segunda-feira, 26 de setembro de 2011

No reino de Shambhala, a terceirização da felicidade


Diz o pai da noiva: - Faça minha filha feliz ou vai se ver comigo!

Pouco provável que a partir daí comece a felicidade da moça, mas certamente começou a infelicidade do moço. Não terá direito de errar

Se a recomendação é necessária, porque diabos estão se metendo nesse negócio chamado casamento?

Quais as expectativas da princesa e de sua família? O que esperam que o príncipe faça para tornar encantado o reino em que viverá sua, até então, donzela?

Feliz talvez seja o criador de cavalos brancos, afinal todo príncipe precisará de um para conquistar sua pretendida. Este sim, garantindo a produção, terá motivos de festas.

Que chances terá o encantado, se o cavalo for de outra cor?

Que fim terá o cavalo? Afinal depois do casamento não se vê mais o monarca desfilando com seu corcel.

Ah, desgostosa vida! Que amargura, se esse sonho não se realizar!

Serve o jardineiro, o construtor, o dono do botequim, o ferreiro, o armador, o viajante? Claro que não, estes não têm o charme principesco, que transforma qualquer rosto no sonho a realizar. Sonho que conduz à felicidade eterna, como se fossem viver no reino de Shambhala.

Shambhala  em sânscrito é  um lugar de paz, felicidade, tranquilidade. A crença é que seus habitantes são iluminados.

Diz a tradição que  quando o bem desaparecer da  Terra, o 25º rei de Shambhala aparecerá para combater o mal e uma nova idade do ouro surgirá.

Talvez o casal não seja tão afortunado e não possua tantas riquezas, mas com um bom salário costumam ir com frequência ao  mesmo  restaurante. Um deles, sempre é o que escolhe os pratos, mas um dia não sente motivação para isso e pede ao seu par que o faça. Pronto, acabou a felicidade. Terá que explicar durante horas o motivo da recusa.

A prima, leitora voraz,  volta para casa toda semana com um livro embaixo do braço. Mostra ao esposo, fala sobre o assunto, aplica cores vivas nos acontecimentos, mas não consegue sua cumplicidade. Uma dia, sem razão que a motivasse, larga  um livro na cabeceira. Este, ao vê-lo, pergunta: -Novo?

Esta, cansada, responde automaticamente:- Sim!

Pronto, fim da felicidade, afinal como pode ela esconder algo tão importante. Será que ela não sabe que ele gosta de saber tudo que se passa na vida do casal?

Talvez ela não o ame mais!

Sua irmã vai às compras, chega em casa e larga as sacolas sobre a cama. Espera que o marido, curioso, abra as sacolas, quem sabe dê até uma broncas pelos gastos. Este ao chegar, imagina que antes de se deitarem olharão os pacotes e terá surpresas agradáveis, pois ali deve ter presentes para todos, eles e os filhos.

Fim da felicidade. Como pode ele ser tão desisteressado. A explicação só pode ser uma : está de caso com alguém e a família não importa mais!

Aninha e  Perla, amigas inseparáveis, sempre trocaram confidências. Estudam na mesma classe e praticamente não tem segredos. Um dia Aninha faltou e no dia seguinte ficou sabendo que a professora de matemática divulgou as notas. Correu para o quadro ver sua pontuação. Super! Tirara 9,5, quase a nota máxima!

E Perla? Nota 10 e sequer telefonou para dizer?

Fim da felicidade!

É o amigo que nos magoa porque não nos convidou para o churrasco, futebol ou para uma vaga de estágio. O irmão que vai ao cinema e não nos chama.

A mãe que saiu cedo e não levou o café na cama para o rebento. O companheiro ou companheira que não fica no sofá assistindo televisão enquanto o outro dorme ao lado.

E assim seguem as histórias da felicidade delegada, como se um contrato existisse, obrigando as pessoas à certos ritos, cujas inobservâncias provocarão desconforto a amados assumidos.

Em letras garrafais, diz o  contrato no ítem “Terceirização da Felicidade” : Você é responsável pela felicidade de quem conquista!

Agora entendi porque caiu a demanda por cavalos brancos e principes cavaleiros!

Autor: Ivan Postigo

Publicado em: 16/09/2011, no site: www.qualidadebrasil.com.br

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