quarta-feira, 13 de outubro de 2010
A Internet está deixando você burro? (7)
"Ligo o computador, vou direto à internet e abro umas cinco janelas. Enquanto isso já vou colocando uma senha atrás da outra, abro mais abas, ligo o MSN, resolvo postar algo novo no meu blog. É sempre assim. Não consigo fazer uma coisa só, abrir uma única página e ficar lendo com calma", afirma a professora de francês Eleonora Ribeiro, de 25 anos. Recém-formada em Letras. Eleonora cultiva, além da intensa atividade digital, um grande hábito de leitura em papel. Quando lê livros, no entanto, a professora diz que nada tira a sua atenção. "Aí eu não disperso".
Ainda não, mas pode começar em breve. Estudos recentes mostram indícios de que pessoas excessivamente multitarefa na internet podem levar essa desatenção para atividades offline. Um desses estudos foi feito pelo pequisador Eyal Ophir, na Universidade de Stanford, publicado em 2009 no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences. Nos experimentos foram separados grupos de voluntários entre "muito multitarefa" (que relataram fazer inúmeras atividades ao mesmo tempo) e "pouco multitarefa". Ambos participaram de um teste em que eram mostradas rapidamente imagens com retângulos vermelhos e azuis. Logo depois, uma imagem semelhante aparecia na tela do computador e os voluntários tinham de responder se os retângulos vermelhos haviam se movido. Os "mais multitarefa" se saíram siginificativamente pior. Eles tiveram mais dificuldade em filtrar informações irrelevantes (os retângulos azuis) e ficaram mais suscetíveis a guardar estímulos sem importância na memória. Mais ou menos o que aconece todos os dias conosco ao nos conectarmos na rede, quando muitas vezes deixamos de lado atividades essenciais para nos distraíros com a janelinha do MSN piscando. "Nós podemos estar nos tornando meros decodificadores de informação, sem capacidade para decidir o que é de fato importante", diz Carr.
Essa também é uma preocupação do psicólogo Ciristiano Nabuco de Abreu, que coordena o Centro de Estudos de Dependência de Internet, no Hospital das Clínicas, em São Paulo. "Os jovens que usam muto a web têm uma rapidez muito maior, só que isso não quer dizer que eles tenham habilidades mais profundas. Conseguem fazer várias tarefas ao mesmo tempo, mas a gente entende que essas característias acabam ficando mais rasas", afirma Nabuco que lida há mais de quatro anos com distúrbios de comportamento ligados à web.
Revista Galileu, agosto/2010
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