das sábias palavras de Edmund Burke, filósofo e político inglês: “para o triunfo do mal, basta que os bons não façam nada.”
Pense nisso e seja feliz!
Autor: Jerônimo Mendes
Publicado em: 27/05/2011, no site: www.qualidadebrasil.com.br
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