quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Internet está deixando você burro? (5)


Se retomamos a memória, ou seja, se lembramos, essas sinapses aumentam e se consolidam. Experimentos mostram que se, por outro lado, deixamos de retomar essa informação, as sinapses diminuem, mas ainda ficam em maior número do que eram antes. Isso indica que uma vez que você aprendeu verdadeiramente algo, o seu cérebro sofreu uma mudança física a longo prazo. A descrição desse processo de cognição rendeu ao cientista Eric Kandel o prêmio Nobel de Medicina em 2000. É ele quem avisa: é possível que o mecanismo de produção de proteínas e sinapses trave quando não conseguimos manter o foco. "Para lembrar de algo a longo prazo, você precisa prestar atenção e processar aquela informação profundamente. Nõs não sabemos até que grau isso é comprometido quando usamos a internete, diz Kandel, que também é professor da Universidade de Columbia, em Nova York, e um dos especialistas mais respeitados do mundo no assunto.

Para o guitarrista Igor Fediczko, de 24 anos, esse comprometimento já é real. Navegador voras da web ele diz checar e-mail "umas 200 vezes por dia" em seu iPod Touch, e ter dificuldade em manter o foco. O músico conta ter reparado que, nos últimos anos, sua memória tem sofrido perdas. "Quando o escritor José Saramago morreu, tive a ideia de escrever um post no meu blog. Mas percebi que, apesar de ter lido quatro livros dele, não lembrava nada, nenhuma passagem. Aí notei que tinha alguma coisa errada comigo."
No caso de Igor, as interrupções constantes do seu gadget piscando com uma nova mensagem podem causar ansiedade e estresse, fatores que, de acordo com especialistas, também atrapalham o processo de cognição. Além disso, o nosso cérebro não está preparado - pelo menos ainda não - para conseguir reter conhecimento eficientemente em uma velocidade tão acelerada como a que os usuários vorazes da internet imprimem. "Se há muitas informações concorrendo para serem lidas ao mesmo tempo, ou se elas chegam muito rapidamente, fica muito mais difícil. Necesitamos de atenção para que possamos aprender", afirma Paulo Henrique Bertolucci, professor de neurologia clínica da Universidade Fededral de São Paulo (Unifesp).

Da revista Galileu, agosto/2010


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