A vida não é justa, mas é boa. Tenho repetido isso com frequência para meus alunos, amigos, familiares e conhecidos na esperança de conseguir amenizar um pouco o peso das adversidades que aparecem quase todos os dias na minha vida embora não seja privilégio meu.
Reconheço que existem pessoas ou famílias inteiras em situações de extrema penúria e isso, de certa forma, castiga a minha consciência com o mesmo fio incisivo da navalha. Serve-me até de consolo na tentativa de buscar a resposta para uma questão intrigante: por que é que a gente reclama tanto?
O maior problema do ser humano é buscar as razões da felicidade onde elas geralmente não estão. As comparações são inevitáveis, mas na prática servem apenas para reduzir a sua autoestima. Na maioria das vezes, as comparações são feitas com pesos e medidas diferentes e a frustração torna-se inevitável.
Por que será que quando você abre as revistas de celebridades ou de negócios, tem a impressão de que todo mundo está bem, menos você? Porque as revistas em geral são produzidas para mostrar o que há de bom (?) nos negócios e na sociedade. Se o seu maior objetivo é vender, por que mostrariam pessoas ou negócios malsucedidos?
Qualquer tipo de comparação é inútil, mas a mente humana é um museu de verdades contraditórias. O ser humano pode ter tudo à disposição e ao mesmo tempo não ter nada. Quem não sabe valorizar as pequenas conquistas não consegue valorizar as grandes.
Embora minha intenção aqui não seja levantar um caminhão de coisas negativas, tente fazer um inventário de situações difíceis que você já vivenciou ou testemunhou no seu círculo de relacionamentos. Avalie quantas vezes você já deu a volta por cima. E os seus amigos, ainda continuam no mesmo estado? Talvez alguns estejam em melhor situação, outros não.
Quando fazemos um inventário de realizações, a perspectiva muda. As coisas parecem melhor, pois chegamos até aqui passando por inúmeros obstáculos, muitos quais nem sabemos direito como fomos capazes de superar. Quando não existe consciência das pequenas conquistas, a consciência nos trai.
Em qualquer estágio da vida, todos já realizaram muito, dentro daquilo que a sua cultura e a sua própria história pessoal permitiram. Eu e você andamos por caminhos diferentes. Se isso não estiver claro, as comparações virão à tona e o sofrimento também.
Se dependesse de nós, o mundo não seria muito diferente? Os políticos seriam mais honestos, as pessoas mais compreensivas, os filhos menos rebeldes, os vizinhos mais amáveis e o ambiente de trabalho mais saudável. Mas a realidade é o que ela é e não o que você gostaria que fosse.
Por muito tempo eu cultivei o hábito terrível de ficar me comparando com pessoas bem mais sucedidas do que eu para tentar entender onde foi que eu errei. Na medida em que comecei a conviver com algumas delas, passei a entender que os valores da conta bancária são muito diferentes, mas os dilemas não. Para alguns dilemas nem o dinheiro resolve, portanto, onde foi que eu errei?
Talvez seja esse o maior dilema: será que nós erramos? Você continua pensando que poderia estar bem melhor? Por que isso ainda não aconteceu? Por que pensamos sempre que os outros estão bem melhor? Por que nossas dúvidas são tão traidoras?
Por várias razões: quando você atinge o estágio desejado, surge outra necessidade ainda maior; você faz comparações inúteis; reclama por bobagens; não valoriza os pequenos e bons momentos de felicidade; busca a satisfação pessoal no acúmulo de bens materiais.
A vida não é justa. Se fosse justa não haveria tanta injustiça no mundo e você poderia estar bem melhor. Mas é boa, afinal, quando você olha para trás e toma consciência de quanto já evoluiu, as injustiças tornam-se mais digeríveis e as perspectivas melhoram.
De um tempo para cá, em vez de me comparar o tempo todo e reclamar das coisas que eu não posso mudar, adotei a opção de ser feliz. Dá menos trabalho e mais prazer. Quanto às adversidades, continuo tirando de letra, pois como diria Nietzsche, “o que não me destrói, me fortalece”.
Pense nisso e seja feliz!
Autor: Jerônimo Mendes
Publicado em: 05/09/2011, no site: www.qualidadebrasil.com.br
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