terça-feira, 27 de julho de 2010
Em busca da causa das doenças mentais III
[continuação]
por Steve Ayan
M&C - Tudo isso soa como se a química cerebral, o ambiente e o comportamento estivessem entrelaçados demais para que pudéssemos separá-los. É isso mesmo?
S.B. - Bem, ninguém nunca afirmou que isso seria fácil. Mas hoje dispomos de métodos melhores para desvendar os caminhos dos sinais que podem determinar uma doença: da mutação e da leitura da informação genética, passando pelas proteínas resultantes desses processos até a atividade enzimática ou metabólica “patológica” que elas podem causar. Por isso acompanhamos no laboratório vários caminhos ao mesmo tempo. Começamos analisando o tecido cerebral de várias centenas de pacientes falecidos. Nesse caso, não se tratava de um gene ou proteína determinados, mas de perfis globais. Nos exames, registramos as diferenças entre os cérebros de pessoas doentes e saudáveis do grupo-controle. Assim, descobrimos que as mitocôndrias, as usinas produtoras de energia das células neurais, estavam claramente alteradas nos primeiros. Além disso, tanto nos esquizofrênicos quanto em doentes bipolares, a mielinização dos neurônios estava alterada. A mielina forma o isolamento dos axônios que transmitem os sinais nervosos. Essa foi a primeira prova de semelhanças entre os dois transtornos em nível celular.
M&C - Isso se refere à origem dos distúrbios ou apenas às suas consequências comuns?
S.B. - É difícil saber. Por isso é tão urgente esclarecer os mecanismos com exatidão. Se conseguirmos isso, poderemos um dia prevenir doenças possíveis em vez de simplesmente reagirmos terapeuticamente. Essa ideia me fascina.
M&C - E como a senhora age na prática?S.B. - Uma parte de nosso trabalho consiste em procurar relações estatísticas em quantidades gigantescas de dados, correlações entre sintomas de doenças e marcadores moleculares. Nós processamos aproximadamente 20 terabytes de dados por ano. As bases para tanto são amostras de pacientes de diversas idades, principalmente de sangue e líquido cerebrospinal, mas também tecido nervoso de mortos. Junto com Markus Leweke, no Hospital Universitário de Colônia, descobrimos que no líquido cerebrospinal de pacientes esquizofrênicos há baixa quantidade de glicose, lactato e outras substâncias que fazem parte do metabolismo.
Do site:www.mentecerebro.com.br
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário