segunda-feira, 27 de junho de 2011

O poder das palavras


   

Durante a fase da adolescência, minha veia poética e literária não me dava tréguas. Eu gostava muito de escrever, de fazer redações e poemas para as meninas da minha geração e, acima de tudo, adorava um elogio em relação ao que escrevia.

Um dia, porém, eu quis compartilhar o sonho de ser um escritor famoso, mas por razões que não vale a pena questionar agora, alguém pronunciou o infeliz comentário: - escritor, tá louco? Você quer morrer de fome?

A partir daquele momento, o sonho morreu temporariamente dentro de mim. Foram necessários quase vinte anos para eu resgatar a minha veia literária e retomar aquilo que, no fundo, nunca me abandonou. Contudo, ninguém recupera vinte anos em vinte dias.

As palavras afetam a nossa personalidade desde o momento em que nascemos. A forma como somos tratados, as pequenas frases que ouvimos mesmo sem entender nada, o primeiro elogio, o primeiro grito, as chamadas e os puxões de orelhas mais intensos exercem poder de influência que transcende a capacidade humana de absorção e entendimento. Por outro lado, as consequências são visíveis.

Milhares de gerações não foram suficientes para as pessoas entenderem o quanto as palavras podem ferir mais do que gestos e ações, exceto para aquelas desprovidas de hormônios e sangue nas veias. Por isso eu não me canso de repetir: - tome cuidado com as palavras.

No mundo corporativo isso é visível. Muitos profissionais em cargos de liderança ainda não perceberam o quanto as palavras são capazes de influenciar, de maneira positiva ou negativa, o estado de ânimo, a participação, a carreira e, quem saberá dizer, a vida inteira de uma pessoa ou de uma equipe.

Toda semana, eu recebo e-mails de alunos e leitores contando exemplos grosseiros de comportamento inadequado e falta de sensibilidade por parte de líderes, professores, empresários e outros que se julgam superiores aos demais na face da Terra.

Ao partir de alguém que deveria dar o exemplo, a pseudo-superioridade é o caminho para o deslize constante e isso acaba sendo incorporado pela pessoa. Quando ela tenta consertar, se é que existe conserto, a emenda sai pior do que o soneto, como dizia meu pai, porém o estrago está feito.

O ser humano é altamente influenciável por palavras, gestos, exemplos e omissões. Na medida em que recebe uma carga negativa, seja qual for o meio de transmissão, a reação tende a ser imediata pela verbalização ou agressão física.

Por conta disso, profissionais capacitados são demitidos, casamentos são destruídos, empresas são fechadas, pessoas são violentadas moral e fisicamente. Na maioria dos casos, a cultura da réplica – olho por olho, dente por dente – agrava e conduz determinadas situações a finais desagradáveis.

Se você me disser que as palavras não lhe afetam e que você tira isso de letra e se isso for sincero de sua parte, deixo aqui os meus parabéns. A experiência me diz que a realidade é bem diferente. Como a autoestima do ser humano oscila com frequência, um comentário despretensioso provoca estragos terríveis.

Ralph Waldo Emerson, pensador norteamericano, dizia que a mente humana é um museu de verdades contraditórias. Dentre outras coisas, significa que é necessário ser muito bem resolvido para não se deixar afetar pelas bobagens que você ouve com frequência maior do que a desejada.

Pessoas que estão acostumadas a falar mal, rotular, criticar e pensar que as demais estão num nível bem inferior ainda têm muito que aprender embora seja difícil para elas admitir o fato. Elas se sentem num nível tão elevado que nada será capaz de arrancar-lhes a máscara social.

Por outro lado, pessoas polidas, educadas no sentido literal da palavra, capazes de estabelecer uma crítica que beira o elogio, são difíceis de encontrar. O mundo não dá muito espaço para elas, afinal, a regra básica do mercado é crescer a qualquer custo ainda que para isso seja necessário atropelar os colegas, ferir seus sentimentos, tratá-los como se fossem números, sugá-los ao máximo enquanto ainda reste um mínimo de produtividade.

Apesar de tudo, se você não quer fazer parte da massa que se vangloria de falar o que bem entende na esperança de ser proclamado autêntico, tome cuidado com as palavras. Dependendo de como são escritas ou pronunciadas, as palavras atingem diferentes estados de espírito e, como você já está cansado de saber, as pessoas, por sua vez, são sensíveis e influenciáveis.

Dizer para você não se importar com isso é bobagem. Cada pessoa reage à sua maneira a um elogio ou crítica, portanto, quando conversar com alguém, lembre-se de que suas palavras podem ser determinantes no futuro dela. Se não for para dizer coisas agradáveis e sinceras, no sentido de fazê-la crescer, não diga nada. Como diria Gandhi, o homem arruína mais as coisas com as palavras do que com o silêncio.

Pense nisso e seja feliz!


Autor: Jerônimo Mendes
 

Publicado em: 13/06/2011, no site: www.qualidadebrasil.com.br

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