terça-feira, 6 de julho de 2010

Encantos da Música IV

por KAREN SCHROCK
© MORGAN LANE PHOTOGRAPHY/SHUTTERSTOCK

[continuação]

A língua musical também pode transcender barreiras de comunicação mais fundamentais. Em estudos conduzidos na última década, a psicóloga cognitiva Pam Heaton, da Universidade de Londres, no Reino Unido, tocou musicas para crianças autistas e não autistas, comparando aquelas com habilidades linguísticas semelhantes. Os pesquisadores que participavam da equipe coordenada por Heaton pediram às crianças para fazer associações entre música e emoções. Nos estudos iniciais, as crianças deveriam simplesmente escolher entre alegre e triste. Em estudos posteriores foi introduzida uma gama de emoções complexas, como triunfo, contentamento e raiva. Os cientistas descobriram então que a capacidade das crianças de identificar esses sentimentos independia de seu diagnóstico. Autistas ou não, com habilidades lingüísticas semelhantes, foram igualmente bem, indicando que a música pode conduzir consistentemente sentimentos, até mesmo em pessoas com a habilidade severamente comprometida para lidar com pistas socioemocionais, como expressões faciais, por exemplo.

Recentemente, em um experimento bastante interessante, o pesquisador Roberto Bresin e seus colegas, do Instituto Real de Tecnologia, em Estocolmo, na Suécia, confirmaram a ideia de que a música é uma linguagem universal. Em vez de pedir aos voluntários para fazer julgamentos subjetivos sobre uma canção, solicitaram que manipulassem a música – em particular seu tempo, volume e frases – para enfatizar uma dada emoção. Para as peças alegres, por exemplo, o participante deveria ajustar a escala, de forma que soasse o mais feliz possível; depois, o mais triste, assustadora, tranquilizadora e por fim, neutra. Os cientistas descobriram que todos os voluntários – especialistas em música e, em outro estudo similar, crianças de 7 anos – alteravam da mesma forma o tempo, para arrancar de cada música a emoção pretendida. Essa descoberta, que Bresin apresentou em 2008 na III Conferência de Neuromúsica em Montreal, no Canadá, dá a ideia de que a música contém informações que deflagram resposta emocional específica no cérebro, independentemente da personalidade, gosto ou treinamento. Ou seja: a música pode de fato constituir uma forma única de comunicação.

Do site: www.mentecerebro.com.br

Revista Mente & Cérebro n° 209, de junho/2010

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