segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sabe onde fica o seu nariz? (1/2)


A imagem mental que temos de nossos próprios membros é distorcida
© boris zatserkovnyy/ istockphoto

“Feche os olhos e leve seu dedo indicador direito até a ponta do nariz”. Alguns motoristas já escutaram essa orientação por parte de um policial ao passarem por esse teste de coordenação motora durante uma blitz de trânsito. O objetivo, nesses casos, é verificar indícios de embriaguez. Encontrar a ponta do próprio nariz com o dedo numa única tentativa parece uma tarefa bastante simples, mas os neurocientistas Matthew Longo e Patrick Haggard, da University College Londres, na Inglaterra, descobriram que na verdade isso não é tão fácil– nem mesmo para uma pessoa que não tenha ingerido álcool. Ao que tudo indica, até quando estamos sóbrios percebemos nossos próprios membros de forma distorcida. Alguns sensores espaciais espalhados por nosso corpo informam o cérebro sobre a posição das articulações, mas não sobre a composição exata dessas partes. Assim, não conseguimos saber com precisão onde está a ponta do nariz.


Para chegar a essa conclusão os pesquisadores elaboraram um experimento no qual pediram a 18 voluntários que colocassem a mão esquerda sob um anteparo que impedia sua visão. Em seguida, os participantes do estudo deveriam tentar marcar as pontas dos dedos e os ossos da base da mão escondida com uma caneta. As tentativas foram gravadas e os resultados mostraram que quase todos os dedos, com exceção do polegar, “encolheram” na avaliação subjetiva dos voluntários, enquanto a distância entre os ossos da base da mão “aumentou”. As distorções percebidas eram surpreendentemente semelhantes ao modelo do homúnculo – representação neural na qual o tamanho de uma parte do corpo corresponde à circunferência da região cerebral responsável por ela (veja imagem na próxima pág.). Então, se funcionamos desta maneira, como conseguimos nos locomover sem problemas? Uma explicação possível: o cérebro não confia apenas no modelo interno, mas utiliza informações visuais e de movimento para corrigi-lo a cada momento. Agora resta esclarecer se essas distorções afetam apenas alguns membros ou o corpo inteiro.
Da revista Mente & Cérebro n° 217, fevereiro/2011

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