quinta-feira, 1 de julho de 2010

Brasileiro é um tipo engraçado.

Brasileiro é um tipo engraçado.

Preocupa-se com cada um dos 23 jogadores que vai à copa e uns outros 500 que não foram convocados. Mas não questiona a escalação dos nossos ministros, presidentes de CPI e que tais. Aliás, o brasileiro não quer saber nem quem é o síndico do prédio.

Brasileiro é um tipo engraçado. Reclama de cada atitude do técnico da seleção, de cada erro de português que ele comete, de cada peça de roupa que ele usa. Fala mal quando ele é bonzinho, quando é grosseiro, quando é sem sal e quando é soberbo.

Brasileiro é um tipo engraçado. Fica louco para saber como o jogador emprega seu dinheiro, pago pela iniciativa privada mas não faz ideia do caminho que segue o imposto, que lhe é tirado à força.

Brasileiro é um tipo engraçado. Apesar de todos os percalços no trabalho, só procura o chefe pra perguntar a que horas será dispensado no dia do jogo: “"E depois, tem que voltar?".

Brasileiro é um tipo engraçado, mas tem todo o direito aos sete feriados na Copa. Afinal, brasileiro ganha mal. O salário não paga o brinquedo do filho, a mistura pro jantar. Em um esforço sobre-humano dá pra comprar camisa, bola, corneta, cerveja, rojão, bombinha, carvão, cerveja, carne, televisão gigante, televisão portátil, cerveja. O único problema é ter que ligar rapidinho antes que o crédito acabe e pedir pro amigo não esquecer de trazer... mais cerveja.

Aliás, falando em compras, reparou que foi só mudar o nome da corneta pra todo mundo sair achando que é novidade, pra virar febre e vender muito. E justo aqui, que ninguém nunca tem dinheiro para nada. (Nada?). Bom, emprego também não falta. Em tempos de Copa, o Centro de Apoio ao Trabalhador fica completamente vazio.

Os locutores e comentaristas brasileiros. Estes são terrivelmente engraçados. Maltratam o português, fazem observações redundantes. Vão de ufanistas a pessimistas dependendo da curva da bola. Isso irrita tanto o brasileiro que ele, em um momento raríssimo resolve se mobilizar. Usa toda sua criatividade e faz campanha mundial na internet. Com uma das mãos no computador manda os sujeitos todos se calarem. Com a outra, a do controle remoto, pedem para esses mesmos caras falarem um pouco mais alto, já que o sobrinho cometeu o sacrilégio de fazer um pouco mais de barulho no momento mais tenso do jogo mais importante da história do país do futebol.

Termina o jogo. Brasileiro bebeu porque “estávamos” perdendo , bebeu porque “empatamos” e bebeu porque “viramos” o jogo. Sim, tudo na primeira do plural, afinal é nossa vida que está em jogo. Ele sai na rua gritando e buzinando feito um louco. Mas basta tomar uma fechada pra amarelinha rasgar de ponta a ponta e o verde do incrível Hulk tomar o controle.

Dobra a esquina e dá de cara com uma batida policial. “"Pô, esses caras não tem o que fazer? Justo em dia de jogo do Brasil! Tanto bandido solto por aí!". Pois é... ele briga, xinga, perturba a paz dos vizinhos, usa explosivos vendidos ilegalmente, veste camisa pirata, vê o jogo pelo gato na TV a cabo, faz barbaridades no trânsito, dirige embriagado. Que injusta essa tal de polícia, que não perde a mania de trabalhar no sagrado dia de jogo.


Fui “inspirado" a escrever este primeiro post depois de ser acordado por cornetas às 7 da manhã em um dia que eu poderia levantar às nove. Uma manhãzinha fria e gostosa, com aquela neblina que mal enxergo a grade da sacada. Não citei nomes apenas por um motivo: quero reaproveitar o texto na copa que vem.

Texto de Andre Baptista

Do blog: http://blogandrebaptista.blogspot.com

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