domingo, 10 de outubro de 2010

A Internet está deixando você burro? (6)


Já se sabe que o nosso cérebro é extremamente plástico, capaz de se moldar de acordo com as transformações culturais que ocorrem ao redor. A cada adaptação há uma reorganização interna: sinapses ligadas a certas atividades são reforçadas enquanto outras são enfraquecidas. "Quando os livros surgiram, a oratória desapareceu. Em cada ponto quando você ganha algo, perde algo. A questão é: os ganhos superam as perdas? Meu palpite é que sim", diz Kandel, que confia que a imensa quantidade de informação na rede representa um ganho gigantesco para a humanidade.

Esse não é o palpite de outro respeitado neurocientista e Ph.D. em fisiologia, Michael Medrzenich, pioneiro nos Estados Unidos em estudos de como o cérebro se remodela por conta de estímulos externos. "Se eu tento resolver qualquer problema por basicamente olhar sua resposta, isso é algo muito diferente do que tentar resolvê-lo usando a inteligência e o raciocínio", diz. É o que acontece, por exemplo, quando procuramos uma resposta no Google antes mesmo de refletirmos sobre a pergunta. "Certamente envolve uma manipulação de informação muito mais suave no uso de suas habilidades congnitivas", afirma.

O uso "mais suave" do cérebro pode "destreiná-lo" em atividades relacionadas, fundamentalmente, à inteligência. É isso o que argumenta um artigo publicado no ano passado na revista Science pela psicóloga americana Patricia Greenfield, da universidade da Califórnia, que analisa 52 estudos sobre o aumento do uso da internet, do videogame e da TV. Patrícia, pesquisadora da área há 15 anos, conclui que as novas mídias trouxeram um desenvolvimento sofisticado de habilidades visuais-espaciais. Mas, ao mesmo tempo, reduziram a capacidade de lidarmos com vocabulário abstrato, reflexão, pensamento crítico e imaginação. Nas pesquisas, jogadores de videogame e internautas mostraram mais habilidade para lidar com várias tarefas ao mesmo tempo. Só que essas tarefas, alerta a autora, eram sempre executadas de maneira menos eficiente do que se fossem feitas separadamente.

"Enquanto encorajar a multitarefa, a internet estará nos deixando menos inteligentes", afirma. A forma de contra-atacar essa superficialidade seria passar mais tempo lendo livros e revistas, aconselha Patrícia, que tem dois filhos e sugere aos pais administrar uma "dieta" balanceada dessas novas mídias para as suas crianças.

Revista Galileu, agosto/2010

Um comentário:

  1. Oi Claudii, estou viva. Há tempos não entro em seu blog, mas também há tempos não escrevo no meu e isto é pq minha mãe não gosta de me ver no computador e para minimizar as coisas eu me afastei de tudo e agora lentamente estou readquirindo a vontade de ler, mas não de escrever, ainda.
    Quanto à internet na vida do ser humano eu considero muito boa e proveitosa, sabendo usá-la. Há momento para tudo, inclusive consultar um livro ou acomodar-se num canto gostoso com uma boa leitura. Minha filha aceita esta minha posição, mas meu filho não. Agora que ele é formado (?) no ens.médio através do empurrão ele vem notando o quanto não sabe. Ainda dá para correr atrás do prejuízo. O filho que sabe dosar tira proveitos do livro e da internet. Muita luz e paz. Margaret

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