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A energia imigrante
Quando pensamos nas pessoas que deixam a terra natal para se aventurarem em um país que sequer conhecem a língua imaginamos mil situações.Podem estar fugindo de guerras, da fome, perseguições e situações que colocariam suas vidas em risco.Algumas vezes isso é verdade, mas raciocinemos de forma inversa. E aqueles que deixam o Brasil?O que levaria pessoas a colocarem o pé na estrada? Algumas com boa formação, outras nem tanto.Deixemos de lado aquelas que foram fazer um curso de pós-graduação no exterior e de a volta definida, nos concentremos nas que “partiram”.Não estariam encontrando nenhuma espécie de ocupação aqui?Se não falam a língua da nova morada, que chances terão?Descontentes com os salários oferecidos resolveram partir?O saldo líquido, depois de pagas as contas no exterior, pode ser até menor do que se ficassem!Decidiram viver em um lugar onde a comida é melhor?Não, todos dizem que nada substitui o feijãozinho brasileiro!Pensam em nunca mais voltar?De forma nenhuma, a outra ponta da corda deixaram amarrada para não perderem o caminho. Amigos, família são fortes apelos para que um dia regressem.Ficarão algumas décadas afastadas da terra natal, ou quem sabe para sempre, farão cursos, desenvolverão uma carreira, ganharão e perderão dinheiro, casarão, terão filhos, e, com o tempo, entenderão o que os fez partir.Meus avós chegaram ao Brasil há muitas décadas, nunca voltaram, não que não tivessem vontade. Não tiveram razão, por isso não alimentaram o sonho.O raciocínio pode ser feito com situações mais simples.Não vivo longe da cidade onde nasci e com freqüência a visito. Todos os parentes lá estão, inclusive minha mãe. Não há nada determinado, mas ela sabe vou vê-la em dias determinados, por isso, se não apareço, o telefone, invariavelmente, toca.Toda minha vida acadêmica e profissional foi formada fora da cidade, então a razão do retorno é outra que não profissional e financeira.Não é sempre que podemos fazer escolhas atendendo a todos os requisitos. Estas são feitas atendendo prioridades.A escolha de um curso, o tipo de trabalho, a oportunidade de gerar oportunidade, a pessoa que amamos, o local para educar os filhos ou lhes dar melhores condições de saúde, enfim não faltam motivos para formar a razão.Uma das razões que mais me encantam é a busca de sentido na vida.Você consegue imaginar a energia acumulada que tem o imigrante que sai em busca de sentido na vida? Veja que estou falando de sentido na vida e não do sentido da vida!Não, não precisamos considerar pessoas amarguradas por tragédias e fracassos, mas pessoas que querem encontrar um lugar para deixar a sua marca?Estão em busca de conforto e riqueza?Talvez, em um primeiro momento, até tenham esperança de encontrar o Eldorado, mas a questão fica em segundo plano quando a jornada inicia.Como um alpinista que quer chegar ao cume da montanha - esse é o foco - a proeza está em fazer o trajeto.Uma pessoa, certa vez, me disse: - Encontrei mais perigos na descida do que na subida, então fincar a bandeira é só uma parte. Quando retornamos e recebemos todos os abraços, iniciamos o plano da próxima escalada. Esse é o sentido que encontrei, viver escalando.Essa é energia que o move, essa é a energia que alimenta o imigrante.Por essa razão são capazes de chegar sem nada, aprender uma língua, se adaptarem a uma cultura e construírem tudo.Capazes, determinados, decididos, os vemos partirem e chegarem, para nosso encanto, cheios de histórias e energia.
Autor: Ivan Postigo
Publicado em: 02/06/2011, em www.qualidadebrasil.com.br
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